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23 maio 2023

To Sci-fi or Not to Sci-fi

Infelizmente aos soluços, pois não apanhei a série nos dias em que estreou, consegui ver a grande maioria dos episódios de Mission: Impossible. Mas espero ver os que faltam um dia, noutra reposição da RTP Memória

No início, pois na reposição da série nos anos 80 só vi dois ou três episódios, o meu interesse estava sobretudo em Martin Landau e Barbara Bain, o casal maravilha, cujo sucesso em M:I lhes proporcionou os papéis de Commander Koenig e Dr. Helena Russel, em Space: 1999, a série em que os conheci. Mas M:I tem uma característica singular, de os vilões ou convidados do episódio terem mais densidade psicológica que o elenco principal. Isso tornou, para mim, o desempenho de ambos demasiado distanciado e frio, deixando aquém das minhas expectativas. 

Essa ausência de caracterização psicológica dos protagonistas de M:I faz desta série um caso estranho de sucesso. Actualmente, se o espectador não cria empatia com os protagonistas de uma série ou filme, é meio caminho andado para o cancelamento (não é de um cancelamento woke que estou a falar) dessa série. As séries modernas vivem das personagens, por isso temos quase sempre protagonistas de alguma forma peculiares, carismáticos, que mostram tanto as qualidades, como os defeitos. Como não vi episódios suficientes a primeira vez que vi a M:I, tenho dificuldade em compreender a dimensão do sucesso da série, para alémde alguns elementos. 

Mas há elementos que justificam esse sucesso, vou falar deles um a um.

Os gadgets

Os gadgets eram a segunda coisa de que melhor me lembrava de M:I, tenho uma memória clara de máscaras de borracha, disfarces criativos, instrumentos mirabolantes e premonições da vigilância moderna, que provavelmente já existia nalguma forma, mas que não era do domínio público. Os gadgets são definitivamente um dos principais pontos de interesse de Mission: Impossible.

Os planos.

Os planos intrincados para cumprirem a missão e passarem despercebidos são outro dos grandes pontos de interesse de M:I e a característica mais original da série. Infelizmente, a dada altura, as intrigas começam a entrar numa fórmula fixa, retrato da Guerra Fria que se vivia, onde os vilões ou eram de algum país comunista de leste, sem mencionar o "palavrão" "comunista", ou uma ditadura militar na América latina ou Ásia menor. Raramente vemos episódios passados em África e os dos Estados Unidos, apesar de tudo ainda a maioria, tratam sobretudo de máfias criminosas locais ou dramas com heranças familiares.

Os episódios dos países do Leste europeu eram os mais divertidos, pois a sinalética era toda criada de modo que um espectador anglófono médio as compreendesse. Usavam palavras como: "nüklear", "companica de aqua" ou "companica de gaz" e muitos mais. Infelizmente não anotei mais que estes, mas alguém se terá divertido bastante a criar estas nomenklaturas. Os tipos de letra também mudavam, sendo os mais evidentes em países de influência germânica, onde as letras eram frequentemente góticas.

A sequência inicial.

Calculo que, tal como eu, semana a semana, os espectadores dos anos 60 e 70, não perdiam as sequências iniciais, onde Mr. Phelps ouve (ou vê) as instruções das missões, para as ver desfazerem-se em fumo. A grande maioria eram mini gravadores de bobines, guardados em áreas de acesso limitado, como guaritas de obras, caixas de electricidade, porta-luvas de carros, etc. Mas outras eram um bocadinho menos plausíveis, como uma vez que Mr. Phelps vê as instruções nuns binóculos de moedinha de um miradouro. Nas temporadas mais tardias nem sempre os episódios começavam assim, talvez numa tentativa de variar a fórmula, mas confesso que senti a sua falta. Gosto delas.

Curiosamente, para além de Peter Graves, Mr. Phelps, o cabeça da equipa, o actor que entra em mais, senão em todos os episódios, é Greg Morris, como Barney Collier, o mestre dos gadgets e disfarces. Acho curioso pois, nos anos 60 e 70, uma época ainda de grande segregação nos EUA, o segundo principal actor da série é negro e ainda por cima tem uma das personagens mais interessantes. De Mr. Phelps sabemos pouco, apenas que é inteligente e um bom estratega, já Barney é também inteligente e com excelentes conhecimentos de engenharia, tecnologia, mecânica, etc. Todos os outros cumprem papéis mais genéricos, ou são os músculos, como Peter Lupus (Willy Armitage), ou servem para seduzir os alvos das missões. Em aparições bem menores, temos um médico, Sam Elliot (Doug Robert), que tem uma função claramente útil, mas que nem sempre é aproveitada.

Das mulheres, a minha preferida foi Leslie (Ann) Warren (Dana Lambert), apesar de precisar de alguém a ensinar a correr de um modo mais atlético. Mas nada bate os vestidinhos de Barbara Bain, em geral sempre dentro de uma elegância formal anos 60, mas por vezes mais arriscados. Embirrei à brava com Linda Day George, demasiado coisinha, e Lee Merriweather teve um desempenho competente.

Dos homens, desculpa Martin Landau, ninguém passa à frente de Leonard Nimoy! Depois de Space: 1999 me viciar em ficção-científica para todo o sempre, veio Star Trek à televisão portuguesa para me trazer a minha segunda paixoneta cinematográfica/televisiva: Mr. Spock. Mesmo tendo outras paixonetas posteriores, Leonard Nimoy, na pele de Spock, marcou-me para sempre e, ainda hoje, acho-o todo bom! E foi um actor e pêras! Depois, aquelas patilhas e aquelas golas altas em M:I matam-me! =)~ A-ham, agora a sério, dentro das personagens genéricas mas importantes de M:I, Paris é das mais carismáticas e versáteis. Landau, na pele de Rollin Hand, oscilava entre os disfarces de general ou déspota maquiavélico, enquanto que Paris tinha maior vocação para se integrar numa diversidade de cenários, de condutor de carroça a multimilionário corrupto. Mas, como já disse acima, também gostei muito da personagem de Barney.

Porquê este título? Apesar de Mission: Impossible ser anterior a Star Trek e Space: 1999, as três estrearam por ordem cronologicamente inversa, pelo menos desde que tenho idade para ver TV. Portanto, a minha exposição aos actores que transitam nestas séries, foi menor em Mission: Impossible, e teve início em duas séries de ficção científica de cultoApesar das intrigas de espionagem, Mission: Impossible também inclui uma forte componente de ficção científica, nem que seja nos gadgets futuristas e impossíveis, sobretudo das primeiras temporadas. 

Enquanto via M:I, só me lembrava de uma série moderna que passou um pouco despercebida, mas que está no meu coração: Leverage. Agora apetece-me rever Leverage, e nem vislumbre da série nos canais portugueses... Leverage, série de que falei aqui, é claramente baseada na premissa de Mission: Impossible, mas com outro contexto. Em vez de a organização ter ligações governamentais e políticas, o grupo de Leverage é um grupo de marginais, que concretiza missões por encomenda, na maioria das vezes pouco legais ou legítimas. Alguns dos elementos da equipa inclusive têm cadastro ou são procurados pela polícia. A equipa também é mais coesa, variando muito pouco, com elos fortes entre elementos e cada personagem tem uma caracterização muito mais complexa e empática. Por fim, também é pontuada por um grande sentido de humor, fazendo com que a série seja facilmente devorada de uma assentada, deixando ficar o desejo por mais. É como se Leverage fosse uma versão de Mission: Impossible, com um belíssimo upgrade.

Mission: Impossible (imdb)

Leverage (imdb)

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