Para um franchise que adoro, conjuga duas das minhas paixões, a Escócia, tartan e homens e kilt, e esgrima, principalmente a esgrima japonesa, comecei com o Highlander aos tropeços. Não vi o primeiro filme no cinema, lembro-me do hype, das minhas colegas do secundário todas babadas com o filme, talvez tenha sido por isso que não o fui ver ao cinema, apesar de o Christopher Lambert ser um dos meus actores preferidos na altura. Acabei por nunca o ver numa sala de cinema.
Já o segundo filme fui ver numa das últimas vezes, se não a última, em que fui ver um filme ao Cinema Império. Já sabia que mais cedo ou mais tarde a sala acabaria por fechar, essas últimas vezes que lá fui, foram para aproveitar a sala. Sempre que havia um filme que me interessasse em cartaz, eu ia vê-lo. Todas as vezes que lá fui nessa altura, estavam 3 pessoas numa sala de 3000 lugares. Eu, o meu companheiro de cinema e um estranho, em geral na secção da sala onde não estávamos. Lembro-me bem do filme, era um bocado mais fantástico que o primeiro, não achei tão bom (entretanto já tinha visto o primeiro na TV), mas achei plausível e diverti-me a vê-lo.
Nessa época, já tinha a vontade de ver filmes de artes marciais, principalmente os do Bruce Lee, mas, como rapariga, eram filmes a que não tive muito acesso, a única coisa do género que consumi apaixonadamente foi a série The Water Margin (Li Chung, em PT) e Os Jovens Heróis de Shaolin, nos Verões no Alentejo. Portanto, actor preferido, Escócia e artes marciais, com sabre e espadas, o que mais queria eu?
Como não vi os filmes todos, e só vi um no cinema, foi com a série, já nos anos 90, que pude satisfazer parte dessa vontade. Mas, ainda na era do VHS, com horários televisivos pouco estáveis, também não consegui ver a série Highlander inteira e a eito. Agora, com a reposição na RTP Memória, finalmente vi tudo.
Vamos por partes.
Quando recomecei a ver a série, estava muito espantada por a achar muito melhor do que me lembrava. Realmente, a primeira temporada é mesmo muito boa, introduz bem o protagonista e as outras personagens, tem uma narrativa interessante, que conjuga muito bem os canons de Highlander, o quotidiano e uma narrativa romântica, e os actores, fora o Richie (que actor e personagem mais irritantes!), funcionam bem juntos. Alexandra Vandernoot, a Tessa, é bastante boa actriz e tinha uma boa empatia com Adrian Paul. Adrian Paul, para além de ser bem giro e comestível e não ser de todo mau actor (apesar das más linguas dizerem o contrário), nota-se que percebe de artes marciais. Numa série onde os duelos com espadas e a sobrevivência são o tema principal, isso é fundamental e foi onde Christopher Lambert não primou tanto. A primeira série é sucinta, variada e bem realizada. Nota-se também a mão europeia na produção, isso reflectiu-se no seu carisma.
O problema é que resolveram matar a Tessa e a tensão amorosa e o dilema principal de Duncan, de, como imortal, partilhar a vida com uma mortal, evaporou-se. As séries subsequentes variaram entre o imortal do dia e uma pseudo comédia um bocado pateta. Também começaram a ser mais recorrentes e às vezes irritantes, os flashbacks históricos. Escócia, que é bom, quase nada, infelizmente. Para compensar a ausência de drama geral, os efeitos de som e dos quickenings, foram ficando cada vez mais espampanantes. Houve uma altura, acho que na terceira temporada, em que cada vez que um imortal se aproximava, parecia que se ouvia pianos a cair de cima de prédios. Nos quickenings, o fogo de artifício é cada vez maior, e até uma casa, de madeira, que Duncan estava a restaurar, é completamente demolida. Depois entraram num misticismo exagerado, com direito a maldições milenares, quatro cavaleiros do apocalipse e sei lá que mais.
Por outro lado, as personagens recorrentes de Amanda, Fitz (Roger Daltrey, dos The Who), e Methos, em parte também a personagem Joe Dawson, apimentaram de maneira simpática a narrativa. Se bem que a narrativa dos Watchers não é tão dramática como a de Tessa, mas é mais sustentável por muitos episódios. No início achei Amanda um bocado enfiada à força, mas acho que conseguiram dar-lhe a volta e acabou por complementar bem o sorumbático Duncan. Também foi fixe ver, por ser uma co-produção francesa, actores europeus, na altura pouco conhecidos, como uma Marion Cotillard adolescente, entre outros.
O guarda-roupa histórico, surpreendentemente, não é nada mau, principalmente o dos homens. Suponho que haja mão das casas de guarda-roupa europeias nisso. Já nas mulheres, há bastante cetim de poliéster e penteados anos 80. Devem ter ido buscar os figurinos ao Amadeus! Foi pena terem-se concentrado principalmente em 2 ou 3 épocas, sécs. XVII, XVIII e XIX, e depois até à II Guerra Mundial. Anos 50 a 70, ou mesmo 80, quase nada. Também tenho pena, tendo explorado tantas aventuras imortais, não haver mais pormenores de como mudaram de identidade para poderem continuar a fingir que são mortais. Há quase sempre coisas implícitas, mas esquemas do que fizeram, fora a morte francesa de Richie e a canadiana de Duncan, ou quando Duncan vai recolher uma fortuna em juros do "bisavô", pouco mais há. O lado da aprendizagem das artes marciais também é pouco explorado, assim como a adopção de Duncan de uma katana em vez da espada escocesa que usava antes. Há dois ou três episódios que explicam isso, mas podiam ter sido arcos narrativos completos, em vez de alguns episódios muito repetitivos.
Por fim, há o "efeito Sailormoon". Eles devem guardar as espadas dentro deles de forma mágica, pois na maioria das vezes é impossível terem-nas escondidas na roupa, mesmo nas gabardinas compridas e etc... A facilidade com que transportam armas brancas entre continentes também é curiosa. A excepção é mesmo o Duncan, pois é antiquário. E para onde vão os imortais decapitados? Nos filmes a polícia investiga um serial killer, na série há duas ou três tentativas de uma intriga policial, mas na realidade, parece que ninguém repara. Na minha memória difusa da série, os corpos desintegravam-se com o quickening, o que seria uma maneira plausível de resolver a questão, mas afinal não. Os corpos ficam lá, e ninguém desconfia. É suspensão da descrença a meio gás.
A série final é a mais pobrezinha de todas, mas o episódio duplo final, mesmo com a narrativa "como seria o mundo sem mim?", é satisfatório q.b. De qualquer maneira, gostei muito de rever a série e vou ficar com saudades de lavar os olhos com um Adrian Paul sorumbático e herói romântico, antes de ir deitar. Agora seria bom rever os filmes e ver os que não vi. Tenho de fazer umas buscas na box...
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