Eu, aquela pessoa que delirou com o Beetlejuice, no cinema Mundial, provavelmente a uma segunda-feira ao início da tarde, com mais 3 ou 4 pessoas na sala, e que depois seguiu fervorosamente a carreira de Tim Burton, adorando Batman Returns, chorando com Edward Scissorhands, deliciando-se com os Pee Wee Hermans, tripando com Ed Wood, chorando a rir com Mars Attacks (kak, kak, kak!), a dada altura cansei-me. Cansei-me com os excessos, com a auto-citação, com um certo narcisismo que parecia querer mais agradar às massas, que ser subversivo.
Big Fish foi oficialmente o último filme de Tim Burton que gostei, mas não me encheu tanto as medidas como filmes anteriores. Parecia que Tim Burton ia por um bom caminho, de um certo amadurecimento, mas o estilo excessivo e barroco do filme, parecia querer esconder uma exposição sincera que queria despontar. Mas depois Tim Burton vendeu-se à Disney. Ainda vi o primeiro Alice no cinema, mas detestei. O filme é visualmene deslumbrante, mas, mesmo sendo eu uma pessoa que primeiro olha para o aspecto visual de um filme, o filme tem de ser equilibrado para encher-me as medidas. Ainda por cima o Alice contribuiu para ima ideia completamente ao lado de uma Alice Liddel gótica, romântica, justiceira, nada surreal, subversiva ou mimada, as características que me fizeram adorar os livros e a versão psicadélica animada da mesma Disney. Ainda vi o Dark Shadows na TV, mas, apesar de reconhecer o esforço em abraçar o lado camp, que outrora foi o forte de Burton, a tentativa saiu forçada, mesmo tendo pontualmente alguns vislumbres do camp de Beetleejuice e Mars Attacks, sem o humor delirante. Fiz greve aos filmes de Tim Burton, já não queria dar-lhe o meu dinheirinho suado.
Mas ontem arrependi-me. Vi na SIC, na categoria "filme da ressaca de sábado à tarde" (que por acaso foi a uma sexta-feira, feriado e sem ressaca), o filme Miss Peregrine's Home for Peculiar Children e fui presenteada com um argumento sólido, bonito, personagens cativantes e intrigantes, uma intriga bem construída e empolgante e, o melhor de tudo, um dos meus elementos preferidos na ficção, viagens no tempo. A estética, com alguns laivos góticos burtonescos, é comedida e dá relevo à narrativa, em vez de se sobrepor. O elenco impecavelmente escolhido, encabeçado pela maravilhosa Eva Green, compõe o resto do ramalhete e o resultado foi um filme, pós Big Fish, de Tim Burton que tenho pena não ter visto num cinema.
Apesar de ter havido grande promoção do filme na época da sua estreia, foi daqueles que rapidamente caiu no esquecimento mais popular, contudo, é um filme muito superior ao sempre popular Alice. Definitivamente gosto muito mais do Tim Burton subversivo, mais íntimo e menos popular que do Tim Burton vedeta gótica das massas disneylândicas. À primeira oportunidade de ver este filme em sala, vou aproveitar!
Miss Peregrine's Home for Peculiar Children
Há 9 anos
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