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14 janeiro 2020

Arquelogias Nacionais

Cruzei-me com Cláudio Torres no passado e, graças a esse cruzamento, conheci Mértola e fiquei a saber o tesouro que ali andava escondido. Por esses motivos quis ver a série documental acerca da vida dele, Cláudio Torres - Arqueologia de uma Vida, sobretudo sobre o período pré-25 de Abril da sua vida, e tive uma excelente surpresa.

Já tinha ouvido algumas daquelas histórias, mas nem foram as mais fortes ou rocambolescas, sabia dos tempos na Roménia, do exílio forçado, mas não do que os levou até lá. Resumindo, levava algum avanço em relação à maioria dos espectadores, mas não muito.

Cláudio Torres - Arqueologia de uma Vida, trata-se de um documentário parcialmente encenado, contado na primeira pessoa. Cláudio e a sua mulher, Manuela Torres, são contadores de histórias, como tal, conduzem-nos de modo fluído através das suas aventuras, que mais parecem tiradas de um filme de Indiana Jones - sem o chicote. Isso subiu logo a fasquia deste programa. Nesse relato vemos como a PIDE actuava, como o Português era pouco Suave e como o casal e os seus companheiros foram de uma resiliência inacreditável. O humor e a leveza como os episódios nos são contados, ajudam a narrativa a fluir de um modo pouco usual na ficção portuguesa. Oh, a importância de um bom argumento! Aliás, tenho de agradecer a Manuela Torres, pois a dada altura deu-me sugestões de como organizar um texto, sugestões que ainda uso hoje neste blog. Espero que bem.
Para além dos testemunhos de Cláudio, de Manuela, das filhas e outros notórios no seu percurso, ainda temos episódios encenados, com actores. Começo por elogiar os actores, desde a sua escolha, cuja semelhança física ajuda, ao seu desempenho impecável. Os episódios também são bem dirigidos e bem intercalados nos relatos. Aos autores e toda a equipa, os meus parabéns, pois, apesar de pequenina, esta série é um excelente exemplo que já chega de acharmos que o Nacional Não É Bom. Um bom tema, bons sujeitos, bem planeada, bem filmada, bem montada, bem produzida e uma banda-sonora interessante! Mais, gosto deste esforço da RTP, também no programa Vejam Bem, de não estar à espera que as pessoas morram para as homenagear. Há histórias que devem ser contadas na primeira pessoa, esta é uma delas.

Agora vão a Mértola, visitar uma vila lindíssima e que Cláudio Torres ajudou a colocar no mapa.

ADENDA:
Cláudio Torres acabou de receber a Medalha de Mérito Cultural, os meus parabéns!
Está na hora de publicar este post ;)

Cláudio Torres - Arqueologia de uma Vida

07 janeiro 2020

Filmes de Cordel

Há alturas em que não apetece pensar quando se vê filmes, nessas alturas os filmes de cordel, a que antes chamava telefilmes da meia-noite da TVI, caem mesmo bem. Em Novembro apetecia-me ver filmes de cordel e descobri que a FOX Life os passa quase em cadeia. E há muitos! MESMO muitos!

Os filmes de cordel obedecem a uma fórmula, independentemente de serem meros romances, policiais (sempre com uma componente romântica) ou filmes de Natal. A grande produtora/distribuidora destes filmes é a Hallmark, famosa pelos postais de festividades.

A fórmula é a seguinte: abrem com um plano aéreo de uma metrópole, em geral a norte dos Estados Unidos, Nova Iorque, Boston, Chicago, são as mais comuns, acompanhada por uma musiquinha genérica, com guizos obrigatórios se for de Natal. Uma protagonista, loira, na casa dos 30, workaholic, saída de algum tipo de relacionamento frustrado (abandono no altar, traição, término de namoro, às vezes viuvez), é arrancada do seu status quo, em geral para uma terreola pitoresca, com neve obrigatória nos filmes de cordel de Natal. Fora do seu meio, descobre o amor no novo membro da pequena comunidade, ou namorado de adolescência, ou rapaz com que implicava, tipo que lhe fez algum tipo de pequena desfeita no passado e que, em geral defende valores conservadores e puritanos de família. Enfim, o American dream. Com frequência tem uma melhor amiga ou irmã, com um casamento bem resolvido, filhos, basicamente com a vida resolvida. A nossa protagonista loira decide, no espaço de 2 a 4 semanas, dar uma volta de 180º à sua vida, aos seus sonhos, ao seu sucesso profissional, em nome do amor.
Os temas e as profissões vão variando e são sempre neutras, seguras. As profissões urbanas vão de contabilistas ou arquitectos a doceiros, padeiros ou decoradores de interiores. Profissões seguras mas que exigem "dedicação" aos protagonistas. As profissões rurais ou estão ligadas à agricultura ou aos trabalhos manuais/braçais, como carpintaria, ou agente da polícia local, ou funcionário da Câmara Municipal. Desde que mostre um galã musclado, serve, se tiver camisa de lenhador aos quadrados e calças de ganga justas, melhor.
Depois de superados os poucos obstáculos, de a relação ter passado da implicância à cumplicidade sem motivo aparente, excepto que são boas pessoas, problemas em geral sem ligação directa ao relacionamento amoroso, tudo termina selado com um beijo, muitas vezes o primeiro do casal. Sexo? No way! Nem sequer são vagamente eróticos, mesmo quando são policiais.

A percentagem de morenas é pequena, negros então, fora um único caso, são sempre os amigos, os sidekicks simpáticos. Asiáticos são figurantes especiais, por vezes promovidos a sidekicks, latinos? não me lembro. Por vezes há homens protagonistas, em geral viúvos e pais solteiros. Quando há pais/mães solteiros, a criança tem entre 5 a 12 anos é pespineta e fofinha e em geral é uma rapariga. Nada de adolescentes rebeldes. De vez e quando a nossa protagonista é mais nova ou mais velha, mas também é tão comum como as morenas. Os actores repetem-se e parece que só fazem estes filmes, às vezes voltamos a vê-los como vilões ou personagens secundárias noutras séries, como um que agora apareceu como vilão em Arrow. Por vezes os "mentores" mais velhos são actores mais ou menos conhecidos, a entrar em decadência, ou nomes para chamar público. Outras, a protagonista é uma estrela em ascenção, como a Jessica Lowdnes, ou uma saneada de Hollywood, como a Mira Sorvino (pobre Mira Sorvino, merecia melhor!). Quando há actores fora da fórmula, há uma leve tendência a melhorar a qualidade, mas na grande maioria dos casos, os actores, a começar pelos protagonistas, limitam-se a mastigar o cenário e a gama de emoções é muito pequena, sem rasgos de desgosto ou felicidade.

Ao fim de cerca de um mês, FARTEI-ME! Acho que as 50+ vezes que ouvi as cançonetas de Natal contribuíram para isso.
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