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28 maio 2013

Maeve

De todas as séries que costumo ver regularmente, essencialmente no AXN, Criminal Minds é claramente a minha preferida. É uma série muito cerebral, com personagens muito bem construídas, tão bem que quase parecem reais, e fora um ou outro aspecto mais "exótico" tudo é perfeitamente plausível.
Este post contém SPOILERS acerca da série 8 de Criminal Minds, recomendo a quem não quiser lê-los não continuar a ler a partir daqui ↓.

A série 8 de Criminal Minds é especial, mas não é especial pelas razões óbvias: a saída de Emily, a entrada de Alex Blake (Jeanne Triplehorn), mas porque a intriga se concentra neles, na equipa e, principalmente pelos episódios dedicados a Spencer Reid. De todos Reid é a personagem que parece mais impossível e perfeita. Ele é um génio, tem um QI altíssimo, uma memória prodigiosa, calcula probabilidades mais depressa que um computador, lê livros à velocidade da luz. Até agora as únicas fragilidades de Reid mostradas foram o receio da probabilidade de herdar a esquizofrenia da mãe e uma ou outra paranoia ocasional, mas eis que Reid, o eterno anti-social, arranja uma namorada.

Mas Reid não conhece a namorada num café ou na banca do jornal, nem sequer é uma colega de trabalho, logo nos primeiros episódios Reid faz uns telefonemas misteriosos de uma cabine telefónica para uma mulher misteriosa, na penumbra, de quem nunca vemos a cara. Aos poucos vimos a saber que ela o ajudou outrora num caso, que é geneticista e que está a ser perseguida, daí toda a cautela nos telefonemas de Reid. Também percebemos quase de imediato a empatia entre os dois e a trapalhação quase adolescente de Reid em relação a ela, mas todo o mistério em roda dela faz-nos querer a aproximação mas simultaneamente dá-nos uma sensação de medo enorme, não vá o ingénuo Reid estar a ser enganado por uma mulher espertalhona... Uma coisa é certa: Quem é essa mulher??

Os autores vão mantendo-nos curiosos durante uns cinco episódios, espicaçando-nos, dando a informação em curtas cenas e aos poucos. Quando chegamos aos episódios da resolução deste arco narrativo, sabemos muito pouco acerca dela. Reid marca um encontro, mas com medo do perseguidor e provavelmente algum receio de vê-la ao vivo, acaba por não esperar. Não Reid, devias ter ficado, é uma oportunidade única!

No episódio seguinte ambos esclarecem o mal-entendido e ficam bem. Mas o perseguidor revela-se, a BAU, a pedido de Reid, investiga e passamos um episódio angustiante a temer pela vida de Maeve, a querer que Reid a conheça e que tudo não seja um esquema do Replicator (o arco narrativo principal, o perseguidor da equipa da BAU). Mas não, Reid não tem direito à felicidade romântica banal e perde Maeve da pior forma possível e ainda por cima assiste a tudo de perto.

Eu passei uma semana traumatizada com tudo isto. Reid é dos meus preferidos desde que comecei a ver Criminal Minds, é um geek delicioso e ainda por cima é giro! É tão adorável que introduzirem uma potencial namorada perfeita para ele e matarem-na logo a seguir de forma tão terrível é a maior crueldade para o espectador (e para ele)! Pobre Reid! O arco foi tão bem escrito que até ao último episódio estivemos sempre com um misto de curiosidade e desconfiança de Maeve e só mesmo quando vemos a sua cara pela primeira vez essa desconfiança se desvanece. Maeve não podia ter morrido, o próprio Reid calculará que as probabilidades de ele voltar a conhecer alguém assim são quase nulas... É isso que faz uma boa escrita de ficção e os autores de Criminal Minds surpreenderam-me e tornaram-me ainda maior fã da série.

Um facto curioso que me fez empatizar mais ainda com Maeve é que a actriz que a interpreta é a mesma de Parker de Leverage (Beth Riesgraf), a minha personagem preferida da série e também com uma personalidade àparte. Como estava a ver as duas séries ao mesmo tempo, tive dificuldade em dissociar Maeve de Parker o que me fez torcer ainda mais para que ambos ficassem juntos, até porque a reconheci antes dos episódios finais, ela tem um sorriso peculiar. O Reid deveria ter ficado com a Parker!

Quis rever o episódio e não consegui. É verdade que factores externos contribuíram para isso, mas ainda tenho o episódio gravado na box, talvez volte a revê-lo quando terminar a série, que para além de ainda não ter acabado também não tem desiludido.
ZUGZWANG

Criminal Minds

07 maio 2013

Gosto de Anti-Heróis

Dentro dos arquétipos da narrativa o meu preferido é sem dúvida o anti-herói (imediatamente seguido do vilão). Os heróis são demasiado bonzinhos, obedientes e previsíveis, o interesse amoroso às vezes pode ser interessante ou destabilizador (Eva) mas como a maioria das vezes é uma mulher (por oposição a um herói masculino) só está lá para fazer figura, o mentor é isso mesmo, o mentor, serve para fornecer informação útil mais tarde e o vilão, quando bem construído (Darth Vader), pode salvar uma história. O anti-herói está confortavelmente algures entre o herói e o vilão, conduz a história mas não é bonzinho e previsível, mas, mesmo que na maioria das vezes contrariado, está lá para salvar o mundo, tal como o herói. Às vezes temos ambos, herói e anti-herói, outras vezes apenas o anti-herói. Confesso que prefiro a primeira situação, normalmente é quando o anti-herói se revela no seu melhor (Han Solo).

Isto tudo para chegar a Leverage (Jogo de Audazes, na versão portuguesa), uma série em que todas as personagens principais são anti-heróis e todas simples mas bem construídas. É assim de presonagens multifacetadas que gosto! A história também é simples, o grupo é uma espécie de Robin Hood e os seus Merry Men moderno, mas com o protagonismo mais distribuído e com um grande buraco no argumento: de onde vem o dinheiro para eles montarem as suas operações sofisticadas ao nível de Mission: Impossible? Não vi as duas primeiras séries, só comecei a ver no início deste ano, quando estava com mais tempo livre, portanto talvez a explicação esteja aí. Mas se não estiver, é um bocado indiferente, pois Leverage é uma série que vive mais das personagens e planos rocambolescos. Venha a "suspension of disbelief"!

Então venham as personagens!
Nate Ford
O cabecilha, "o cérebro", do grupo e quem em geral dá a ordem de avançar. É um tipo muito inteligente, com muita experiência mas nunca temos a certeza se o que o motiva são as boas intenções ou se tem interesses secundários. Apesar de criar planos mirabolantes e intrincados, quando o lado emocional surge ele fica sempre muito perto de falhar. Também é extremamente vaidoso e simultaneamente inseguro, o que o torna imprevisível.
Sophie Devereaux
Uma das variadas identidades da "aldrabona" de serviço, e ninguém sabe se a verdadeira, com um passado obscuro que envolve multimilionários, fortunas, peças de arte lendárias e uma vida glamourosa internacional. Sophie domina a análise comportamental e é extremamente versátil e boa a improvisar. Tal como Nate é demasiado vaidosa para seu próprio bem, mas tem uma noção melhor que a dele das próprias capacidades. O seu calcanhar de aquiles é o mesmo passado obscuro que volta por vezes para a assombrar.
Eliot Spencer
"O músculos" é também um gourmet e chef cuja ambição de reforma é abrir um restaurante. Como manda o figurino, é um coração de manteiga por baixo da figura truculenta. É o que mais facilmente se envolve emocionalmente com os casos, mas sabe bem usar isso a seu favor quando necessário. Eliot é uma espécie de Chewbacca para Nate ou Hardison (e eu a dar-lhe nas referências a Star Wars!).
Parker
É a "cat burglar" com um passado intrigante de uma educação fora dos padrões comuns, roubos impossíveis e um conhecimento enciclopédico de obras de arte valiosas e alarmes e cofres impossíveis de arrombar. Parker é quem tem a personalidade mais fora, não se rege pelo senso comum normal, mas tem um raciocínio extremamente lógico. Ela é como uma espécie de criança grande com uma memória, inteligência e agilidade acima da média. O seu calcanhar de aquiles é a ignorância quase total das regras da sociedade comum ocidental - ela acredita no Pai Natal!
Alec Hardison
O "hacker" quase infalível. Sempre que as suas capacidades são postas em causa amua mas tenta imediatamente superar-se. É caprichoso e anda sempre às turras com Eliot, apesar de serem melhores amigos mas não o admitirem nem sob tortura.

Cada episódio de Leverage é divertido, intrigante e entusiasmante, mesmo quando a fórmula: chega cliente - elabora-se estratégia - coloca-se o plano em prática - lida-se com os imprevistos - saída estratégica - recompensa do cliente injustiçado; se repita em quase todos. É nos pormenores, nos detalhes de cada plano, nos tiques de Parker, nos disfarces de Sophie, nas reviravoltas dos planos de Nate, na brutalidade eficaz de Eliot ou no software infalível de Hardison que está a riqueza de cada episódio. Ao longo das séries vamos tendo arcos narrativos menos previsíveis, em geral ligados ao passado de um deles, mas cada episódio pode ser visto individualmente sem necessidade de ver os primeiros.

Leverage é uma série à antiga, simples, infinita, com um elenco fixo bem construído. É daquelas séries que se vê repetidas vezes, fora de ordem, mas que se quer ver inteira e mais ainda. Numa época de séries sofisticadas mas que perdem o rumo com facilidade no excesso de intriga ou personagens adicionais, prefiro ver Leverage que se mantém simples, divertida e fiel à permissa incial: uma espécie de cruzamento de Robin Hood com  Mission: Impossible.

TNT - Leverage
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