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27 maio 2007

1968

Por três motivos, o excelente elenco, a época retratada e uma certa dose de bom sentido de humor que há muito que queria ver a série Conta-me como foi e não fiquei nada desiludida.

Eu sabia que actores como Miguel Guilherme, Rita Blanco e Catarina Avelar não envergonham ninguém, muito pelo contrário, e realmente temos excelentes desempenhos nesta série, sem pretensiosismos, nem excessos. O forte elenco sénior apoia e estimula o restante elenco juvenil que tem prestações largamente acima da média sem recorrer a maneirismos ou exageros irritantes.

Talvez pela primeira vez numa produção televisiva nacional (de época mas sem ser de há mais de um século atrás) vejo excelentes cenários, muitíssimo convincentes e históricamente correctos. Pode parecer estranho, mas quanto mais próxima de nós é a época mais dificilmente o lado da direcção artística funciona como deve ser, acabando muitas peças actuais infiltradas onde não devem ou uma paleta de cores ser mal definida. Na casa do Lopes temos a típica mobília de uma classe média baixa (não havia muita escolha de mobília e bibelots, portanto as casas eram quase todas iguais), e o melhor de tudo é, realmente a dita paleta de cores: vejo nas paredes da sala aquele típico verde seco, horroroso, que só entristecia e escurecia as salas, mas que toda a gente usava para pintar as paredes. Não havia salas brancas ou de cores pastel, essa é uma noção demasiado anos 80. Também vejo os adereços certos: o criado-mudo em madeira no quarto, os dois sofás de napa, alinhados em canto com uma mesa de camilha entalada entre eles, os naperons, os quadros de flores, os calendários de gatinhos ou cachorrinhos, a banda-desenhada do Mandrake (se bem que eu escolheria o Tarzan ou o Capitão Marvel), etc.

Todos estes objectos fizeram parte da minha infância, conheci-os bem, apesar de já ter apanhado a fase de transição do 25 de Abril, onde surgiram as mobílias de contraplacado e uma primeira abordagem ao design prático e integrado que resultava em compostos de cama-mesa-de-cabeceira ou armário-roupeiro-secretária.

A integração de um humor leve mas que não se leva demasiado a sério num contexto políticamente complicado é muito bem feita e inteligente. Outra coisa interessante é termos aqui três gerações, com pontos de vista sobre a sociedade e a vida diversos, que partilham o mesmo espaço mas que vivem as novas situações de maneiras muito próprias. As idosas tentam ter uma vidinha descansada entre idas à mercearia e a tagarelice no cabeleireiro. Os de meia-idade preocupam-se em demasia com o futuro deles e dos seus e os mais novos alheiam-se de tudo, sendo sempre o mais importante o que de mais diferente houver: desde a série 'Os Invasores' até à mini-saia da prima que veio da França.

Pena que a ideia original não seja nossa (é espanhola), mas pelo menos foi muito bem adaptada, não se notando as costuras e é uma série muito divertida de ver, sem pensar se é portuguesa ou de outra nacionalidade qualquer.

De notar que o site oficial é bastante bom (coisa rara) e até tem os guiões disponíveis, no meio de uma ficha técnica e artística muitíssimo completa.

Conta-me como foi - RTP

RTP1
dom., 22:35

06 maio 2007

*cada vez mais careca

Cada vez mais careca é a tradução da legendagem num episódio de Mentes Criminosas, no AXN, para a expressão getting bolder. Alguém devia explicar a quem traduziu que bold é corajoso e bald é que é careca. Sei que é apenas uma letrinha, mas que faz uma grande diferença!

bold
bald

01 maio 2007

Página 888

Teletexto sempre foi um extra que nunca conheci. Até há pouco só me lembrava que o teletexto existia quando aparece que as novelas são legendadas na página 888.

Recentemente, ao carregar inadvertidamente no respectivo botão da televisão emprestada que tenho usado, resolvi, por curiosidade, experimentar a dita página 888.

É estranho ver a novela Páginas da Vida com teletexto. Até percebo que, por uma questão de espaço e de tempo, por vezes o texto tenha de ser cortado ou reduzido, mas faz-me confusão estarem os actores a falar português do Brasil e as legendas serem em português de Portugal. Se por um lado até faz sentido, uma vez que as legendas supostamente existem para quem não ouve ou ouve mal e porque estamos em Portugal, por outro lado é extremamente confuso até porque às vezes o texto é completamente alterado (como numa má tradução de uma língua estrangeira) ou até letras de canções não são colocadas literalmente, como aconteceu hoje em "Sapo Cururu", uma canção que conheço desde criança, apesar de nunca ter posto os pés em terras brasileiras.

Por outro lado, as pessoas surdas que consigam ler nos lábios devem ter alguma dificuldade em perceber o texto, quando na maioria das vezes não bate certo. Sendo o português do Brasil na mesma português, e algumas das suas expressões, ao longo dos quase 30 anos em que temos contacto com o vocabulário brasileiro através da televisão (e não só), já sido adoptadas pelos portugueses e outras tantas até já constarem nos dicionários portugueses, não vejo o porquê de uma percentagem tão alta de alterações aos diálogos, até porque às vezes alteram o significado das mesmas. Um exemplo que vi hoje foi alguém a dizer "ela é fresca" e as legendas tinham escrito "ela é fraca"... Que eu saiba a dita expressão é tão usada por cá como no Brasil, não percebo a transformação.

Isto tudo para chegar à conclusão que o teletexto, que nunca chegou a todos pois nem todos os aparelhos de televisão têm acesso ao mesmo, não nos serve para nada, nem para ver a programação, pois nem isso é actualizado a tempo e horas. Quem é surdo ou ouve mal vai ter de continuar a contentar-se com pouquíssimos programas de língua portuguesa legendados e os poucos que o são, pelos vistos com uma qualidade ainda mais duvidosa que algumas legendagens de programas estrangeiros. De resto a navegação é algo limitada e muito demorada, portanto é um sistema antiquado que deveria levar uma bela de uma remodelação, tanto a nível tecnológico como de qualidade.

Como ainda só vi as legendas em teletexto da SIC, ainda me resta dar uma olhada aos da RTP e eventualmente da TVI e canais de cabo, mas infelizmente sou um bocado céptica nestas coisas e duvido que haja grandes melhorias.
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