Pam Grier em Foxy Brown |
Adoro filmes de blaxploitation, têm a melhor música, os melhores figurinos, sobretudo dos homens, e as melhores perseguições de carros. Infelizmente não é o género mais popular nos canais de TV, por isso só tinha visto o Shaft, o original com Richard Roundtree, mas também vi o remake com Samuel L. Jackson, e excertos de muitos outros ou filmes inspirados, como Jackie Brown, de Quentin Tarantino, ou Black Dynamite. Eis que a FOX Movies resolveu passar 3 filmes com a Pam Grier (que Tarantino foi buscar para Jackie Brown), Coffy, Sheba, Baby e Foxy Brown e ainda pesquei outro com Isaac Hayes, Truck Turner.
Começando pelos filmes com banda sonora de Isaac Hayes, que também protagoniza Truck Turner, editada pela famosa Stax, que são do melhor funk que há! Depois, QUERO aqueles casacos assertoados, com golas gigantes e camisas coloridas! Há sempre um amigo de infância ou primo, ou irmão, normalmente é primo, que é um patife de quinta, que costuma ter o melhor guarda-roupa: fatos assertoados com golonas em padrões ou cores espampanantes, trilby à banda e afros com risco ao lado. Às vezes acessorizam com cachuchos, pulseiras douradas, alfinetes de gravata e uma bengala a condizer. E não esquecer os brogues em duas cores! A quem desconhece este vocabulário: Google is a friend.
Os protagonistas masculinos podem ser ex-polícias, mas agora são detectives ou caçadores de prémios, com um amigo na polícia e também algum ódio de estimação a quem pisaram os calos, muitas vezes corrupto. São duros, implacáveis, com poucos escrúpulos e apenas duas regras de honra: justiça e vingança. Há sempre, no passado ou no início da história, uma namorada ou melhor amigo patife, que foi assassinado ou desonrado por um cabecilha de um bando ligado a voos mais altos, como tráfico de drogas ou lavagem de dinheiro (que inclui muitas subcategorias igualmente mafiosas), que os leva a sair da rotina. Também é o maior mulherengo da cidade, trocando de mulher como troca de figurino, mas sempre fiel à memória do seu grande amor.
Com Pam Grier não é muito diferente, em geral é a filha, irmã ou namorada de alguém injustiçado ou assassinado por ser honesto e estóico ou querer redimir-se, onde Pam inicia uma busca pela justiça à margem da lei, em geral seduzindo os associados do mafioso mor, em geral um homem branco, até chegar a ele.
Os figurinos masculinos, como já disse, incluem muitos fatos assertoados e camisas coloridas, mas também muita ganga e algum cabedal e fatos de motoqueiro. Os femininos incluem lingerie de sex shop, vestidos sem costas e com decotes até à cintura, muito inspirados em Halston, nas cores mais berrantes do arco-íris (uma das meninas do mafioso de Coffy, no seu funeral, usa um macacão de luto fabulosamente sexy!). Obviamente há muitas maminhas à mostra, ou não tivesse o género a palavra "exploitation" no nome. Os brancos só são estilosos quando estão no topo da cadeia alimentar, mesmo assim, nunca tanto como os pretos. Os capangas usam fatos cinzentos azulados, como se fosse um uniforme, os patrões vestem-se à Bee Gees.
Nem sempre quem manda naquilo tudo são homens brancos, em Truck Turner é Nichelle Williams, a Uhura de Star Trek, viúva do mafioso, que quer acabar com Isaac Hayes. Os carros são quase sempre low riders que nunca mais acabam, há motas, iates, barcos de corrida, motas de água, helicópteros às vezes, aviões, poucos. Há cenas que se repetem: o tiroteio a partir dos carros, o partir a loiça toda num apartamento ou quarto de hotel todo estiloso, a perseguição de carros que inclui uma capotagem, a protagonista a cortar cordas com uma lima de unhas ou semelhante que guardava dentro da afro. Tanta coisa pode ser guardada dentro de afros: armas brancas, armas de fogo, acessórios de beleza, acessórios de cabelo que claramente não estão lá a fazer nada. Isaac Hayes é careca, mas Pam Grier muda quase tantas vezes o cabelo como muda de roupa, o que vai desde a afro ao cabelo "varrido", tipo Farrah Fawcett, anos 70, ou o clássico rabo de cavalo muito repuxado. E depois há o calão colorido do Harlem, que dá uma riqueza a estes filmes, que a maioria do cinema norte-americano não tem.
Nisto tenho de falar em Samuel L. Jackson, o mais digno herdeiro deste cinema e que o honrou razoavelmente bem em Shaft, mas melhor ainda nos filmes de Tarantino. A blaxploitation é um género de uma época especifíca, os anos 70, onde a cultura negra primeiro conseguiu sair dos estigmas da escravatura e racismo e impor-se por si própria, sem se levar demasiado a sério. Isso gerou uma série de filmes muito divertidos mesmo hoje, muito kitsch, e que inspiraram muito mais que o Tarantino o ou Samuel L. Jackson.
0 zappings:
Enviar um comentário