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30 agosto 2011

Jaquelinda

 

Ti Ti Ti deve ser a primeira novela que acompanhei tanto o original como o remake. Nos anos 80 (a original é de 1985, mas não sei a data certa em que passou por cá), quando vi Ti Ti Ti, achei uma novela da tarde divertida mas um pouco exagerada em certos aspectos e sem nada que a tornasse verdadeiramente original, excepto o tema: a moda. Mas a Ti Ti Ti de 2010 é uma novela muitíssimo mais pertinente e actual, pelo que talvez se possa dizer que a versão de 85 foi de certa forma profética em relação ao mundo da moda.

Em 85 ainda a moda, tal como é encarada hoje, não tinha explodido, ainda não tinha havido a época das top models que não saíam da cama por determinada quantia exorbitante, ainda não se falava em moda de rua, a moda era mais uma ditadura e menos um modo de expressão pessoal, não estava tão presente no nosso dia-a-dia como está agora e, fundamental na versão de 2010, não havia o mediatismo e imediatismo actual e não existiam os BLOGS. Portanto, o tema, o que vende um bom estilista, se a qualidade das suas criações ou o marketing que o envolve, é agora mais actual do que nunca! A isso podem-se acrescentar as políticas de gestão de uma revista de moda, as rivalidades das divas (se bem que no Brasil, nos anos 80 isso talvez fosse mais actual) e a importância da rapidez ou da honestidade de uma opinião expressa em público.

Não me lembro se havia algo equivalente ao blog de Beatrice M. na versão original, mas nesta foi uma pedrada no charco e golpe de génio dos criadores da novela, que através do blog e da brilhante Mabi (Clara Tiezzi), criaram uma espécie de "rei vai nu" da novela, usando um meio que tem explodido na internet nos últimos anos: o blog de moda. Mabi é uma miúda de 12 anos, que opina de forma perspicaz e franca acerca da moda, criada à semelhança da famosa blogueira de moda infanto-juvenil norte-americana Tavi.

O elenco em geral foi muito bem conseguido e, excepto num ou dois casos, é bom ver alguns dos actores que interpretam os protagonistas a fazer comédia. Alexandre Borges (Jacques Leclair/André Spina), sempre um galã bonzão nas novelas, mas tipo sério e elegante, faz uma caricatura brilhante de um costureiro piroso e afectado, que, por menos credível que possa ser num contexto real, encaixa-se como uma luva com as duas outras partes do seu trio. É um prazer voltar a ver Murilo Benício (Victor Valentim/Ariclenes Martins) de volta à comédia. Ele é bom actor em qualquer circunstância, mas é na comédia que gosto mais de o ver, pois é mais comovente e vulnerável. O seu Ari, sendo uma personagem à partida simples e básica, é de uma complexidade subtil que com certeza muito deve ao actor.

Mas eis que chego ao terceiro vértice deste triângulo pouco amoroso, Jaqueline Maldonado! Porque é que Claudia Raia não faz mais comédia?? A sua Jaquelinda é um regresso de Ninon, a "bailarina da coxa grossa" de Roque Santeiro, num misto de ingenuidade, bom coração, coragem e uma dose cavalar de trapalhice e fanatismo pela Xuxa. Sempre que Claudia Raia entra em cena, rouba a cena! Há muito que não a via em comédia e com Ti Ti Ti percebe-se que é onde está como peixe na água, fazendo de Jaqueline a "minha" personagem!

Por fim, nada bate Jaqueline a chamar a Suzana Martins (Malu Mader) "fera radical"!!! Outra novela dos anos 80 que deixou excelentes memórias. E é sempre agradável ver roupa bonita e a Globo, como sempre, não desaponta nesse campo.

Ti Ti Ti - Globo

20 agosto 2011

Rever o Espaço: 1999 (S2)


Space: 1999 - The Metamorph
Mentor (Brian Blessed) e Maya (Catherine Schell) em Psychon

Separei os meus comentários acerca do Espaço: 1999 num para cada série por três razões: a primeira porque acho que a série merece, a segunda porque apesar de partilharem o mesmo título, permissa, local e elenco principal, a 1ª e a 2ª séries do Espaço: 1999 parecem duas séries completamente diferentes, tamanhas foram as mudanças de uma para a outra, e por fim porque ficaria um post gigante, que seria uma seca.Eu adoro ambas as séries, mas por razões completamente opostas, só tenho pena que as qualidades de ambas não tivessem existido nas duas produções.

A 2ª série teve um aumento no orçamento, mas passei todos os episódios (excepto um ou dois) a perguntar-me onde foi parar o dinheiro a mais. No geral a 2ª série é consideravelmente menos sofisticada que a 1ª em quase todos os aspectos. Os cenários repetem-se (sempre os mesmos adereços, sempre o mesmo backlot), o elenco principal é dividido para poupar nas rodagens (muitas vezes dois episódios eram filmados em simultâneo), os efeitos especiais são mais manhosos, recorrendo demasiadas vezes ao foco de luz verde (scanning alienígena) ou ao secador de cabelo (gravity pull) e os argumentos são uma porcaria.

Transformaram o Comandante Koenig, um homem admirável e um líder muito humano, num comandante prepotente e arrogante que está sempre aos berros, a Drª. Helena Russell numa tontinha que deixou de ser convincente como médica, o Paul Morrow metamorfoseou-se em Tony Verdeschi, que apesar de ser uma personagem com potencial, é irritante, a Sandra dividiu-se em duas (Sandra e Yasko) e não faz muito mais que carregar em botões e as piadinhas finais eram completamente desnecessárias. A única personagem, e o grande trunfo da 2ª série de Espaço: 1999, que funcionou bem foi a introdução da Maya.

Ah a Maya, o sonho de todas as raparigas dos anos 70 era serem como ela! É incrível como conseguiram estragar quase todas as personagens que transitaram da 1ª série mas criaram uma tão boa, principalmente face à ausência de profundidade geral. Sendo ela uma extraterrestre, podiam fazer o que quisessem com ela e tornaram-na uma princesa inteligente, engraçada e dinâmica. Sim falta-lhe mais profundidade, se eu fosse a última da minha espécie, com certeza que não seria tão alegre e levezinha como ela, que quando o assunto é mencionado apenas responde com alguma tristeza. A Maya também serve como um mecanismo fácil para tirar as personagens de enrascadas e isso é facilitismo narrativo. Alguma angst e talvez mais pontos fracos evidentes, tornariam a Maya na heroína perfeita! Mas ela ainda é a minha!!

Ora bem, se queriam tirar o ar grave e sério ao Espaço, a Maya foi realmente uma mais-valia, ela é leve, algo frívola, divertida, interessante, mas não precisavam de tornar a Drª. Russell assim, aliás se houvesse contraste entre as duas seria muito mais interessante como relação interpessoal. Os habitantes da Base Lunar Alpha pertencem a uma organização para-militar, portanto são profissionais sérios e têm pela frente um problema mais sério ainda. Não significa que não possam ser pessoas divertidas nos tempos livres, aliás isso foi abordado pontualmente na 1ª série, mas não é de cervejas experimentais nem de brindes que trata o Espaço: 1999! Também exageraram em introduzir dois casais, bastava um. O casal Drª. Russell/Comandante Koenig podia continuar pela sugestão ou tensão sexual, que são sempre muuuuito mais interessantes, e como casalzinho "júnior" teriam então a Maya e o Tony, que acabam por sê-lo muito menos que deveriam. Mas eram os anos 70 e ainda não tinham sido criados a Maddie Hayes e o David Addison, de Moonlighting, ou o Mulder e a Scully, de X-Files. Nisso os argumentos não ajudaram, na grande maioria são mais do mesmo, a fórmula repete-se de modo demasiado óbvio e não têm um tema individual e profundo como tinham os da 2ª série.

Mas nem todas as mudanças foram más! Os uniformes evoluíram, tornaram-se menos "abstractos" com a adição de casacos e novas peças, a banda-sonora, apesar de mais americanizada, continua interessante, há personagens novas que é pena não serem aprofundadas e bons temas em potencial. Infelizmente os episódios verdadeiramente bons, ou pelo menos à altura dos da 1ª série, contam-se pelos dedos (The Metamorph, The Exiles, The Mark of Archanon, The AB Chrysalis) e há episódios que uma pessoa se pergunta o que estão ali a fazer (The Taybor). E depois há outros que ficaram na memória por causa da componente visual, quem se esqueceu dos monstros "esparguete à bolonhesa" de Bringers of Wonder?? Ou das amazonas escarlate de The Devil's Planet?

Em suma: 1ª série pelos argumentos e pela sobriedade, 2º série pelo factor kitsch e pela Maya.

Space: 1999 Net, Português
Catacombs - Space: 1999 Year 2

18 agosto 2011

Rever o Espaço: 1999 (S1)

Space: 1999 - Guardian of Piri
o meu episódio preferido da 1ª série

Apesar de já ter revisto mais que uma vez o Espaço: 1999, acho que desta vez, através da RTP Memória (eu tenho os DVDs mas é mais divertido ver na TV), foi a vez que mais gostei de rever a minha série preferida. Isto vai completamente contra a ideia geral que o Espaço: 1999 envelheceu mal, OK o guarda-roupa pode ser datado (mas eu gosto) mas o resto está muito longe de o ser.

Resumidamente o meu maior prazer em rever a série é ter ficção-científica a sério. Lá porque uma série, filme ou livro se passa no espaço ou no futuro, isso não significa que seja ficção-científica a sério. A verdadeira ficção-científica encontra-se essencialmente nos livros e costuma colocar questões pertinentes e filosóficas. Todos os episódios sem excepção da 1ª série do Espaço: 1999 são assim! E o que gostei mais ainda foi o facto de muitas questões serem religiosas, ou mesmo católicas (Deus existe?), mas nunca haver uma conclusão fechada e estanque e a escrita da série é liberal o suficiente para não evangelizar nem nos dar lições de moral. Para mim é o melhor tipo de escrita narrativa, num sentido mais clássico, e foi esse o meu maior prazer, ver esses episódios que nos falam de humanidade aliados a um pouco de aventura e sim, ciência! Há também uma notória preocupação com o rigor científico e é surpreendente ver que muita da tecnologia "de ficção" de 1975 existe actualmente, mesmo que com outro design. O commlock é a melhor delas, quem me dera ter a pachorra que um fã teve, para transformar um em telemóvel! Assim talvez lhe ligasse mais!!

E os efeitos especiais?? Arcaicos? NUNCA!! Há coisas que são óbvias, como as maquetes e algumas explosões, mas líquidos, fogo e fumo sempre foram um problema por causa da escala. As pessoas que trabalharam nesta série fizeram escola nos efeitos especiais. Actualmente contam-se entre os maiores gurus da especialidade e olhando para o Espaço: 1999 em 2011, há lá coisas que ainda não se consegue perceber como foram feitas, de tão boas que são. Hoje-em-dia seriam resolvidas de forma barata e fácil com um 3D.

Não percebo a razão de traduzir e retraduzir coisas que já estão feitas, Espaço: 1999 já passou umas 4 vezes em canais portugueses e tem uma edição em DVD nacional e pelo menos 4 dessas traduções (3 na TV + 1 DVD) são diferentes. A da RTP Memória pecou por já utilizar o acordo ortográfico, enquanto ainda não é obrigatório o seu uso, e por uma clara falta de atenção em alguns detalhes facilmente pesquisáveis na Wikipedia ou nas Catacombs, outra foi dizerem "as" Águias. OK, eu sei que está mais correcto, pois "águia" ou "nave espacial" são do género feminino, mas sempre foram "os" Águias até há dois meses atrás. Eu sei, é uma picuinhice, mas são daquelas coisas que um fã hardcore estranha sempre. Mas no geral a tradução não é nada má, foi raríssimo o erro de português encontrado e a ortografia estava impecável. Os episódios também passaram numa ordem estranha, principalmente para juma fã como eu, que já está habituada à ordem de produção, a mesma respeitada pelos DVDs da Carlton.

Com isto, a Moonbase Alpha voltou a ser um sítio onde não me importaria passar uns tempos e, com sorte, ainda apanhar algum planeta ou extraterrestre de brinde!

Space: 1999 Net, Português
Catacombs - Space: 1999 Year 1
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