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14 dezembro 2021

Vilão que é Vilão, tem Contas Offshore na Ilha da Culatra

Quando assisti ao painel do Pôr do Sol, na ComicCon Portugal este fim de semana, é que percebi que me esqueci de terminar e publicar este post sobre a novela, escrito originalmente em Setembro. 

***

No início, ignorei, já perdi a paciência para novelas portuguesas há imenso tempo. Depois vieram os memes, "mmm... o que é isto?" E depois os posts dos amigos, em cujo gosto confio. Mesmo assim tive de confirmar. Rendi-me ao primeiro episódio! 

Pôr do Sol, O Amor Vem de Noite (sim, tem que ter a tagline!) é a lufada de ar fresco que a televisão portuguesa precisava. Há muito!

Inspirada em antigas sátiras novelescas, como O Diário de Marilú (in O Tal Canal) ou Moita Carrasco, Pôr do Sol é uma "telenovela" a gozar com as telenovelas, um desfilar de todos e mais algum clichés que se podem ver em novelas, desde DallasVale Tudo. O vilão com o copo de whisky na mão, as gémeas separadas à nascença, o bairro popular, cheio de aldrabões e pequenos criminosos, ginginha, pastéis de bacalhau, casas de fados, incesto, raptos, crime, corrupção, assassinato, várias estadias no hospital, um padre muito pouco celibatário, nomeiem o cliché, ele está em Pôr do Sol! Isto tudo aliado aos diálogos mais disparatados, ditos por um elenco impecável. Tenho de destacar Gabriela Barros, que interpreta as gémeas, que faz um trabalho genial! Como alguém disse numa rede social, é um trabalho impressionante, conseguir dizer aqueles dialogos daquela forma tão séria, sem se esbardalharem a rir! Gostava de ter assistido a um dia de gravação, hehe!

Desde os anos 80 que nunca mais se fez nada do estilo e é uma pena. Nicolau Breyner, uma das grandes inspirações dos autores, Manuel Pureza, Henrique Dias e Rui Melo (que também interpreta o vilão, Simão), foi um dos criadores do género, chamemos-lhe, o nonsense à portuguesa. Todas as séries acima a mencionadas, mais Duarte e Cª., tiveram bastante sucesso nos anos 80, mesmo que com meios de produção reduzidos e muito pouco polimento técnico. Eram os meios que existiam e, tipicamente, também foram produzidas com um orçamento muito reduzido, pois não foram levadas a sério. Eram verdadeiras Séries B, feitas com os restos de produções "mais nobres", com os técnicos a contrato pela RTP. Com o sucesso que tiveram, e teriam muito mais hoje, com uma boa campanha nas redes sociais, foi uma pena nunca terem feito "escola" e não terem continuado a ser produzidas coisas dentro do género.

Há uma grande resistência de quem decide, determina, programa as nossas TVs, a sátiras mordazes, que não se levem demasiado a sério. Mesmo Pôr do Sol é curtinha, com apenas 16 episódios, que comprova essa resistência. Espero que o claro sucesso mostre, pelo menos à RTP, que vale a pena apostar em conteúdos nonsense à portuguesa. 

Entretanto a segunda temporada já foi confirmada, vamos continuar a acompanhar a vida dos Bourbon de Linhaça, do Testículo, etc. e a banda Jesus Quisto já é sensação fora do contexto da novela. Tanto, que o amigo que me acompanhou ao painel e ainda não tinha visto a novela, não sabia da relação entre ambas.

O painel na ComicCon Portugal começou com os Jesus Quisto a tocar, Diogo Amaral, vestido de Joker e Madalena Almeida, vestida de Harley Quinn, em honra da ComicCon. Seguiu-se uma entrevista, entre a apresentadora, os autores e actores de Pôr do Sol e o público, onde se falou das inspirações, de detalhes técnicos (os copos para partir custam €35 cada!) e de piadas de bastidores (a maldição de Manuel Cavaco). Foi bem conduzida, de forma leve e divertida, estimulando a participação do público. 

Pôr do Sol (RTP Play)

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