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07 julho 2018

Alta Costura Mas Não Tanto

Ontem aproveitei a sessão de cinema ao ar livre do Cine Conchas e fui ver o Phantom Thread. Ainda bem que não paguei para ver, não vale o meu dinheirinho suado.

Deixa-me um tanto confusa como este filme teve sucesso e até foi nomeado para Oscars (ganhou o de Melhor Guarda-Roupa?), aliás mal posso crer que tenha sido escrito e dirigido por Paul Thomas Anderson.
Trata-se de duas personagens desagradáveis, Reynolds Woodcock (Daniel Day Lewis) e Alma (Vicky Krieps), extremamente narcisistas e co-dependentes, que geram zero empatia no espectador. Para cúmulo passa-se no universo da Alta-Costura, universo pouco familiar ao comum mortal. A personagem secundária, Cyril (Lesley Manville), a irmã pragmática de Reynolds, foi a única que me gerou algum tipo de empatia.

Intriga-me os actores parecerem-me muitas vezes forçados, é verdade que trata-se de um ambiente extremamente controlado, cheio de regras e maneirismos, mas mesmo assim, ambos os protagonistas me parceram forçados, tanto nas cenas mais contidas e cheias de etiqueta, como nas cenas mais espontâneas. Daniel Day Lewis prova que é um grande actor nas cenas em que cumpre sozinho os rituais da sua personagem, Vicky Krieps é fotogénica, mas não me convenceu como actriz. Talvez não houvesse empatia entre os actores, não sei, o que acho é que não funcionou.

Gostei de toda a apresentação meticulosa dos rituais da casa, Reynolds a preparar-se, a entrada das funcionárias pela porta das traseiras, a abertura dos salões, o vestir das batas-uniformes, os acessórios, os detalhes, mas depois, para um costureiro tão meticuloso, os vestidos não correspondiam. Para além de não serem particularmente interessantes para a época, anos 50, estavam tão mal cortados! É ver o bico do peito do primeiro vestido feito para Alma, que lhe assenta uns 3cm acima de onde deviam estar. A quantidade de arrepanhados e rugas onde não deviam existir é alarmante! Os anos 50, sobretudo na alta-costura, foram uma década onde os vestidos eram extremamente estruturados, quase uma armadura em tecido no abdómen e peito, onde seria imperdoável assentarem tão mal como assentam no filme. Será que não houve tempo para fazer provas na actriz principal? É a única explicação.

Por fim há a "linha fantasma" do título. Pelo trailer e por tudo o que li e ouvi acerca do filme, supunha que esse traço obsessivo de Reynolds fosse mais presente, mas insistente e por isso mais sinistro e talvez assustador. Mas não, é mostrado umas 3-4 vezes ao longo do filme e de forma bastante discreta, de forma que nem se percebe porque lá está.

Para um filme sobre alta-costura, os vestidos parecem feitos por amadores, para um film sobre gente meticulosa e obsessiva, isso fica estabelecido nos primeiros minutos e a questão das frases bordadas perde-se por ser pouco frisada. Por fim a caracterização das personagens e o desempenho não me convencram, o que torna este num filme bonitinho, com uma realização tecnicamente boa, uma montagem que cumpre, mas que não traz nada de surpreendente, nem na narrativa nem a nível cinéfilo. Parece um desperdício de recursos.

Phantom Thread
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