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09 dezembro 2021

Para Sempre... Interminável

 


Uma destas manhãs, enquanto tomava o pequeno almoço, começou a dar a Neverending Story (História Interminável), e pela primeira vez reparei num pormenor na equipa técnica.

Mas primeiro vou falar da minha relação muito pessoal com este filme e, sobretudo, este livro. Quando a adaptação para cinema da Unendlische Geschichte foi anunciada, em 1983, eu vivia na Alemanha, concretamente na RDA. Uma amiga tinha recebido de presente o livro e, desdenhando um bocado uma produção cinematográfica da RFA, com um pezinho em Hollywood, disse-me que o livro era excelente e que eu devia ler. Apesar de falar alemão e andar numa escola alemã, eu nunca tinha lido mais que revistas, artigos, banda desenhada ou instruções para fazer coisas. Enchi-me de coragem, pois o livro (naquela edição) é um tijolinho, e aceitei o desafio. É, até hoje, um dos meus livros preferidos e, apesar de ser para um público juvenil, é um livro que não tem idade e deveria constar muito mais nas listas de literatura fantástica. Este e os outros livros de Michael Ende, que teve o azar de morrer muito novo. Mas Die Unendlische Geschichte tem um problema grave, é um livro que, pelos seus subterfúgios gráficos e literários, perde com a tradução. Em inglês (que nunca li) é capaz de se safar, um bocado como do francês para português, mas em português esses subterfúgios perdem-se quase todos (um deles são os inícios de capítulo, com a primeira letra em iluminura, onde em português pode ficar forçado com facilidade) por causa das grandes diferenças entre ambas as línguas. Para além disso, Ende é um escritor brilhante, com um estilo maravilhosamente surreal.

O filme não passou nos cinemas da minha cidade na RDA, tal como o livro não tinha sido publicado por lá - o da minha amiga tinha sido oferecido, uma edição da RFA - não enquanto eu lá vivi. Por isso já só vi o filme, depois do meu regresso a Portugal, não me lembro quando, mas acho que não foi logo em 1984. Neverending Story é um daqueles casos de uma adaptação problemática. O que aparentemente parecia mais complicado, a recriação de Phantásien e dos seus seres exóticos, foi extremamente bem resolvido, com efeitos práticos inéditos num filme alemão, e uma réplica muito fiel às descrições do livro. No entanto, a história foi hollywoodizada, e focou-se menos na narrativa de amadurecimento que em pormenores secundários, sem importância maior, que foram distorcidos para servir o 'lobby' moralista de Hollywood.

Portanto, o que temos de bom em The Neverending Story? Uma excelente escolha de elenco, segundo as descrições do livro, excepto, talvez, o Atreju com pele verde, um design de produção impecável, muito fiel ao livro, e efeitos especiais de primeira! É lamentável a narrativa não estar à altura. Por isso, apesar de no geral ser um filme bem feitinho, espalhou-se ao comprido, ao tentar hollywoodizar o que é caracteristicamente não-Hollywood.

Tanto relambório por causa de um pormenor?  É um pormenor importante, importantíssimo! A razão é porque os efeitos especiais foram supervisionados por nada mais que Brian Johnson. E com uma mãozinha de Carlo Rambaldi. Mas afinal quem é Brian Johnson? Nada mais que o tipo que fez os efeitos especiais, nomeadamente os Águias de Space: 1999, voar! Johnson trabalhou durante vários anos para Gerry Anderson, foi ele e a sua equipa que fizeram os Thunderbirds voar, o Stingray mergulhar e basicamente ajudou a criar a Supermarionation. Quando Gerry Anderson resolveu aventurar-se em produções live-action, naturalmente a equipa de efeitos práticos, criativa e eficiente, manteve-se. Pouco tempo depois, Johnson e os outros técnicos, que filmavam o Space: 1999 nos estúdios Pinewood, perto de Londres, foram contratados para trabalhar no que viria a ser um gigante da ficção científica: Star Wars, também filmado em Pinewood. 

Portanto, foi uma surpresa agradável ver que os intercâmbios de técnicos de cinema europeus, deram frutos tão bons e explica porque Neverending Story não tem falhas a nível de efeitos práticos. Para além de o filme ser realizado por, o então desconhecido, Wolfgang Petersen, outro nome que figura na equipa técnica é David Fincher, como assistente de fotografia mate, e a Industrial Light & Magic esteve envolvida nos efeitos visuais do filme.

Eis uma razão para rever este filme e observar atentamente os seus efeitos especiais.

The Neverending Story 

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