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11 março 2024

96 Oscars... "Cala-te Mário Augusto!"

Este ano não tenho foto. Apesar de haver vestidos exóticos ou chamativos na Passadeira Vermelha, nenhum me cativou por aí além. Menção honrosa para Carey Mulligan e Anya Taylor-Joy, pelos vestidos clássicos "diorescos" (o da Anya era mesmo Dior, o da Carey não sei.

Este ano, para variar, vi 4 dos filmes nomeados, o que é uma grande diferença para anos anteriores em que, em média, não tinha visto nenhum. Esses filmes foram, por ordem de visionamento, Barbie, Napoleon, The Boy and the Heron e Poor Things. Pelo que estava com boas expectativas para a cerimónia. 

O problema está nas TVs portuguesas, que é rara a vez em que não tem uns idiotas a fazer comentários desajustados em cima da cerimónia. A excepção vai para a SIC, que colocou os idiotas no canal generalista, enquanto transmitia em simultâneo a cerimónia na SIC Caras, limpa de idiotices. Foram as únicas vezes em que fomos poupados! Nessa época pudemos inclusive ver os Golden Globes, que infelizmente não regressaram aos canais nacionais. 

Mário Augusto prometeu não falar em cima da cerimónia e não cumpriu! Para variar, continua a falar um inglês deplorável, continua a não saber a nomenclatura correcta das diversas funções no cinema em português e demonstrou mais uma vez a sua ignorância em relação a todo o cinema que foge um bocadinho ao mainstream e uma aberrante falta de respeito pelos nomeados/premiados: 

  • menosprezou Godzilla Minus One e o seu prémio pelos melhores efeitos especiais, falando por cima dos discursos de aceitação e ainda por cima reduzindo o filme a não merecedor (todos sabemos que a ficção científica não é cinema a sério, né?);
  • falou por cima da canção Whazhazhe, de Killers of the Flower Moon (racista!)
  • chamou "edição" à montagem e "editora" à montadora Jennifer Lame, de Oppenheimer, para além de falar por cima do discurso dela;
  • mandou uma série de bitaites desinteressantes por cima da canção vencedora inteirinha, What was I Made For?, de Billy Eilish e Finneas O'Connell;
  • não se calou nos discursos de Melhor Filme, principalmente o de Emma Thomas, a produtora (misógino!);
  • não deixou ouvir muitos outros discursos vencedores, principalmente nos filmes ou categorias que não entram no seu gosto pessoal, básico e extremamente limitado. Ah! E claramente não viu quase nenhum dos filmes. 
Tenho a certeza que a lista de ofensas continua, mas preferi não apontar. No 'drinking game' virtual que fiz no feicebuque, bebi 14 martinis 🍸, acho que isto é dizer muito! Mais valia, RTP,  não porem lá ninguém! 

Isto tornou uma das melhores cerimónias dos Oscars dos ultimos anos no programa mais irritante possível! Se eu o apanhasse à minha frente, dava-lhe um chapadão na cara!  CALA-TE!

Pequena nota positiva para o discurso atrapalhado mas emocional de Emma Stone, o prémio para o qual eu estava a torcer mais, incluindo o fecho do vestido a rebentar na cintura. Outra para o número da canção I'm Just Ken, directamente inspirado no segmento Diamonds Are a Girl's Best Friends, de Some Like it Hot (com Marilyn Monroe), que incluiu os Kens, incluindo o Doctor Ncuti Gatwa, John Cena a apresentar o Oscar para melhor Guarda Roupa apenas com o envelope e depois um lençol e, por fim, o único discurso que mencionou a guerra na Palestina, apesar dos pins de cessar-fogo, de Jonathan Glazer, realizador de The Zone of Interest (Melhor Filme Internacional) ao comparar o seu filme à situação na Faixa de Gaza.

E este ano um dos filmes vencedores, The Boy and the Heron, Melhor Longa de Animação, foi traduzido por mim, para português! Já posso pôr no currículo! 

18 fevereiro 2024

Inglesa Falsificada

Nunca liguei muito aos filmes da Bridget Jones, tanto que na altura não os vi no cinema, só os vi depois, num "sábado à tarde de ressaca", 1na TV. São engraçadinhos, mas, fora o Colin Firth a fazer um spoof do seu mítico Mr. Darcy, são filmes para ver uma vez e pronto.

Mas não é disso que quero falar aqui. Este mês, por causa do dia de São Valentim, o agora STAR Life anda a passar uma série de filmes de cordel, que se tornaram numa boa maneira de eu adormecer... durante o dia às vezes tenho deixado a TV ligada no canal como ruído de fundo, enquanto faço outras coisas, pois não exigem a minha atenção.  Os filmes de Bridget Jones (os dois) fazem parte da ementa deste ano, pelo que os tenho "ouvido". Não vou mencionar como os filmes envelheceram mal, envelheceram!, mas de uma coisa que me irrita bastante: a inglesa falsificada de Renée Zellweger.

À semelhança dos filmes, Renée Zellweger nunca me impressionou grande coisa como actriz, mas também a maioria dos filmes que fez não são propriamente a minha praia. Em Bridget Jones, pode ter a carinha laroca, é engraçada e um desempenho razoável, mas o sotaque britânico mais que forçado estraga tudo. Lembra os brasileiros quando querem fazer sotaque de Portugal, que incluem uma série de maneirismos, como "pois, pois" e basicamente estragam tudo. Zellweger faz uma espécie de sotaque Britânico médio que não existe, que a faz soar super forçada. 

Renée Zellweger não consegue fazer um sotaque britânico convincente, não para mim. Para além disso, está sempre a sussurrar e articula imenso cada palavra, o que acrescenta à irritação do seu sotaque falsificado. Acho tão estranho numa produção com dinheiro, com um bom elenco de actores britânicos, não tenha havido alguém para lhe ensinar um sotaque britânico como deve ser, fosse um Cockney londrino cerrado ou um Queen's English, qualquer um seria melhor que aquele pastiche. Será que os britânicos foram convencidos? Só me lembro de se falar de ser uma actriz americana a fazer a muito British Bridget, mas não me lembro de comentários acerca do sotaque. Lendo a Wikipedia, percebo que os americanos até ficaram convencidos, foi nomeada para Melhor Actriz nos Oscars, mas devo ter um ouvido demasiado apurado, que a mim não me convence.

Fora ser uma comédia romântica, um género sempre popular, continuo sem perceber o hype à volta de Bridget Jones. Pretty Woman, que também passa regularmente no STAR Life, sobreviveu muito melhor à passagem do tempo. Talvez porque se foque em arquétipos em vez de piadas secas e uma narrativa básica, como Bridget Jones. Não sendo fã nem de uma, nem da outra, Julia Roberts também é muito melhor actriz e arrasa em Pretty Woman.

Bridget Jones Diary

14 janeiro 2024

*mar de visco maléfico

No episódio Matter of Balance, de Space: 1999, Maya explica a Koenig as figuras que filmou na estrutura do planeta Sunim como vindas de um mar de visco maléfico. Seria realmente maléfico se não fosse um sea of primeval slime, portanto, um mar de visco primordial.

É caso para dizer que um reforço no inglês de quem traduziu este episódio é primordial!

primeval

primordial

maléfico

New York, New York!

Apesar de ser fã incondicional do seu trabalho, só soube quem foi Roy Halston quando, por volta da altura da sua morte, comecei a entrar no mundo de Andy Warhol e da sua Factory. Percebi que Halston fazia parte do grupo do Studio 54 (ai, quem me dera ter sido uma mosquinha e estar no Studio 54 enquanto aquilo bombava!), portanto, festas, glamour, e muitas drogas recreativas. Foi também nessa altura que comecei a perceber que estava ali uma pessoa com uma história que tinha pano para mangas.

Halston, a curta série da Netflix, conseguiu preencher bem esse contar da historia da personagem Halston. Naturalmente, como todas as séries ou filmes biográficos, nem sempre se dedicam a contar os factos reais,  mas frequentemente tomam atalhos ou reinventam acontecimentos, de modo a melhor encaixar numa narrativa coesa. Quando isso é bem feito, uma pessoa até pode sentir alguma curiosidade em saber os factos reais, mas não sente falta de o saber para melhor disfrutar desse episódio ou filme.

Nisto a série Halston acerta na mouche e quero lá saber dos factos reais! O que vi no ecrã é dinâmico, verosímil, empolgante, visualmente interessante e muito bem acompanhado por uma selecção musical. 

A recriação dos espaços, principalmente o "atelier" de Halston, com as janelas panorâmicas, mobília minimalista e alcatifa vermelha, ou o seu apartamento, também minimalista, mas em branco e preto, com cortinas do tecto de pé direito duplo até ao chão, são impressionantes e um espanto. Tanto quanto dá para perceber pelos registos existentes, também estão impecavelmente reproduzidos.

O mesmo posso dizer dos figurinos de Halston, os vestidos de seda esvoaçantes, em viés, as sua marca registada e o que realmente o fez um génio do design de moda,  não o "ultrasuede", que sendo vanguardista, foi a base para financiar a criatividade livre desses vestidos drapeados. Li no imdb que a figurinista da série se esforçou para fazer réplicas fidedignas, mesmo que por vezes, por questões técnicas, tivesse de fazer alguns desvios criativos. Excelente trabalho! Recriar figurinos de épocas mais recentes, que ainda estão na memória colectiva e facilmente podem ser acedidos em museus ou registos fotográficos, às vezes é o mais difícil, pois a margem de erro e criatividade é bem mais limitada. O desafio é ainda maior quando o que se está a recriar foi concebido por um génio único.

O mesmo tipo de abordagem foi feito no modo como foi contada a história de Halston. Os flashbacks à infância foram mantidos num mínimo, uma espécie de memória onírica, um Rosebud wellesiano, com um grande foco em mostrar o estilo de vida único daquelas pessoas, fora do alcance do comum mortal. Mesmo antes de fazer fortuna, Halston comportava-se como um milionário e fê-lo até morrer. Aliás, essa riqueza aparente é um dos pontos-chave desta história, já que no fim da vida vendeu o seu nome para poder manter o estilo de vida.

Estilo de vida que passou de um pudor para com as drogas, para um consumo desbragado de coca, orgias de sexo e festas atrás de festas, incluindo ser cliente habitual do Studio 54. Falando em Studio 54 e em recriações, depois de ver alguns documentários acerca da discoteca, fotografias das festas e afins e ler sobre esse breve local cintilante de Nova Iorque, mesmo no limite do início da decadência da vida mais-que-boémia daquela cidade, a recriação do ambiente, mostrando personagens notórias que o feequentaram regularmente, Warhol, Divine, Bianca Jagger montada no cavalo branco na festa do seu aniversário, o sexo sem pudor na varanda, a nudez, o suor, a música, foram a melhor recriação que já vi de um lugar onde gostaria de ter estado pelo menos uma vez, por uns minutos que fosse. A isso tenho de agradecer aos criadores da série, pois consegui sentir-me lá dentro por uns segundos. A propósito, o actor que faz de Steve Rubell, um dos sócios da discoteca, estava igualzinho, incluindo a diferença de altura em relação a Halston. Rubell um judeu baixinho, Halston um homem alto. A atenção ao pormenor é impecável em todos os aspectos.

Também gosto do modo como o guarda-roupa de Halston acompanha dramaticamente a personagem, sempre impecavelmente vestido e sempre com as suas gabardinas com grandes golas levantadas, começa vestido de roupa mais ou menos banal, colorida, a gabardina em pele castanha, passa para o preto da cabeça aos pés, golas altas, óculos escuros, gabardina preta em pele ou tecido de gabardina, quando Halston se tenta impor no mundo da moda. A gabardina passa a ser ocasionalmente branca, em tecido de gabardina, quando se estabelece, oscilando entre o preto e o branco por um período relativamente longo. A gabardina passa a vermelho no início da decadência e quando fica doente volta ao preto e branco, à gabardina em pele, passando gradualmente para o branco da cabeça aos pés e trocando a gabardina por uma camisola de torcidos (branca) no período da "reforma".

Nem todos os actores são fisicamente muito decalcados dos originais, a começar por Ewan McGregor, mas a caracterização física, o guarda-roupa, maquilhagem e cabelos, determinados pormenores, fazem-nos ser convincentes, e tornam-nos reais.

Como já dei a entender, a mise-en-scéne da série é maravilhosa e mostra muito bem as personalidades e acontecimentos fora do alcance do comum mortal, com muita simetria, movimentos de câmara amplos, filmando Halston com frequência em contrapicado, o que o torna mais alto e trabalha a personagem como se fosse um monumento, um semideus. Mesmo nos momentos mais baixos, de um Halston deprimido, a câmara raramente sobe além do nível do olhar, tratando-o sempre como alguém maior que o mundo.

Mas é o desempenho de Ewan McGregor que arrasa com tudo o resto! Sou fã dele há muito tempo, antes de Trainspotting. Vi-o pela primeira vez na série musical de Dennis Potter, Lipstick on My Collar, e já nessa altura fiquei muito impressionada, e acho que McGregor é um actor muito completo. Todos os desempenhos que vi dele ("Hello there!") nunca decepcionam e mostram o seu registo alargado. Como Halston ele domina completamente a cena, como provavelmente o próprio Halston fazia. Não se consegue desviar os olhos do ecrã. 

Como se não bastasse, a escolha de elenco e os excelentes desempenhos nao se ficam por aqui, destaco Krysta Rodriguez, maravilhosa como Liza Minelli. Além da semelhança física, Rodriguez soube capturar maravilhosamente bem a personalidade e maneirismos de Liza, até a voz está parecida. Rebecca Dayan, como Elsa Pereti, também se destaca no elenco principal e Bill Pullman foi a escolha certa para o empresário David Mahoney. Aliás, não há um único actor que se destaque no mau sentido, não há um unico mau desempenho. Foi divertido ver a personagem (real) de Joel Schumacher aparecer na série. Li algures recentemente, provavelmente quando a série saiu, que tinha sido assistente de Halston. 

Por fim, a banda sonora não desaponta, tratando-se de uma compilação de vários temas musicais, que não se reduz ao contemporâneo da época ou ao disco, misturando temas mais modernos para um efeito dramático que funciona mesmo bem.

Na recriação impecável dos anos 60 a 80, daquela faixa social muito específica, de uma Nova Iorque em ebulição, com desempenhos poderosos, uma realização firme e emocionante, uma produção coesa e equilibrada, Halston é das melhores séries modernas que já vi. Uma surpresa muito boa, pois apenas me interessei pela série porque o tema me interessa e pela curiosidade em ver Ewan McGregor a interpretar uma personagem tão diferente.

Halston

06 janeiro 2024

O Animal é o Maior!

 

Desde que vi Os Marretas pela primeira vez, nos idos anos 70, que o Animal é a minha personagem preferida. Lembro-me de, na minha primeira viagem a Londres, ficar louca com a secção de brinquedos do Selfridge's (já não tem) e de trazer de lá alguns Marretas nuns kits em tecido tipo feltro para montar. Lembro-me de ter o Kermit, a Piggy, o Rowlf (eu e os músicos) e o Animal. Sempre adorei bateristas, e o Animal é o maior. Adoro como ele está sempre na dele e da sua honestidade selvagem, sem filtros. Sou tão fã que a mala que mais tenho usado no dia-a-dia tem o Animal estampado. 

Quando foi anunciada a série da Disney+ dedicada à banda Dr. Teeth & The Electric Mayhem, é claro que fiquei entusiasmada. Mas a dificuldade em por-me a ver séries no PC fez com que adiasse ver a série e a tenha visto com algumas, poucas, interrupções. Isso está a mudar, e conto continuar a ver séries alternadamente entre o que passa na TV e o que arranjo para ver no PC.

A série é curtinha e tem uma permissa simples: Norah, que trabalha numa editora decadente, Wax Town Records, compromete-se a fazer cumprir um contrato há muito firmado com os Electric Mayhem para gravarem um álbum, de modo a salvar o seu emprego e a editora. Todas as personagens, excepto os Electric Mayhem, Penny Waxman (a dona da editora) e os respectivos parentes, são interpretadas por pessoas, o que lhes dá aquele ambiente clássico do The Muppet Show, mas de modo mais ou menos invertido, onde os Muppets são a excepção. Norah é certinha e organizada e tem dificuldade em lidar com o caos que são os Mayhem. Como apoiantes tem a irmã Hannah e o groupie e técnico da banda, Moog. O antagonista é o yuppie ex-namorado de Norah, JJ, que quer comprar a editora por tostões, portanto boicota constantemente os esforços de Norah. 

Em cada episódio vemos Norah a enfrentar algum obstáculo que impede a concretização da gravação do álbum e um concerto no Hollywood Bowl, a maioria sendo incompatibilidades com a banda. Pelo meio, temos algumas origin stories, nomeadamente de Dr. Teeth ou do Animal, mas que não fazem falta alguma. Os sketches, como o Animal à procura de emprego, o quadro recorrente do Zoot a tirar Polaroids, ou a incompreensão do que Lips diz, são quase todos excelentes e aproveitam bem o star power do Animal, mas a linha condutora da série é fraca e prende muito pouco. Ficam os convidados notórios nalguns episódios, o colorido e exotismo da banda e pouco mais. Norah, Hannah e Moog têm pouca dimensão apesar da história de redenção de Norah, que na realidade a torna numa personagem em geral pouco agradável. O melhor mesmo é a música e a canção do genérico é alegre e muito orelhuda.


Ah sim e, como eu sempre soube, o Animal é um fashion icon! Belas camisas, Animal! 🤟

The Muppets Mayhem

13 agosto 2023

De Regresso a Alpha

Y1 - Guardian of Piri

Há uns meses a SIC Radical (há que tempos que não via a SIC Radical!) repôs o Espaço: 1999 e apesar de ter a série em DVD, de já a ter visto dúzias de vezes, resolvi revê-la pois estou sem leitor de DVD.

Mas a SIC Radical não tem respeito nenhum pela série. Para começar, resolveram adquirir a versão, acho que dos BluRay, com o formato 16:9. Acontece que Space: 1999 foi filmada no formato 3:4 e tirar-lhe duas fatias de imagem, em cima e em baixo, faz com que, por exemplo, parte do título "Space: 1999" fique cortada. Numa série com uma direcção de câmara exemplar (já lá vou), isto é um crime.

Outro "pecado" da SIC Radical, apenas o primeiro episódio foi transmitido na ordem certa, o resto é aleatório e, pior, repetem episódios! É verdade que em Space: 1999 não há grande continuidade, mas o episódio Earthbound (com Christopher Lee) onde o comissário Simmons mói o juízo a toda a Base Lunar Alpha para ser ele o escolhido a regressar à Terra com os Kaldorians, não pode ser transmitido muito depois de Breakaway, por uma questão de lógica. Já revi uns 11 episódios, incluindo o episódio Matter of Life and Death duas vezes, e nada de Earthbound...

Por último há o meu pet peeve de na tradução estarem "as" Águias, em vez de "os" Águias. É um pormenor e a tradução actual está mais correcta em termos da língua portuguesa, mas para quem cresceu a ver a série com a designação "os Águias", faz imensa confusão. 

O lado absolutamente positivo é rever a minha série preferida e mesmo assim reparar em coisas novas, como os magníficos movimentos de câmara. Muito já falei e se fala da qualidade e inovação dos efeitos especiais práticos de Space: 1999, muito já se falou dos cenários espantosos e excelente fotografia, ou mesmo dos argumentos (da primeira temporada) a raiar o terror e com uma carga às vezes muito pesada. Mas é raro falar-se do trabalho e posicionamento de câmara e agora foi a primeira vez que reparei nestes movimentos de câmara subtis mas invulgares, com panorâmicas aliadas a aproximações de câmara, movimentos a acompanhar os actores, que dão um dinamismo visual à série incrível. Seria de esperar, com a austeridade dos cenários e guarda roupa, que a câmara fosse rígida fora das cenas de acção, mas em vez disso temos uma câmara fluída, principalmente quando acompanha os actores em momentos dramáticos. Será a herança de uma direcção de câmara mais vanguardista dos anos 60, mas que realmente enriquece e suaviza a restante austeridade visual. Gostava que houvesse esse tipo de direcção de câmara actualmente, ou que houvesse maior variedade e arrojo na direcção de câmara. Actualmente é tudo muito igual e de modo a não se dar por isso. É uma estética, clássica, mas numa série de ficção científica, por exemplo, há alguma margem para a mise-en-scéne não se ficar pelo básico. Acho que, das séries modernas com algum arrojo visual que vi neste século, só mesmo Legion foi mais além.

Catacombs of the Moon

03 julho 2023

15 Minutos de Fama

Isaac com Andy Warhol e parte da sua entourage

Got picked up at 8:15 to go to The Love Boat. Flubbed my lines on the morning, felt bad about it. Worked all day.

entrada de Segunda-feira, 1 de Abril de 1985, Los Angeles. The Andy Warhol Diaries (1989)

Uma das razões porque quis ver a série completa The Love Boat foi porque, nos anos 90, ao ler The Andy Warhol Diaries, li os comentários dele acerca de ter sido convidado a participar num episódio da série. Calhou ser a 9ª e última temporada, quase parece de propósito para obrigar-me a ver, pelo menos, cada genérico com atenção, para ver quem são os convidados do dia.

O tempo de antena de Andy Warhol no episódio é capaz de nem fazer os 15 minutos da sua frase célebre, que no futuro todos iriam ter pelo menos 15 minutos de fama. No episódio, Warhol pavoneia-se pelo navio, mal dizendo duas palavras de cada vez, tirando polaroids aos passageiros, para escolher uma feliz pessoa contemplada com um retrato seu. À semelhança da sua persona real, Warhol nunca está sozinho, sempre rodeado da sua entourage, consistida pelo seu assistente pessoal e mais umas três ou quatro personagens a emular os seus amigos famosos, como Bianca Jagger ou Halston. Para lhe dar dimensão, acrescentaram uma ligação a uma das passageiras, agora de meia-idade, num casamento conservador, que teria entrado num dos seus art films e não quer que o marido saiba. *spoiler* Apesar de ela achar, para seu alívio, que Warhol não se lembra dela, no fim do episódio ele reconhece-a e é a escolhida para o retrato. *fim de spoiler* Foi divertido, mas no contexto da série estas participações especiais parecem sempre forçadas. Conhecendo os comentários de Warhol acerca da sua participação e a persona que assumia em público, principalmente fora do seu habitat The Factory, a participação parecer forçada fica mais adequada à personagem que o costume.

The Love Boat teve 9 temporadas, o que para a época, é um caso de longevidade. Mas, na temporada 7, com a saída de Julie, o envelhecimento e cansaço geral do elenco e integração de duas personagens novas, Judy, irmã de Julie, também directora do cruzeiro, e Ace, o fotógrafo do navio, foi notória alguma estagnação. Salvou-a os cruzeiros a partes exóticas, sempre pitorescos, que se multiplicaram nas últimas temporadas, e as participações especiais de Betty White e Carol Channing, sempre hilariantes, com os fabulosos figurinos de Carol Channing, por Nolan Miller.

Na nona temporada também resolveram mudar o genérico, com uma nova versão da canção, novos gráficos e novo logótipo. De todas estas alterações a única de que gostei mais do que da versão anterior foi o logótipo. As restantes seguiram as tendências da época, como os chumaços nos ombros, mangas de balão gigantes e fatos de banho cavados nos figurinos femininos. A introdução das Mermaids, um grupo de dançarinas oficiais do navio, trouxe-nos uma Terri Hatcher muito miúda, na sua primeira participação numa série televisiva, mas em ascendência meteórica. Logo a seguir iria participar em MacGyver e o resto é história. 

Nota ao tradutor: esta temporada passa-se em 1985-86, se uma personagem está, num telefone fixo, a negociar a venda de aparelhos de telefone à China, não serão com toda a certeza telemóveis. Se não sabem, PESQUISEM, POR FAVOR!

ADENDA:

No antepenúltimo episódio de The Love Boat, a equipa, noutro navio que não o Pacific Princess, atraca em Lisboa. Apesar de anunciarem Lisboa como uma cidade histórica, um dos dois ou três destaques é o "lago dos cisnes no Campo Grande". Onde foram buscar isto? Nos anos 80, sobretudo em 1986, ano do episódio, o Campo Grande era um local perigoso e não havia cisnes no lago, só patos e gansos. Também só mostram pouco mais de Lisboa que a Torre de Belém ou o Rossio. Não, não mostram o lago do Campo Grande. 

A narrativa que faz a ligação a Lisboa é igualmente despropositada: César Romero e Lorenzo Lamas,  em toda a sua glória latino-americana, fazem de avô e neto, de uma família tradicional de toureiros, os Belmonte. Vá lá que o nome é plausível. E, com isso, basicamente o restante que vemos de Lisboa é a Praça de Touros. O bom é que vê-se a Praça sem a cúpula, que estragou o recinto, sobretudo na acústica. Já a história está pejada de clichés e o apresentador da tourada fala em português do Brasil! Mais valia terem ficado longe da costa portuguesa! 

The Love Boat (Wikipedia)

23 maio 2023

To Sci-fi or Not to Sci-fi

Infelizmente aos soluços, pois não apanhei a série nos dias em que estreou, consegui ver a grande maioria dos episódios de Mission: Impossible. Mas espero ver os que faltam um dia, noutra reposição da RTP Memória

No início, pois na reposição da série nos anos 80 só vi dois ou três episódios, o meu interesse estava sobretudo em Martin Landau e Barbara Bain, o casal maravilha, cujo sucesso em M:I lhes proporcionou os papéis de Commander Koenig e Dr. Helena Russel, em Space: 1999, a série em que os conheci. Mas M:I tem uma característica singular, de os vilões ou convidados do episódio terem mais densidade psicológica que o elenco principal. Isso tornou, para mim, o desempenho de ambos demasiado distanciado e frio, deixando aquém das minhas expectativas. 

Essa ausência de caracterização psicológica dos protagonistas de M:I faz desta série um caso estranho de sucesso. Actualmente, se o espectador não cria empatia com os protagonistas de uma série ou filme, é meio caminho andado para o cancelamento (não é de um cancelamento woke que estou a falar) dessa série. As séries modernas vivem das personagens, por isso temos quase sempre protagonistas de alguma forma peculiares, carismáticos, que mostram tanto as qualidades, como os defeitos. Como não vi episódios suficientes a primeira vez que vi a M:I, tenho dificuldade em compreender a dimensão do sucesso da série, para alémde alguns elementos. 

Mas há elementos que justificam esse sucesso, vou falar deles um a um.

Os gadgets

Os gadgets eram a segunda coisa de que melhor me lembrava de M:I, tenho uma memória clara de máscaras de borracha, disfarces criativos, instrumentos mirabolantes e premonições da vigilância moderna, que provavelmente já existia nalguma forma, mas que não era do domínio público. Os gadgets são definitivamente um dos principais pontos de interesse de Mission: Impossible.

Os planos.

Os planos intrincados para cumprirem a missão e passarem despercebidos são outro dos grandes pontos de interesse de M:I e a característica mais original da série. Infelizmente, a dada altura, as intrigas começam a entrar numa fórmula fixa, retrato da Guerra Fria que se vivia, onde os vilões ou eram de algum país comunista de leste, sem mencionar o "palavrão" "comunista", ou uma ditadura militar na América latina ou Ásia menor. Raramente vemos episódios passados em África e os dos Estados Unidos, apesar de tudo ainda a maioria, tratam sobretudo de máfias criminosas locais ou dramas com heranças familiares.

Os episódios dos países do Leste europeu eram os mais divertidos, pois a sinalética era toda criada de modo que um espectador anglófono médio as compreendesse. Usavam palavras como: "nüklear", "companica de aqua" ou "companica de gaz" e muitos mais. Infelizmente não anotei mais que estes, mas alguém se terá divertido bastante a criar estas nomenklaturas. Os tipos de letra também mudavam, sendo os mais evidentes em países de influência germânica, onde as letras eram frequentemente góticas.

A sequência inicial.

Calculo que, tal como eu, semana a semana, os espectadores dos anos 60 e 70, não perdiam as sequências iniciais, onde Mr. Phelps ouve (ou vê) as instruções das missões, para as ver desfazerem-se em fumo. A grande maioria eram mini gravadores de bobines, guardados em áreas de acesso limitado, como guaritas de obras, caixas de electricidade, porta-luvas de carros, etc. Mas outras eram um bocadinho menos plausíveis, como uma vez que Mr. Phelps vê as instruções nuns binóculos de moedinha de um miradouro. Nas temporadas mais tardias nem sempre os episódios começavam assim, talvez numa tentativa de variar a fórmula, mas confesso que senti a sua falta. Gosto delas.

Curiosamente, para além de Peter Graves, Mr. Phelps, o cabeça da equipa, o actor que entra em mais, senão em todos os episódios, é Greg Morris, como Barney Collier, o mestre dos gadgets e disfarces. Acho curioso pois, nos anos 60 e 70, uma época ainda de grande segregação nos EUA, o segundo principal actor da série é negro e ainda por cima tem uma das personagens mais interessantes. De Mr. Phelps sabemos pouco, apenas que é inteligente e um bom estratega, já Barney é também inteligente e com excelentes conhecimentos de engenharia, tecnologia, mecânica, etc. Todos os outros cumprem papéis mais genéricos, ou são os músculos, como Peter Lupus (Willy Armitage), ou servem para seduzir os alvos das missões. Em aparições bem menores, temos um médico, Sam Elliot (Doug Robert), que tem uma função claramente útil, mas que nem sempre é aproveitada.

Das mulheres, a minha preferida foi Leslie (Ann) Warren (Dana Lambert), apesar de precisar de alguém a ensinar a correr de um modo mais atlético. Mas nada bate os vestidinhos de Barbara Bain, em geral sempre dentro de uma elegância formal anos 60, mas por vezes mais arriscados. Embirrei à brava com Linda Day George, demasiado coisinha, e Lee Merriweather teve um desempenho competente.

Dos homens, desculpa Martin Landau, ninguém passa à frente de Leonard Nimoy! Depois de Space: 1999 me viciar em ficção-científica para todo o sempre, veio Star Trek à televisão portuguesa para me trazer a minha segunda paixoneta cinematográfica/televisiva: Mr. Spock. Mesmo tendo outras paixonetas posteriores, Leonard Nimoy, na pele de Spock, marcou-me para sempre e, ainda hoje, acho-o todo bom! E foi um actor e pêras! Depois, aquelas patilhas e aquelas golas altas em M:I matam-me! =)~ A-ham, agora a sério, dentro das personagens genéricas mas importantes de M:I, Paris é das mais carismáticas e versáteis. Landau, na pele de Rollin Hand, oscilava entre os disfarces de general ou déspota maquiavélico, enquanto que Paris tinha maior vocação para se integrar numa diversidade de cenários, de condutor de carroça a multimilionário corrupto. Mas, como já disse acima, também gostei muito da personagem de Barney.

Porquê este título? Apesar de Mission: Impossible ser anterior a Star Trek e Space: 1999, as três estrearam por ordem cronologicamente inversa, pelo menos desde que tenho idade para ver TV. Portanto, a minha exposição aos actores que transitam nestas séries, foi menor em Mission: Impossible, e teve início em duas séries de ficção científica de cultoApesar das intrigas de espionagem, Mission: Impossible também inclui uma forte componente de ficção científica, nem que seja nos gadgets futuristas e impossíveis, sobretudo das primeiras temporadas. 

Enquanto via M:I, só me lembrava de uma série moderna que passou um pouco despercebida, mas que está no meu coração: Leverage. Agora apetece-me rever Leverage, e nem vislumbre da série nos canais portugueses... Leverage, série de que falei aqui, é claramente baseada na premissa de Mission: Impossible, mas com outro contexto. Em vez de a organização ter ligações governamentais e políticas, o grupo de Leverage é um grupo de marginais, que concretiza missões por encomenda, na maioria das vezes pouco legais ou legítimas. Alguns dos elementos da equipa inclusive têm cadastro ou são procurados pela polícia. A equipa também é mais coesa, variando muito pouco, com elos fortes entre elementos e cada personagem tem uma caracterização muito mais complexa e empática. Por fim, também é pontuada por um grande sentido de humor, fazendo com que a série seja facilmente devorada de uma assentada, deixando ficar o desejo por mais. É como se Leverage fosse uma versão de Mission: Impossible, com um belíssimo upgrade.

Mission: Impossible (imdb)

Leverage (imdb)

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