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22 fevereiro 2009

Paris de estúdio



Uma das coisas boas da vizinhança dos Oscars é a programação especial que a RTP, mais até a RTP2, costuma fazer todos os anos com antigos filmes oscarizados.

Ontem à noite apanhei dois dos filmes que constam no meu top 10 de filmes, Um Americano em Paris (já a meio, mas sem perder as minhas cenas favoritas) e Tudo o Vento Levou, em que adormeci (começou à meia noite, tem 4 horas!), mas não faz mal pois já vi o filme centenas de vezes e tenho em DVD.

Para mim Um Americano em Paris, mais do que o muito e devidamente reconhecido Serenata à Chuva, representa o arquétipo do musical de Hollywood: é 100% filmado em estúdio, os actores que o protagonizam estavam entre os melhores actores de musical, o realizador, Vincente Minelli, idem, é comédia, é melodrama, é romântico, tem canções, dança, cenas fantasiadas, cenas memoráveis, deixas imortais, é technicolor, tem uma produção artística entre a pintura moderna de Toulouse Lautrec e Chirico e o clássico multicolorido de Hollywood, tem uma realização minuciosa e tudo embalado num George Gershwin no seu melhor (a Rapsódia em Azul, por exemplo).

Um dos melhores ingredientes de Um Americano em Paris é a ideia de uma Paris romântica, utópica e irreal, mas que nem a própria Paris real, já bem interessante e mágica por si só, não consegue apagar. É uma Paris de sonhadores e amantes, de paisagens belas e imaculadas, de pessoas bonitas e interessantes. Uma Paris da recriação da estética da arte moderna no início do séc.XX, uma Paris onde ser um artista pelintra, como Jerry, a personagem de Gene Kelly, a viver numa caixinha de fósforos não é um problema, vive a sua vida com um sorriso entre vender os seus quadros em Monmartre e beber um cafézinho a por conta com o seu amigo céptico no café em frente.

As personagens também são arquétipos no seu melhor: o protagonista alegre, sonhador, bon vivant e sempre optimista, a heróina doce e romântica envolvida num mistério que a torna carismática, o melhor amigo céptico mas também sonhador, a milionária chique e bela com interesse no protagonista, o outro amigo bem sucedido que também está apaixonado pela menina. Apesar destas características, as personagens não são previsíveis e vivem os seus dilemas com intensidade e honestidade, onde as, por vezes longas, cenas de fantasia ou sonho se integram maravilhosamente bem, sem se tornarem gratuitas ou fastidiosas. Num filme como Um Americano em Paris, que à partida poderia ser o filme mais de plástico entre os filmes de plástico, aceitamos os códigos de imediato e somos "sugados" para aquele universo maravilhoso como se fizesse parte do nosso dia-a-dia.

Ontem à noite emocionei-me. Lembrei-me de como Um Americano em Paris é um excelente filme e de porque gosto tanto dele. Cantei as canções, empatizei com as personagens, deixei-me levar! Já vi este filme tantas vezes, que seria de imaginar que já o saberia de cor. Realmente as partes mais óbvias, as canções, certas deixas, a sequência de eventos, eu sei de cor, mas mais uma vez vi coisas novas e senti este universo maravilhoso desta Paris de estúdio, uma Paris da imaginação, mas que bebe muito do real, dando razão ao mito de cidade dos amantes. Se nada mais valesse este filme, a sequência de dança final vale! É comprida, aparentemente despropositada, mas demonstra os sentimentos de perda e paixão de Jerry como umas linhas de diálogo nunca o fariam e faz a transição perfeita para o remate final.

Agora só falta ter o filme em DVD, de preferência uma edição especial, cheia de extras, no estilo das edições da Criterion!

1 zappings:

Paulo Morgado disse...

Pois em Novembro saíu pela Warner uma nova edição Especial de Coleccionador em dois discos... Já não está nada mau :-)

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