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23 fevereiro 2006

Kitsch no gelo


Tal como o ballet, a patinagem artística faz parte do imaginário infantil feminino e eu não fugi à regra. Sempre gostei de patinagem artística apesar de, dissecando bem as coisas, ter imensos factores para achar piroso: os fatos na maioria bastante pirosos, com excesso de lantejoulas ou desenhos rebuscados, a escolha musical que, quando não é de música clássica vai demasiado em modas e é, normalmente, antiquada abusando de Vangelis ou Vanessa Mae, etc., etc.

Mas também há muitos factores para gostar: nem sempre os fatos são assim tão maus, por vezes a música é bem montada e escolhida para o programa feito pelo(s) patinador(es), a parte atlética, técnica e artística costuma ser espectacular e sempre gostei de andar de patins e, sempre que tenho oportunidade, faço-o no gelo onde é particularmente interessante mas mais arriscado (atrito zero).

Apesar de já acompanhar o melhor que podia os campeonatos (em particular os pares e individuais femininos e masculinos), foram os Jogos Olímpicos de Sarajevo, em 1984, que pude ver na íntegra, pois não vivia em Portugal, e o auge do sucesso da fantástica Katarina Witt que me fidelizaram de vez!

Desde aí, sempre que posso (agora, graças ao Eurosport, é bem mais fácil) vou acompanhando os Europeus, Mundiais e, claro, Jogos Olímpicos de Inverno. Não é só patinagem que tento ver nos Jogos Olímpicos, mas é a minha modalidade preferida. Sempre que dá, vejo as arriscadas corridas de tobogã, saltos na neve, slalom, corrida em patins e até os triatlos e afins. Este ano reparei em duas, novas para mim, modalidades: algo parecido com snowboard (que gostava de experimentar um dia) e uma modalidade estranhíssima, que provávelmente é bem antiga e tem tradição, o curling.

Na patinagem fui acompanhando ao longo dos anos a carreira da já mencionada Katarina Witt, os sucessos do muito parodiado pelo South Park, Brian Boitano, e vários casais de pares na maioria canadianos. Este ano as regras mudaram, a pontuação é de certa forma secreta (não sabemos quem vota quanto em quem, só os totais) e finalmente são permitidas calças, ou bodys, às mulheres em individuais femininos. O escândalo que foi Katarina Witt, num programa curto, ter usado bermudas pois a música utilizada era Mozart. Por incrível que pareça os fatos também pontuam e ela foi, nessa altura, penalizada por isso! É bom ver que as regras estão menos conservadoras.

Este ano gostei da italiana Carolina Kostner, estava bem vestida, teve uma boa performance, com uma coreografia bem interessante e criativa, a música era o Inverno de Vivaldi (nada mais adequado) e, apesar de uns desequilíbrios e faltas de cálculo, para quem é novata e estava a competir em casa, portou-se muito bem. Também gostei da campeã, a japonesa Shizuka Arakawa, foi muito sóbria, comedida, certinha, mas também impecável e segura. Longe vão os tempos que o Japão apresentava excelentes patinadoras na parte técnica, mas que deixavam muito a desejar na parte artística. Midori Ito, a primeira a fazer história, era muito forte, uma máquina, mas muito feinha e atarracada. Arakawa é bonita elegante e muito suave. Gostei do modo como reagiu ao saber que tinha vencido o ouro.

Pena nisto tudo é agora o Eurosport ser em português. Não tenho absolutamente nada contra os comentários em português, mas as duas comentadoras da patinagem (também o fazem para a 2:) até podem perceber muito do assunto, mas não têm piada nenhuma, enganam-se nos nomes, nas músicas, nomes de técnicas e sei lá que mais, e há um ou dois anos até discutiram de microfone ligado, lamentável... Tenho saudades dos dois comentadores ingleses de patinagem. Os dois eram extremamente exfusiantes e quando gostavam, gostavam mesmo, era tudo fantastic e fabulous!

Ainda falta ver a Gala dos campeões onde todos estão mais calmos e tranquilos e aproveitam para mostrar habilidades que nas competições não podem.

http://www.torino2006.org/

Eurosport
Gala
24.02.2006: 19:30
25.02.2006: 13:00

21 fevereiro 2006

Os anos 60 (e 70) produziram filmes muito estranhos...

Hoje vi um filme mesmo muito estranho, no Canal Hollywood, de 1970: Brewster McCloud, de Robert Altman.

Nunca gostei muito do estilo de Robert Altman mas este filme sai completamente fora do seu estilo mais comum. É um filme estranho sobre um rapaz obcecado em voar como um pássaro, que não olha a meios para concretizar o seu sonho, inclusive roubar ou matar.
Como os obstáculos se vão colocando à sua frente, os assasínios também se vão multiplicando o que origina a que um grupo de polícias, mais ou menos cépticos e broncos, liderados por um investigador quase tão obcecado como Brewster, ande atrás dele. Apesar do tema de obcessão e crime, o filme é nos contado num tom irónico e de comédia surrealista descomprometidos, bem ao estilo dos filmes europeus do final dos anos 60, como o seu exemplo máximo, Blow Up, de Antonioni ou mesmo os filmes de Peter Sellers.
Também, como bom filme dessa época, a sua direcção artística e fotografia são cinco estrelas, sem mácula, com um cuidado gráfico particularmente interessante. A camisola que Brewster usa é às riscas horizontais vermelhas e brancas, os cenários têm cores fortes sobre fundos mais neutros, como cinzentos e azuis metálicos, a maquiagem de uma novíssima Shelley Duvall é de fazer inveja a Malcolm McDowell na Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick.

Claro que este filme não se compara em qualidade a nenhum dos acima mencionados, mas é estranhamente divertido e tem um final, de certa forma, aberto, desmontando qualquer aspecto realista que o espectador quisesse encontrar na história.

http://www.imdb.com/title/tt0065492/

Este mês, no Canal Hollywood

16 fevereiro 2006

Verdadeiro Japão?

Finalmente consegui ver o Memoirs of a Geisha, parecia que estava fadado que não visse o filme, mas consegui contornar o destino.

Vou desde já dizendo que sou uma das puristas que encarava este filme com o olhar mais céptico possível. Mas também não me posso esquecer que o livro do qual o filme é adaptado não é nada mais que um romance. Um romance empolgante, mas assim mesmo um romance e escrito por um americano, não um japonês. Apesar de não parecer por estas palavras, eu gostei do livro, mas sou mais exigente ainda com o que leio e acho que sei distinguir entre uma obra-prima ou um clássico e uma leitura mais acessível e popular. Para deixar muito claro: o livro, para mim, não é nenhuma maravilha da literatura, mas é muito interessante, envolvente e lê-se de ponta-a-ponta num instantinho, mergulhando-nos lindamente naquele universo intrigante e misterioso.

Sómente ao ver as fotografias do filme e com o que li e pesquisei sobre o tema já havia duas ou três coisas que me punham a desconfiar:
A primeira são os penteados. Não faço a mínima ideia onde os foram buscar, mas em nenhum postal ou fotografia, seja de geisha, seja de outras mulheres, nos anos 20-30 no Japão (e há muitos, documentação não falta), nunca vi penteados semelhantes, de certa forma até tive pena de não ver o clássico penteado que associamos às damas japonesas e às geishas, aquele em forma de meia-lua.
A segunda coisa é o facto de terem escolhido actrizes chinesas e não japonesas. Aqui entra um factor BEM concreto: vestir kimono (e andar nele) não é nada fácil, limita os movimentos e obriga a uma postura específica. Sendo as geisha (juntamente com os actores de kabuki) as grandes especialistas em vestir kimono de forma elegante e sensual, difícilmente alguém de outro país que não o Japão, que não tenha crescido minimamente dentro desse universo cultural, consegue, num curto espaço de tempo, aprender devidamente a mexer-se dentro de um.
A terceira foram as fotos das ruas de Quioto. Quioto tem a chamada "planta urbanística chinesa" que significa que o seu urbanismo se desenvolve em quadrícula a partir de uma avenida, eixo central, que levava ao Palácio Imperial. Por isso mesmo, a grande maioria das suas ruas (principalmente as mais largas) são rectilíneas e muito pouco labirínticas, como nos são mostradas no filme, em que parecem uma chinatown "vestida" de arquitectura japonesa. Gostei do cartaz.

O livro está relativamente bem adaptado, na sua história, ao formato de filme, perdendo muito (é claro) nos detalhes e subtilezas, tão bem descritos por Arthur Golden. Como a compreensão daquele universo por quem faz o filme é bem menor e envolveu, de certo, muito menos pesquisa, a magia e fascínio que transparece no livro, é inexistente no filme. As actrizes são realmente muito boas actrizes e provam-no diversas vezes neste filme, mas não são bem dirigidas nem bem informadas sobre as subtilezas inerentes a terem de representar geisha. Ao tentar fazer deste filme um espectáculo visual e não lendo bem nas entrelinhas deste universo tão subtil, Rob Marshall esticou o filme até mais não, perdendo-se na suposta exuberância, tornando o filme demasiado longo e lá para o fim, mesmo secante. É tudo muito bonitinho, mas pouco envolvente, acho que é daqueles filmes que, se marcar, vai marcar apenas pelo seu exotismo e pouco por ser um bom filme (não o é).

Agora às picuinhices da preciosista que sou eu:
Irritaram-me: as pestanas postiças (demasiado encaracoladas e visíveis) de Zang Ziyi, o erro magistral de porem Hatsumomo, uma manhã, com o kimono traçado ao contrário. Num universo tão supersticioso, como é este das geisha, é um erro mesmo muito grave. O kimono ata-se SEMPRE a parte esquerda sobre a direita, se porventura for atado ao contrário significa que a pessoa ou está morta ou é um fantasma. Como atar um kimono, para quem o veste como especialista e todos os dias há de ser um acto reflexo, é de todo impossível que tal pudesse acontecer na realidade, por mais desleixada que fosse a geisha. Depois ainda há a maquiagem (já não falo mais dos cabelos) que não é a maquiagem normalmente usada pelas Maiko (aprendizes de geisha). Todos os elementos decorativos (maquiagem, penteados, ganchos, pentes, kimonos, obis, etc.) têm um significado e razão de ser, no filme só o desenho na nuca foi respeitado, à frente o eyeliner dos olhos não fazia sentido absolutamente nenhum (nem sequer se usava assim no mundo ocidental, naquela época), faltava o toque de carmesim nos olhos, o rosa nas maçãs do rosto e os lábios pintados parcialmente como numa boneca (basta "googlar" maiko ou geisha nas imagens e ver o resultado). "Last but not least" os kimonos. Os kimonos eram todos lindíssimos e verdadeiros (vinham de colecções privadas) mas quem os vestiu não o sabia fazer como deve ser ou então foi-lhe pedido para o fazer assim. Os ombros de Zang Ziyi eram sempre demasiado proeminentes e virados para a frente, Mameha (Michelle Yeoh), apesar de geisha, é mais velha e portanto não mostraria tanto as costas (aquilo já não é só a nuca, que é o que é suposto mostrar, porque é sensual), que aliás nem geisha nem maiko nenhuma a mostra daquela forma. Na grande maioria das vezes os kimonos foram vestidos de forma muito (demasiado) desleixada e elas, definitivamente, não se sabiam mexer dentro deles, mostrando demasiado os braços (nem os pulsos é suposto mostrar) e por vezes até as pernas. O culminar deste desleixo ocidental é a dança de Sayuri, muito elogiada pela crítica, mas que de dança tradicional japonesa não tem rigorosamente nada, se tiver algo de japonês talvez tenha mais a ver com kabuki, e e... Os especialistas que me desmintam, mas acho que estou a dizer a verdade. Aqueles movimentos largos, rodopiantes, de braços estendidos e a pose final, qual ginasta acrobática, nem sequer têm um ar japonês não fosse ela estar vestida de kimono e ter cara de oriental.
Rob Marshall e a sua equipa "desculparam-se" variadas vezes a dizer que quiseram fazer a "sua" versão daquele livro e daquele universo. Ao menos Arthur Golden passou anos a fazer pesquisa...

Há uma semana e qualquer coisa, deu na RTP1, uma adaptação ao cinema da ópera de Puccini Madama Butterfly, simplesmente fa-bu-lo-sa! Tal como em Memoirs of a Geisha lá tudo era falsificado, as cantoras principais eram todas chinesas, os cenários eram (vejam só!) na Tunísia, o realizador é francês (Frédéric Miterrand), mas com a enorme diferença de que lá tudo parecia mais que verdadeiro. Elas pareciam japonesas de gema, todo o guarda-roupa era muito bem usado e vestido, as casas eram mais que convincentes e, melhor que tudo, numa ópera que resvala fácilmente o melodrama de lagriminha ao canto do olho, o filme era de uma tal sobriedade e excelente interpretação (as cantoras são muito premiadas) que saiu um resultado mesmomesmo muito bom!

http://www.sonypictures.com/movies/memoirsofageisha/
http://www.imdb.com/title/tt0113731/ (Madame Butterfly)

04 fevereiro 2006

O perfeito disparate

Hoje à tarde vi mais um episódio do Monty Phthon's Flying Circus... Foi mais uma sessão de riso non-stop.

É só para dizer que nem as Britcoms mais brilhantes (das mais recentes) resvalam o puro divertimento, com piadas que são verdadeiros disparates sem pretensiosismo algum, como eles!
A falta de linearidade com que os sketches aparecem nos episódios é simplesmente brilhante!

Enfim, NUNCA me canso de dizer bem dos Monty Python!

http://www.pythonline.com/

RTP-Memória
algures num sábado qualquer (à tarde)
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