TV-CHILD É UMA DESIGNAÇÃO QUE SE PODE DAR À MINHA GERAÇÃO, QUE CRESCEU
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27 junho 2005

Salitre


Na semana passada fui assistir, na Cinemateca, à ante-estreia do filme de uma ex-colega e amiga. Desta vez não acompanhei a evolução do projecto (mas estava por perto) mas tinha bastante curiosidade em ver o resultado.

Salitre é uma curta-metragem, bastante concisa, com um tema claro, muito bem exposto e com alguma ironia. Não vou contar a história senão estraga! No todo gostei bastante do filme, era bastante equilibrado, com boa fotografia, muito bom casting, bom guarda-roupa, adereços, etc. e boa banda-sonora. Como é um filme com poucos diálogos ainda tem a vantagem de ser acessível a todas as línguas sem grande necessidade de tradução. A linguagem verbal é substituída pela linguagem do cinema.

A razão porque falo aqui deste filme é simples: zanguei-me com o cinema português há bastantes anos (era uma defensora fervorosa) e tenho acompanhado pouco as longas-metragens que têm sido feitas. Pelo contrário as curtas-metragens, nem que seja porque tenho alguma ligação pessoal com alguém que fez o filme ou simplesmente porque passam em double feature (sessão dupla) tenho acompanhado com alguma assiduidade.

Mas não é só por isso. Gosto do formato das curtas metragens (do mesmo modo que gosto muito de ler contos), quem as concebe tem de transmitir as suas ideias de uma forma mais directa, clara e concisa o que muda o modo como a narrativa é exposta, faz com que a linguagem cinematográfica, do espaço-tempo, imagem e som, se sobreponha à, por vezes demasiado presente, linguagem verbal. As curtas portuguesas que tenho visto nos últimos anos têm me satisfeito bastante, identifico-me com elas e acho que são um produto acessível e comerciável. Todas elas mereciam ter maior exposição ao grande público do que a que tiveram, todas elas mereciam passar na televisão e não ficarem reduzidas a festivais como o de Vila do Conde.

Este filme foi co-produzido pela RTP, só espero é que esse seja um factor que sirva para que o filme não só passe no programa Onda Curta, mas também que seja vendido a outras televisões como o Canal Hollywood que, entre as longas, passa curtas-metragens, em geral europeias, mas nunca vi nenhuma portuguesa.

Felizmente que sairam DVDs com compilações de algumas das curtas portuguesas, produzidas há alguns anos e que valem a pena comprar, se não me engano nem eram muito caros.

Falta de tempo para haver sumo

Tal como concursos, não sou muito fã de talk-shows. Para mim ficará para sempre no coração o formato americano na versão Arsenio Hall, que foi o talk-show que me pôs a ver talk-shows. [wou-wou-wuou!] Também vejo muito de vez em quando Late Night With Conan O'Brien ou o Jay Leno, mas nada que se compare ao Arsenio Hall!

Por isso mesmo o sucesso do programa da igualmente famosérrima Oprah Winfrey passa-me totalmente ao lado. Lembrei-me no outro dia de um dos poucos programas a que assisti do princípio ao fim (talvez o único em que aguentei). O tema era, se não me engano, o recente filme com Richard Gere e Jennifer Lopez, Shall We Dance?. Tratando-se de um remake de um mega-sucesso recente japonês é factor decisivo para me dar alergia e urticária se porventura pusesse os pés no cinema para ver o mesmo, só talvez o facto de conhecer os convidados (parece que de vez em quando o programa se dedica a anónimos) me fez ficar a ver.

A própria Oprah é simpática, acessível, parece a vizinha do lado, cheia de conselhos e ombro amigo a dar... Mas o pior é mesmo o formato!

Começa o programa [os diálogos que transcrevi livremente são apenas da Oprah]:
"Boa noite, sou a Oprah, bem-vindos, etc., etc... (...) hoje vamos ter como convidados Jennifer Lopez e Richard Gere, apresentando o seu novo filme!"

INTERVALO
"Então um aplauso para a nossa convidada de hoje: Jennifer Lopez! (...) Olá Jennifer! Estás muito elegante! O cão, o gato, o piriquito, estão todos bem?"
Jennifer cumprimenta de volta e responde.
"Como foi fazer o filme?"
Jennifer começa a responder com frases feitas.
"Agora vamos interromper, voltamos já"
INTERVALO
"Agora um aplauso para o nosso outro convidado! Richard Gere! (...) Olá Richard, bem-vindo de volta ao programa, o cão, o gato, o piriquito, estão todos bem?"
Richard cumprimenta, faz uma pausa entre os gritinhos histéricos da plateia 100% feminina, e responde.
"Então foi bom dançar com a Jennifer no filme?"
Richard responde com frases feitas (gritinhos histéricos da plateia, cada vez que abre a boca).
"Vamos fazer mais um pequeno intervalo, voltamos já!"
INTERVALO
"Olá, estamos com Jennifer Lopez e Richard Gere que nos trouxeram um excerto do filme em que contracenam (...)"
Vemos um excerto do filme.
"Não saiam dos seus lugares voltamos já com Richard Gere e Jennifer Lopez."
INTERVALO
"Olá, estivemos com Jennifer Lopez e Richard Gere, que nos trouxeram o seu último filme, Shall We Dance? (...) Tive muito gosto em estar convosco aqui, cumprimentos lá em casa!"
Richard e Jennifer saem sorrindo e acenando para a plateia.
"Boa noite, até amanhã!"
Fim do programa.

Espremido, espremido... com tanto intervalo e repetição de cumprimentos e frases feitas só ficámos a saber que Richard Gere e Jennifer Lopez contracenam e dançam juntos num filme chamado Shall We Dance?, que são ambos amigos íntimos [?] de Oprah Winfrey e que o público do programa é um rebanho de mulheres (com ar de dona-de-casa americana) histéricas.

O que nos safa, no meio disto tudo, é que os intervalos comerciais da SIC-Mulher são menos e menores que os americanos e não temos de aturar 10 minutos de publicidade entre tão pouco programa como nas novelas em horário nobre na casa-mãe da SIC.

Deve ser programa para americano ver... alguém me consegue explicar a razão para tanto sucesso? Eu nem quero experimentar em ver mais que segundos daqueles episódios com temáticas lamechas! Acho que tinha de ter um alguidar para amparar o vómito e me tinham de levar para o hospital desidratada!

http://www2.oprah.com/index.jhtml

SIC-Mulher
2ª-6ª, 08:00, 14:00, 19:00, 00:00
sáb., 13:30, 20:00
dom., 10:00

13 junho 2005

Dois comunistas e um poeta

Ultimamente, quando morre alguém famoso, parece que não querem ir sózinhos...

Vasco Gonçalves foi uma pessoa que, tal foi o seu protagonismo na vida pública no pós-25 de Abril, marcou muito a criança que eu era. Tinha dele uma imagem de um homem alto, duro mas ao mesmo tempo simpático e acessível. Tive o privilégio de me cruzar com ele nessa época e de ter um desenho meu autografado por ele.

Álvaro Cunhal marcou muito mais gente ainda, foi uma grande figura da política nacional quando ainda havia distinções claras entre correntes políticas e tudo era muito preto no branco (tal como as suas sobrancelhas). Retirou-se quando as sobrancelhas já estavam grisalhas mas nunca deixou de ser um homem extremamente inteligente e amante das artes. É notável que tenha produzido tanto em condições tão precárias como as que teve quando esteve preso.

O poeta foi Eugénio de Andrade, também merece a minha homenagem apesar do pouco conhecimento que tenho da sua obra (sim, sou uma desnaturada, mesmo!). Mas, apesar de ser sempre triste a morte de um artista, dos artistas fica sempre o que eles têm de melhor: a sua obra e essa fica para sempre na memória de quem gosta dela. Deixo aqui um poema dele que me mandaram recentemente por mail:

O Sorriso

Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso
correr, navegar, morrer naquele sorriso.

Eugénio de Andrade
in O Outro Nome Da Terra

Felizmente que destes três ficaram muitas memórias tanto em registo (televisivo, livros, edições, etc.) como nas pessoas que de alguma forma foram tocadas por eles. A mim dá-me sempre imenso gozo em ver as imagens dos anos 70, em que todos eram amigos e de ver essas personalidades com um ar empenhado a seguir as suas convicções e os seus sonhos.

12 junho 2005

Complexo de culpa

Talvez por causa do comportamento vergonhoso que a RTP1 tem tido com a excelente série Lost, tentaram se redimir este domingo à tarde com uma espécie de "resumo alargado" da série até agora. De qualquer modo isso não desculpa as constantes mudanças de horário, juntar episódios, passar episódios extra em feriados, usar a série como tapa-buracos e tirar os importantes pré-genéricos que, neste caso, não são um resumo do episódio anterior e tudo sem ser anunciado! E, pior ainda, não passaram a seguir nenhum episódio! Alguém devia denunciar a RTP à Disney, que é a distribuidora da série! (concordo a 100% com o que Criswell, na revista Premiere, escreveu este mês - Junho 2005 - acerca da exibição de Lost na RTP1).

Se há qualidade nesta série uma delas é a construcção da narrativa em série, isto é, a acção passa-se ao mesmo tempo, mas como é impossível de mostrar tudo em televisão, onde o lado interactivo não existe, as mesmas situações são repetidas sob o ponto de vista das diversas personagens integrantes da história. Por exemplo, o prórpio acidente de avião e os acontecimentos que o antecederam são repetidos variadíssimas vezes, em diversos episódios, conforme o foco está sobre a personagem de Jack, Charlie ou Claire ou outra, isto possiblita-nos ver a mesma situação sob os diversos pontos de vista e contar a história como se de um puzzle se tratasse.

Ora, com resumos alargados, a RTP1 não se redime de forma alguma, pois está a contar a história de uma forma mais linear e, pior ainda, com uma narração por cima o que tira todo o suspanse e mistério à série. Apenas estragam um excelente trabalho que ainda por cima já está feito.

O melhor que tinham a fazer seria repor a série, desta vez BEM anunciada e sem alterações de horário. Já agora: reponham na 2: e à noite, que é um horário bem mais apropriado para uma série onde morrem pessoas, se mostra o lado mais negro do ser humano e onde há sangue, bastante sangue, apesar do cenário paradisíaco de uma ilha tropical...


RTP1
algures num domingo à tarde (ou outro horário, quem sabe?)

10 junho 2005

Carolina e os homens

Carolina e os homens é o título de um telefilme português pertencente a uma série (Amores Desamores) de contos de Mário de Carvalho adaptados para a RTP1.

Por razões que não interessam aqui, tive acesso ao argumento desta história e, quando vi que ia dar, tive a reacção de sempre quando tenho algum conhecimento de "dentro" de uma obra a passar ao público: um misto de curiosidade em ver o resultado final e de orgulho por ter tido a possibilidade de acompanhar parte do processo criativo.

Os argumentos para cinema e televisão são objectos pragmáticos, com uma escrita objectiva, são ferramentas de trabalho acima de tudo. Portanto o espaço deixado à imaginação do leitor é o espaço deixado à criatividade de quem produz e realiza o dito argumento.
Ao ler o argumento original, sempre pensei que a história tinha um bom potencial televisivo pois sempre a encarei como uma espécie de comédia negra em que a Carolina do título é uma psicopata no que diz respeito às suas relações amorosas e o Vicente, seu amante/namorado é um tipo numa crise de meia-idade com uma grande falta de iniciativa. Pena foi a realização mais-ou-menos com um forte aroma àquele cinema português de que toda a gente diz mal...

Houve algumas alterações ao argumento que li, infelizmente uma estrutura narrativa menos linear não foi mantida e confesso que aqui sou parcial: se me derem a escolher eu vou sempre para o não-linear, que faz com que o espectador faça uma ginástica mental maior, mas que também enriquece a narrativa. Também não vi a necessidade de mostrar a parte onde Vicente conhece Carolina. Basta ler um manual de escrita de argumento ou realização para ler que se deve começar a acção sempre o mais tarde possível. Mas estas alterações não são graves, eu é que preferia a história como a li.

Os actores foram muito bem escolhidos: Virgílio Castelo é um óptimo actor e tem uma excelente ginástica e presença televisiva. A rapariga, Anabela Moreira, surpreendeu-me pela positiva, tem boa presença e não foi excessiva, como muitas vezes acontece com jovens actrizes, muito bonitinhas e a iniciar carreira.

O que gostei menos foi mesmo a realização e a banda sonora muito pouco interessante. A realização é sem graça, com algumas, tímidas, tentativas para ser mais moderna mas que não funcionaram. Há demasiadas pausas silênciosas, daquelas mesmo à "cinema português", e as cenas de ligação são demasiado extensas e pouco dinâmicas. Não houve aposta no lado de comédia (negra), o que poderia ter enriquecido imensamente o filme.
A banda sonora se, em vez das pianadas melancólicas à "cinema português", tivesse apostado em Jazz e músicas mais mexidas tinha ajudado, e bastante, a enriquecer o filme e a dar o tal tom de comédia negra, foi pena.

Mais uma nota em relação ao guarda-roupa: foi também pena que uma rapariga tão bonita como é a Anabela Moreira ter sido vestida com uma roupa tão sem graça, só a lingerie escapou, essa sim era sexy-sweet1, o que ficava a matar à personagem! Nas roupas de exteriores deviam ter apostado num visual mais moderno e não numas roupinhas que pareciam saidinhas directamente do mais triste que se fez nos anos 80... ficariam fantásticas umas saias rodadas, tipo Prada, como se usam agora, e umas blusinhas diáfanas. Serviam a personagem que ficava sexy e moderna mas muito feminina e doce. Em relação à personagem de Virgílio Castelo: não percebi o shopping spree2 que ele fez, a única justificação é a de um product placement3. Afinal no "antes" e no "depois" a diferença era pouca ou quase nenhuma.

PS - afinal não foi desta, Júlio Carp.

http://195.245.179.232/EPG/tv/epg-janela.php?p_id=18936&e_id=3&c_id=1

Amores Desamores
RTP1
5ª, 23:30


1. sexy e doce
2. ida às compras
3. colocação de produtos em écran com fins de publicidade

04 junho 2005

A série portuguesa de culto

Se alguma vez em Portugal se produziu uma série de culto foi a série Duarte & Companhia!

Quando cá os DVDs começaram a pegar e se começava a ter acesso a séries de culto estrangeiras que passaram na nossa TV, comentei várias vezes com um amigo meu que se a RTP (e a RTC na altura) editassem essa série em vez das secas do Prof. José Hermano Saraiva ou afins, faziam muito mais dinheiro! Duarte & Companhia é daquelas séries que marcou a minha geração, era divertida, castiça, tinha boa intriga, um vilão espectacular e era 300% genuínamente portuguesa! Nunca mais se criou nada assim no nosso país!

Há já uns largos meses disseram-me que, na, na altura, recém-criada RTP memória, estava ou ia dar Duarte & Companhia. Eu procurei em revistas de TV, fui ao site da RTP, fui ao site da TV-Cabo, zapei várias vezes para a RTP memória... e nada! Com o tempo desisti... Hoje disseram-me que afinal estava a dar! Só espero não ter perdido demasiados episódios! É uma pena a programação da RTP memória ser tão pouco e mal publicitada tanto na RTP como no seu site!

Mas a série era realmente um espectáculo! Tinha excelentes actores, boa música, gags engraçadíssimos, personagens marcantes. O gabarolas do Duarte, o portuguesíssimo Tó, a violenta Joaninha, a avózinha, o Átila, o Chinês, o dois cavalos! Só mesmo em Portugal é que um vilão, num carro todo pipi, atrás de um dois cavalos, falha na perseguição porque é parado por excesso de velocidade pela GNR e lhe é apreendida a carta! Pensando bem: só mesmo em Portugal nos anos 80!

http://195.245.179.232/EPG/tv/epg-janela.php?p_id=14527&e_id=&c_id=9
http://www.imdb.com/title/tt0088511/

RTP Memória
6ª, 23:45
sab. e dom., 19:00
(mas o melhor é verificar a programação, pois o próprio site da RTP se contradiz)

01 junho 2005

Mulheres

Porque é que às vezes as locuções são atiradas à parede a ver se colam?

Ainda agora, mesmo antes de começar a série Desperate Housewives, o locutor da SIC disse qualquer coisa como: "... a série que é como o Sexo e a Cidade mas ainda mais." Das duas uma: ou ele não viu um único episódio de nenhuma das duas séries ou quem lhe escreve os textos é que não viu... Lá porque ambas as séries têm como protagonistas um grupo de mulheres não quer dizer que caiba tudo no mesmo saco! Infelizmente, é este tipo de conceito chauvinista é que dá origem a canais tristes como o SIC-Mulher... onde o que apenas escapa são as séries importadas.

Sex and the City passa-se bem no centro de Nova Iorque, num meio artístico, cosmopolita e boémio, e as protagonistas são mulheres independentes à procura de homem mas não forçosamente de marido. A série é uma comédia conduzida pelas crónicas que Carrie escreve.

Desperate Housewives passa-se num subúrbio, sem preocupação de qual a cidade, em que as protagonistas são um grupo de donas-de-casa [será que ele leu o título da série com atenção?] frustradas por variados motivos, que se deparam com um mistério despoletado pelo suicídio de uma delas. O tom é mais de soap apimentada com suspanse.

Haverá paralelismo? Não me parece!

Locutores da SIC: prestem atenção ao que dizem, tá?
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