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04 fevereiro 2017

As Manas dos Moors

Wuthering Heights (O Monte dos Vendavais) é o meu livro preferido. Quando estive em Haworth e visitei o Brontë Parsonage Museum, achei que a vida das irmãs Brontë dava um filme tão bom como qualquer dos seus livros. Eis que a BBC, para o 200º aniversário de Charlotte Brontë, produziu To Walk Invisible, que conta parte dessa história.

Primeiro gostaria de afirmar que os cenários, guarda-roupa, recriações da aldeia, etc. estão impecáveis e quem tenha visitado os mesmos dificilmente separa os locais reais da sua respectiva recriação, indispensáveis devido a alterações sofridas ao longo do tempo nos locais reais. Isto é particularmente importante no que toca aos cenários principais, a Parsonage e o cemitério ao lado, que estão bastante diferentes do que eram no tempo das Brontës, o cemitério está cheio de árvores frondosas, a casa teve um grande acrescento e actualmente inclui equipamento próprio da casa-museu que é. A grande maioria da mobilia e objectos pessoais, recolhidos pela Brontë Society, pode ser vista na casa-museu.

O filme conta o pedaço das suas vidas de adultas, entre decidirem ser publicadas até à morte de Branwell, o irmão. Logo de início é estabelecida uma atmosfera fantasmagórica, digna dos seus livros, com a primeira cena das crianças a brincar em Gondal, o mundo criado pelos quatro, ainda presente nos minúsculos livrinhos feitos à mão, no museu. Apesar de o resto da história ter pouco de sobrenatural, não é muito mais que biográfica, essa atmosfera mantém-se na fotografia, no clima húmido do Yorkshire e na banda-sonora. O secretismo a que elas se obrigaram, devido às dificuldades em serem reconhecidas pela sua obra e não pelo seu sexo, é o tema principal da história, e o grande dilema das irmãs, que escreviam compulsivamente. A decadência de Branwell serve como catalisador, primeiro para o secretismo e depois para a grande revelação ao mundo, que os autores daqueles livros escândalosos afinal eram mulheres!

Gostava que tivessem dado um pouco menos de protagonismo a Branwell, e mais aos moors [a tradução portuguesa é "charneca", mas como a nossa charneca é muito diferente dos moors, prefiro deixar no original] e a cada irmã individualmente. Quem tenha visitado a região e, naturalmente, tenha lido algum livro das Brontës, percebe facilmente de onde vem tanta paixão contida, aquela paisagem é avassaladora. Para variar, quase só dão voz a uma Charlotte mandona, Emily é caracterizada como bicho do mato e Anne como a boazinha. Duvido que qualquer uma delas pudesse ser reduzida a tão pouco. Gostei como Emily estava sempre atarefada com os afazeres da casa, apesar de não ser necessário, devido à criada que trabalhava para a família. Era o seu modo de descarregar energia. Isso e caminhadas nos moors. Ah, o cão, o cão retratado por Emily em movimento, num desenho exposto no museu.

Quem goste e admire as Brontës, com certeza apreciará este filme, quem apenas goste de dramas de época, talvez o ache um pouco singelo, não há um grande romance e a tragédia é mais caseira, mas continua a valer a pena, é mais uma prova que a BBC ainda dá cartas em produções de época.

BBC One - To Walk Invisible

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