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30 abril 2020

Púrpura

Sempre achei o Prince um génio musical, mesmo que nem sempre apreciasse o estilo, mas sempre achei a sua estética visual, usando um termo muito anos 80, fatela. Dentro do revivalismo barroco anos 80, sempre fui mais Adam Ant, com os seus uniformes militares e ar de pirata.
O facto de não achar o Prince um homem bonito, também não ajuda... Isto tudo para dizer que, apesar de estar sempre enfiada em salas de cinema por volta de 1984-85, nunca tive grande vontade de ver Purple Rain em sala, até porque mesmo na época, o filme me pareceu mais um meio de promoção do músico, um videoclip alongado, que propriamente um filme com cabeça tronco e membros.
Agora que finalmente matei a curiosidade que ficou, graças à FOX Life, não podia estar mais certa, teria dado os meus escudos por desperdiçados, se tivesse ido ver o filme ao cinema.

Mas eu cresci e Purple Rain não é de todo mau, a música é claramente toda composta por Prince, mesmo a das bandas rivais ou a música de fundo, o que mostra a sua versatilidade, e Purple Rain, o álbum, tem algumas das suas melhores músicas - When Doves Cry, Purple Rain. Eu agora convivo melhor com a estética, mesmo continuando a não ser o meu estilo preferido dos anos 80, e o filme não é nada mal produzido e filmado. A narrativa e os diálogos é que são realmente fraquinhos ("don't get my seat wet" - a sério? x'D), Prince é o clássico filho em conflito geracional e cultural com o pai, para sofrimento da mãe, e está numa daquelas fases contra o mundo, e a namorada, onde até se desentende com as músicas da sua banda, as fabulosas Wendy & Lisa. Por trás ainda existem as clássicas conspiraçóes de poder e manipulação, onde Prince, como bom moço que é, não encaixa, mas tem de lidar, se quer alcançar o sucesso.

Purple Rain é um filme antológico e divertido, onde apesar da fatelice, as novas gerações podem ter uma amostra dos genuínos anos 80. Pelo menos uma parte deles.

Purple Rain

10 abril 2020

Nuclear Não, Obrigado!

Apesar de uma amiga em quem confio me ter dito que seriam 5h da minha vida perdidas, não podia deixar de ver Chernobyl, pois, ao contrário dessa minha amiga, eu já era bem crescidinha quando se deu o acidente/incidente, que foi provavelmente a catástrofe mais marcante e assustadora de toda a década de 80.
Lembro-me de ver as imagens do incêndio na TV, lembro-me de a informação ser pouca e confusa, lembro-me das chuvas ácidas na Alemanha, Bélgica, França, etc. de se falar que a radioactividade não passou abaixo dos Pirinéus e de Portugal respirar de alívio.
Nos anos 80, muito antes de Chernobyl, começaram a maioria dos movimentos ecologistas com engajamento político, o Greenpeace denunciava a caça às baleias, os Partidos Verdes surgiam em vários países, com enfoque na RFA, a PeTA começou a luta contra o uso e comércio de peles, havia manifestações ecologistas um pouco por todo o lado, cujo lema era o título deste post, sobretudo nos países da CEE (onde Portugal ainda não pertencia), de começar a aparecer papel reciclado e de se falar em separação do lixo e reciclagem em geral. Nós em Portugal vivíamos uma grande crise económica, com direito a uma visita do FMI, só podíamos viajar sem passaporte para Espanha e isso de carro, e ainda recebíamos uns trocos pelo vasilhame. Foi também nos anos 80, muito perto da época de Chernobyl, que li o livro Stalker (Piquenique à Beira da Estrada, rebaptizado assim pela Europa-América por causa do filme de Andrei Tarkovsky), de Arkadi e Boris Strugatsky. Só vi o filme uns anos depois, já nos anos 90.

Portanto Chernobyl ficou marcado na minha memória e ficou muito por esclarecer. Foi mais ou menos por essas razões que tinha de ver a série Chernobyl. Esta é uma série que vale sobretudo pelo contar com algum detalhe e, esperemos, veracidade, o que realmente aconteceu a 26 de Abril de 1986.
A série toma o formato das reencenações históricas, com a grande diferença de um bom orçamento e uma produção de luxo, que inclui actores conhecidos, como o Skarsgaard pai e a Emily Watson. A produção é mesmo muito boa, num tom cinzento sépia realista, com excelentes efeitos especiais e de caracterização. É de tal forma bem feita, que tudo isso se torna invisível, mesmo que o ritmo seja um pouco monocórdico, e concentramo-nos no factos, que são o grande valor da série. O acontecido não é romantizado, mas contado sob o ponto de vista dos cientistas e técnicos responsáveis, com alguns camaradas do partido pelo meio, dando ênfase aos sacrifícios humanos, ao mexilhão, e às aldrabices políticas que estiveram por trás. Houve alguma síntese na personagem fictícia de Emily Watson, que conjuga uma série de cientistas que assistiram o protagonista, na personagem recriada por Skarsgaard, a tentar resolver o problema gigante que tinham em mãos.

Portanto, tal como se desconfiava na época, houve imensa sonegação de informação, as medidas de segurança eram insuficientes e certas medidas só foram tomadas por pressão dos outros países. Não deixa de ser impressionante vermos pormenores dos efeitos da radioactividade, como enterraram os mortos, o que aconteceu às gravidezes e partos, como a população foi tratada como carne para canhão, como a radioactividade transforma completamente o ecossistema, mesmo que não o extermine. Como numa citação de Mikhail Gorbatchev no fim da série, foi o início da queda da União Soviética e do Bloco de Leste.

Chernobyl


09 abril 2020

Pretos Estilosos

Pam Grier em Foxy Brown

Adoro filmes de blaxploitation, têm a melhor música, os melhores figurinos, sobretudo dos homens, e as melhores perseguições de carros. Infelizmente não é o género mais popular nos canais de TV, por isso só tinha visto o Shaft, o original com Richard Roundtree, mas também vi o remake com Samuel L. Jackson, e excertos de muitos outros ou filmes inspirados, como Jackie Brown, de Quentin Tarantino, ou Black Dynamite. Eis que a FOX Movies resolveu passar 3 filmes com a Pam Grier (que Tarantino foi buscar para Jackie Brown), Coffy, Sheba, Baby e Foxy Brown e ainda pesquei outro com Isaac Hayes, Truck Turner.

Começando pelos filmes com banda sonora de Isaac Hayes, que também protagoniza Truck Turner, editada pela famosa Stax, que são do melhor funk que há! Depois, QUERO aqueles casacos assertoados, com golas gigantes e camisas coloridas! Há sempre um amigo de infância ou primo, ou irmão, normalmente é primo, que é um patife de quinta, que costuma ter o melhor guarda-roupa: fatos assertoados com golonas em padrões ou cores espampanantes, trilby à banda e afros com risco ao lado. Às vezes acessorizam com cachuchos, pulseiras douradas, alfinetes de gravata e uma bengala a condizer. E não esquecer os brogues em duas cores! A quem desconhece este vocabulário: Google is a friend.

Os protagonistas masculinos podem ser ex-polícias, mas agora são detectives ou caçadores de prémios, com um amigo na polícia e também algum ódio de estimação a quem pisaram os calos, muitas vezes corrupto. São duros, implacáveis, com poucos escrúpulos e apenas duas regras de honra: justiça e vingança. Há sempre, no passado ou no início da história, uma namorada ou melhor amigo patife, que foi assassinado ou desonrado por um cabecilha de um bando ligado a voos mais altos, como tráfico de drogas ou lavagem de dinheiro (que inclui muitas subcategorias igualmente mafiosas), que os leva a sair da rotina. Também é o maior mulherengo da cidade, trocando de mulher como troca de figurino, mas sempre fiel à memória do seu grande amor.

Com Pam Grier não é muito diferente, em geral é a filha, irmã ou namorada de alguém injustiçado ou assassinado por ser honesto e estóico ou querer redimir-se, onde Pam inicia uma busca pela justiça à margem da lei, em geral seduzindo os associados do mafioso mor, em geral um homem branco, até chegar a ele.

Os figurinos masculinos, como já disse, incluem muitos fatos assertoados e camisas coloridas, mas também muita ganga e algum cabedal e fatos de motoqueiro. Os femininos incluem lingerie de sex shop, vestidos sem costas e com decotes até à cintura, muito inspirados em Halston, nas cores mais berrantes do arco-íris (uma das meninas do mafioso de Coffy, no seu funeral, usa um macacão de luto fabulosamente sexy!). Obviamente há muitas maminhas à mostra, ou não tivesse o género a palavra "exploitation" no nome. Os brancos só são estilosos quando estão no topo da cadeia alimentar, mesmo assim, nunca tanto como os pretos. Os capangas usam fatos cinzentos azulados, como se fosse um uniforme, os patrões vestem-se à Bee Gees.

Nem sempre quem manda naquilo tudo são homens brancos, em Truck Turner é Nichelle Williams, a Uhura de Star Trek, viúva do mafioso, que quer acabar com Isaac Hayes. Os carros são quase sempre low riders que nunca mais acabam, há motas, iates, barcos de corrida, motas de água, helicópteros às vezes, aviões, poucos. Há cenas que se repetem: o tiroteio a partir dos carros, o partir a loiça toda num apartamento ou quarto de hotel todo estiloso, a perseguição de carros que inclui uma capotagem, a protagonista a cortar cordas com uma lima de unhas ou semelhante que guardava dentro da afro. Tanta coisa pode ser guardada dentro de afros: armas brancas, armas de fogo, acessórios de beleza, acessórios de cabelo que claramente não estão lá a fazer nada. Isaac Hayes é careca, mas Pam Grier muda quase tantas vezes o cabelo como muda de roupa, o que vai desde a afro ao cabelo "varrido", tipo Farrah Fawcett, anos 70, ou o clássico rabo de cavalo muito repuxado. E depois há o calão colorido do Harlem, que dá uma riqueza a estes filmes, que a maioria do cinema norte-americano não tem.

Nisto tenho de falar em Samuel L. Jackson, o mais digno herdeiro deste cinema e que o honrou razoavelmente bem em Shaft, mas melhor ainda nos filmes de Tarantino. A blaxploitation é um género de uma época especifíca, os anos 70, onde a cultura negra primeiro conseguiu sair dos estigmas da escravatura e racismo e impor-se por si própria, sem se levar demasiado a sério. Isso gerou uma série de filmes muito divertidos mesmo hoje, muito kitsch, e que inspiraram muito mais que o Tarantino o ou Samuel L. Jackson.

04 abril 2020

Apaixonei-me por um Cowboy do Espaço


Se era preciso provar que para ter uma boa série ou filme, basta uma ideia simples mas bem executada, existe The Mandalorian.

The Mandalorian não é muito original, as inspirações são óbvias: os westerns, principalmente os western spaghetti, Lone Wolf and Cub, os filmes de samurais e, obviamente, o universo de Star Wars, onde se integra. Mas o modo como todas estas inspirações/citações foram mastigadas e cuspidas é o que torna The Mandalorian uma série divertida, interessante e muito viciante.

A realização é impecável e muito fluída, os argumentos são simples e resolvem um problema de cada vez, adicionando algo e mantendo a coerência com o arco principal, a fotografia está algures entre os sépias dos westerns e os azuis escuros das space operas. Somos levados a conhecer o universo dos Mandalorians, uma tribo de guerreiros que aparece pontualmente sem grande glória nos filmes de Star Wars, e, para isso, a armadura deste Mandalorian leva vários upgrades, a começar na ausência de pintura, dando-lhe o aço polido um ar mais sofisticado que a armadura gasta e batida de Boba Fett: temos aqui um Mandalorian mais competente. O guerreiro sorumbático e de poucas palavras gera empatia, com uma história de paternalidade inesperada, uma criança sossegada que não faz birras e ainda por cima tem superpoderes, tornam este Mandalorian num potagonista fácil e que queremos conhecer. A relação dele com A Criança (vulgo Baby Yoda) é fotocopiada de Lone Wolf and Cub, mas não faz mal, funciona lindamente neste contexto que, fora a tecnologia, não é muito diferente do dos ronins ou dos cowboys. Desde que não mintam sobre a inspiração e Kosuke Fujishima não se importe (quem sabe se não terá vendido mais um livrinho ou dois à pala de The Mandalorian?), estamos bem. A Criança é completamente adorável, sobretudo porque não chateia e intervém quando é necessário.

Adoro como o TIE Fighter de Moff Gideon aterra, e aquele lightsaber negro... ooooooh! Apesar de o achar mais um vilão de western, o clássico cowboy negro a aguardar o duelo ao pôr-do-sol, que um vilão digno do Império, não deixa de ser convincente, nem que seja na sua resiliência. Opá, os Stormtroopers a fazerem tiro ao alvo e a não acertarem nem um! Pew, pew, pew, pew, pew!

Por fim... ai a banda sonora! Há muitos anos que uma banda sonora original não me enchia tanto as medidas! É herdeira directa de Ennio Morricone, mas Ludwig Göransson dá-lhe uma modernidade que faz com que por um lado suporte lindamente a narrativa e seja épica e, por outro, possa perfeitamente ser ouvida separada da série.

Gostei do final em aberto, com o vilão vivo e espaço para aventuras muito diferentes das desta primeira temporada, mas, para o tipo de série que é, que tem tudo para poder ser muito longa, 8 episódiozinhos é muito pouco! T_T

Já percebi o hype todo à volta dos nomes Jon Favreau e Taika Waikiki, eles são BONS no que fazem!

Infelizmente em  tempos de Corona, a estreia da segunda temporada pode demorar, vamos ter de comer doses duplas de paciência ao pequeno-almoço. Até lá, espero que a Disney lance mais merchandising decente e de preferência baratuxo do The Child X'D

The Mandalorian
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