Existe um estilo de série (e filmes também, mas vou concentrar-me nas séries), que quer que seja levada a sério, que se instalou neste século. Este estilo não é assim tão novo, apareceu com a revolução nas séries de TV, com o Twin Peaks, Wild Palms e, mais tarde X-Files, mas parece que se tornou moda com o crescimento das produtoras e canais, como a HBO, Netflix, Amazon Prime, etc.
Mas afinal do que s trata? São séries dramáticas, que envolvem alguma intriga misteriosa ou conspiração, fotografadas em tons escuros, acinzentados ou sépia, e cuja banda sonora é constituída por sons graves, dramáticos, com muitas cordas, acordes bruscos e cenas de silêncio musical total. Eu gostava deste estilo, sobretudo quando era novidade e tinha a magnífica banda sonora de génios como Angelo Badalamenti, que ajudou a estabelecer o ambiente melancólico e insólito de Twin Peaks. Enquanto era em doses moderadas, funcionava. Mas eis que nesta quarentena consumi muitas séries de seguida, na TV e não só, e quando comecei a perceber um padrão, começou a irritar-me, mesmo que o restante conteúdo não fosse mau.
Nestas séries que vi recentemente estão: Chernobyl, Star Trek: Picard (a que tem a melhor banda sonora destes exemplos) e a portuguesa A Espia. Nenhuma destas séries é má, mas também nenhuma tem na narrativa variações dramáticas suficientemente fortes para sustentar estas bandas sonoras muito monocórdicas. Isso acaba por ter um efeito contraproducente, dá-me sono ou faz com que a minha atenção seja desviada para outras coisas (como por exemplo escrever este post enquanto um episódio corre na TV).
Sobre Chernobyl já escrevi, Star Trek: Picard não é má, mas parecia mais que estava no universo de Caprica que de Star Trek. No geral gostei, mas não é de todo marcante. Tem mais um efeito nostálgico, talvez testamentário, e falta-lhe uma certa patetice, que dava cor a Star Trek. Cá está, leva-se demasiado a sério.
A Espia, protagonizada por Daniela Ruah, de quem sou fã desde os Jardins Proibidos e não decepcionou, é uma boa série portuguesa, sobre a espionagem em Portugal durante a II Guerra Mundial, um tema não abordado vezes suficientes na ficção nacional. É muitíssimo bem produzida, tem uma bela fotografia, boa realização, a história não é má, tem excelentes desempenhos dos actores (apesar de achar que os sotaques estrangeiros precisavam de mais um bocadinho assim), bom guarda-roupa e uma dessas bandas sonoras dramáticas. O problema não é a série em si, é a redundância e já haver demasiadas séries com um estilo semelhante, que faz com que A Espia se perca no meio delas, por não ter nada que a faça destacar.
De qualquer modo, fico feliz por se andarem a produzir séries como A Espia em Portugal, significa que algo está a mudar e os defeitos técnicos e de estilo que marcavam negativamente a ficção nacional, estão defiitivamente em vias de extinção.
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