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15 junho 2020

O Último Estertor da Hollywood Clássica


Este mês, a FOX Movies resolveu fazer um ciclo de filmes de Jerry Lewis e eu resolvi revê-los, pois já não via nenhum desde os anos 90, época em que também passava o The Jerry Lewis Show, o seu programa de variedades, na nossa TV.
Passaram os filmes, por ordem cronológica: Rock-a-Bye Baby, The Geisha Boy, Cinderfella, The Ladies Man, The Nutty Professor, Who's Minding the Store, The Patsy, The Disorderly Orderly, The Family Jewels, Boeing, Boeing e Ja, ja, mein General! But Which Way to the Front?. Filmes do final dos anos 50, início dos 60. The Nutty Professor passou com o título português As Noites Loucas de Dr. Jerryl, mas eu lembro-me bem de ver o filme em cartaz com o título O Professor Chanfrado. Em que ficamos?

Tal como os filmes de cordel, estes filmes têm uma fórmula básica: Jerry Lewis faz sempre de trapalhão ingénuo, que conquista a sua felicidade no final. É quase sempre uma personagem plana, mas que muda o status quo à sua volta. Costuma ter um interesse romântico, na pele de uma menina jeitosa, loirinha, um pouco mais vivida que ele, mesmo que seja mais nova. Também costumam contracenar com ele actores veteranos, como a fabulosa Agnes Moorhead, Peter Lorre ou Tony Curtis. São 90 a 100% filmados assumidamente em estúdio, mesmo a maioria dos exteriores são em estúdio, têm pelo menos um número musical ou uma big band convidada, uma equipa técnica fixa e, last but not least, os figurinos femininos são de Edith Head. Um regalo para os olhos. A única coisa que varia é o contexto, onde há um pouco de tudo, uma universidade, uns grandes armazéns, animar as tropas num país ocupado, uma terra pequena, uma pensão de raparigas. O conflito costuma ser o desajuste das personagens de Jerry, que faz com que quem o rodeia se adapte, porque é bom rapaz. Claro que nem todos têm todos estes elementos e há sempre pequenos quadros que se tornam memoráveis, como o da máquina de escrever, em Who's Minding the Store, ou os magníficos cenários de The Ladies Man ou The Patsy.

Acho uma certa piada a Jerry Lewis, as histórias dos seus filmes são simples, mas eficazes, tem ideias geniais, que têm sido copiadas inúmeras vezes, e um excelente desempenho de todos. Aliás, acho que Lewis é um bom actor, a dada altura fixou-se demasiado num registo um bocado palerma, que é muito cansativo. Quando Lewis actua a sério, mesmo em cenas de comédia, percebe-se o seu talento, o problema é que descamba sempre para o registo da idiotice, que por vezes estraga. As caretas, os trejeitos e aquela voz irritante, tornaram-se de tal forma a sua imagem de marca, que é impossível escapar. No entanto, os seus filmes são muitíssimo bem produzidos, dentro do sistema de produção clássico do Studio System. Ele era com certeza extremamente popular, pois mesmo dentro deste tipo de produção, estes filmes tinham um belo orçamento. O mais discreto destes todos é Geisha Boy, onde o orçamento da direcção artística foi gasto na produção fora de portas. Falando em Geisha Boy, para um filme dos anos 50, com um título infeliz, filmado no Japão, no meio da ocupação americana do pós guerra e da segregação, com uma temática pró-americana, o filme tem um enorme e invulgar respeito pela cultura japonesa. Todos os actores orientais, falando ou não inglês no filme, são japoneses ou seus descendentes, os cenários naturais muito bem filmados e os únicos clichés são as paisagens turísticas. Os kimonos todos genuínos e vestidos como deve ser, até um consultor japonês o filme tem! Não sei até que ponto Edith Head teve mão e opinião no guarda roupa japonês, mas se teve, também teve imenso respeito e nada parece desajustado..
Gosto muito da estética guerra fria destes filmes. Têm uma direcção artística, muito clean, com uma paleta de cores desaturadas, onde predomina o branco e as únicas cores vivas costumam ser o vermelho, o azul celeste, o verde relva, o amarelo ou o laranja. Cores muito solares. Essas cores vivas, em geral estão directamente associadas a Lewis, como se para o destacar. Esta estética também era popular em televisão de estúdio, e conjuga elementos clássicos com elementos modernistas. O melhor exemplo para descrever esta estética, é uma memória que tenho de mais tarde, do Jerry Lewis Show, onde uma varanda, tão grande como um terraço, tinha relva sintética (astro turf) e um banco baloiço, provavelmente com tecido às flores. Há uma varanda semelhante, que se vê bem no final de The Patsy.

Jerry Lewis é filho, ou neto, do Vaudeville, isso nota-se no modo como os seus filmes são concebidos em forma de quadros. No meio da transição, em termos históricos e técnicos, estes filmes parecem antigos e conservadores, face à vanguarda, que ganhava terreno a olhos vistos. Por seguirem o modelo dos musicais clássicos, como os filmes de Esther Williams ou Fred Astaire, são o que restou dos filmes de estúdio da Hollywood clássica. Mesmo assim, estava à espera de os filmes terem mais tiradas, agora politicamente incorrectas, do que na realidade têm. Apesar de comédia slapstick e dentro do sistema, Jerry Lewis consegue esquivar-se sempre a tópicos mais sensíveis, dando-lhe uma certa intemporaneidade.

É muito interessante ver estes filmes de uma assentada, analisar os elementos em comum e deleitar-me com a sua estética reconfortante, mesmo que irrealista. Não devem em nada aos filmes actuais em termos de ritmo e, apesar de serem uma representação utópica do American Dream, como são muito bem feitos e exercem bem a suspension of disbelief, ainda se vêm muito bem hoje.

06 junho 2020

(Inserir Banda Sonora Dramática)

Existe um estilo de série (e filmes também, mas vou concentrar-me nas séries), que quer que seja levada a sério, que se instalou neste século. Este estilo não é assim tão novo, apareceu com a revolução nas séries de TV, com o Twin Peaks, Wild Palms e, mais tarde X-Files, mas parece que se tornou moda com o crescimento das produtoras e canais, como a HBO, Netflix, Amazon Prime, etc.

Mas afinal do que s trata? São séries dramáticas, que envolvem alguma intriga misteriosa ou conspiração, fotografadas em tons escuros, acinzentados ou sépia, e cuja banda sonora é constituída por sons graves, dramáticos, com muitas cordas, acordes bruscos e cenas de silêncio musical total. Eu gostava deste estilo, sobretudo quando era novidade e tinha a magnífica banda sonora de génios como Angelo Badalamenti, que ajudou a estabelecer o ambiente melancólico e insólito de Twin Peaks. Enquanto era em doses moderadas, funcionava. Mas eis que nesta quarentena consumi muitas séries de seguida, na TV e não só, e quando comecei a perceber um padrão, começou a irritar-me, mesmo que o restante conteúdo não fosse mau.

Nestas séries que vi recentemente estão: Chernobyl, Star Trek: Picard (a que tem a melhor banda sonora destes exemplos) e a portuguesa A Espia. Nenhuma destas séries é má, mas também nenhuma tem na narrativa variações dramáticas suficientemente fortes para sustentar estas bandas sonoras muito monocórdicas. Isso acaba por ter um efeito contraproducente, dá-me sono ou faz com que a minha atenção seja desviada para outras coisas (como por exemplo escrever este post enquanto um episódio corre na TV).

Sobre Chernobyl já escrevi, Star Trek: Picard não é má, mas parecia mais que estava no universo de Caprica que de Star Trek. No geral gostei, mas não é de todo marcante. Tem mais um efeito nostálgico, talvez testamentário, e falta-lhe uma certa patetice, que dava cor a Star Trek. Cá está, leva-se demasiado a sério.
A Espia, protagonizada por Daniela Ruah, de quem sou fã desde os Jardins Proibidos e não decepcionou, é uma boa série portuguesa, sobre a espionagem em Portugal durante a II Guerra Mundial, um tema não abordado vezes suficientes na ficção nacional. É muitíssimo bem produzida, tem uma bela fotografia, boa realização, a história não é má, tem excelentes desempenhos dos actores (apesar de achar que os sotaques estrangeiros precisavam de mais um bocadinho assim), bom guarda-roupa e uma dessas bandas sonoras dramáticas. O problema não é a série em si, é a redundância e já haver demasiadas séries com um estilo semelhante, que faz com que A Espia se perca no meio delas, por não ter nada que a faça destacar.

De qualquer modo, fico feliz por se andarem a produzir séries como A Espia em Portugal, significa que algo está a mudar e os defeitos técnicos e de estilo que marcavam negativamente a ficção nacional, estão defiitivamente em vias de extinção.

30 abril 2020

Púrpura

Sempre achei o Prince um génio musical, mesmo que nem sempre apreciasse o estilo, mas sempre achei a sua estética visual, usando um termo muito anos 80, fatela. Dentro do revivalismo barroco anos 80, sempre fui mais Adam Ant, com os seus uniformes militares e ar de pirata.
O facto de não achar o Prince um homem bonito, também não ajuda... Isto tudo para dizer que, apesar de estar sempre enfiada em salas de cinema por volta de 1984-85, nunca tive grande vontade de ver Purple Rain em sala, até porque mesmo na época, o filme me pareceu mais um meio de promoção do músico, um videoclip alongado, que propriamente um filme com cabeça tronco e membros.
Agora que finalmente matei a curiosidade que ficou, graças à FOX Life, não podia estar mais certa, teria dado os meus escudos por desperdiçados, se tivesse ido ver o filme ao cinema.

Mas eu cresci e Purple Rain não é de todo mau, a música é claramente toda composta por Prince, mesmo a das bandas rivais ou a música de fundo, o que mostra a sua versatilidade, e Purple Rain, o álbum, tem algumas das suas melhores músicas - When Doves Cry, Purple Rain. Eu agora convivo melhor com a estética, mesmo continuando a não ser o meu estilo preferido dos anos 80, e o filme não é nada mal produzido e filmado. A narrativa e os diálogos é que são realmente fraquinhos ("don't get my seat wet" - a sério? x'D), Prince é o clássico filho em conflito geracional e cultural com o pai, para sofrimento da mãe, e está numa daquelas fases contra o mundo, e a namorada, onde até se desentende com as músicas da sua banda, as fabulosas Wendy & Lisa. Por trás ainda existem as clássicas conspiraçóes de poder e manipulação, onde Prince, como bom moço que é, não encaixa, mas tem de lidar, se quer alcançar o sucesso.

Purple Rain é um filme antológico e divertido, onde apesar da fatelice, as novas gerações podem ter uma amostra dos genuínos anos 80. Pelo menos uma parte deles.

Purple Rain

10 abril 2020

Nuclear Não, Obrigado!

Apesar de uma amiga em quem confio me ter dito que seriam 5h da minha vida perdidas, não podia deixar de ver Chernobyl, pois, ao contrário dessa minha amiga, eu já era bem crescidinha quando se deu o acidente/incidente, que foi provavelmente a catástrofe mais marcante e assustadora de toda a década de 80.
Lembro-me de ver as imagens do incêndio na TV, lembro-me de a informação ser pouca e confusa, lembro-me das chuvas ácidas na Alemanha, Bélgica, França, etc. de se falar que a radioactividade não passou abaixo dos Pirinéus e de Portugal respirar de alívio.
Nos anos 80, muito antes de Chernobyl, começaram a maioria dos movimentos ecologistas com engajamento político, o Greenpeace denunciava a caça às baleias, os Partidos Verdes surgiam em vários países, com enfoque na RFA, a PeTA começou a luta contra o uso e comércio de peles, havia manifestações ecologistas um pouco por todo o lado, cujo lema era o título deste post, sobretudo nos países da CEE (onde Portugal ainda não pertencia), de começar a aparecer papel reciclado e de se falar em separação do lixo e reciclagem em geral. Nós em Portugal vivíamos uma grande crise económica, com direito a uma visita do FMI, só podíamos viajar sem passaporte para Espanha e isso de carro, e ainda recebíamos uns trocos pelo vasilhame. Foi também nos anos 80, muito perto da época de Chernobyl, que li o livro Stalker (Piquenique à Beira da Estrada, rebaptizado assim pela Europa-América por causa do filme de Andrei Tarkovsky), de Arkadi e Boris Strugatsky. Só vi o filme uns anos depois, já nos anos 90.

Portanto Chernobyl ficou marcado na minha memória e ficou muito por esclarecer. Foi mais ou menos por essas razões que tinha de ver a série Chernobyl. Esta é uma série que vale sobretudo pelo contar com algum detalhe e, esperemos, veracidade, o que realmente aconteceu a 26 de Abril de 1986.
A série toma o formato das reencenações históricas, com a grande diferença de um bom orçamento e uma produção de luxo, que inclui actores conhecidos, como o Skarsgaard pai e a Emily Watson. A produção é mesmo muito boa, num tom cinzento sépia realista, com excelentes efeitos especiais e de caracterização. É de tal forma bem feita, que tudo isso se torna invisível, mesmo que o ritmo seja um pouco monocórdico, e concentramo-nos no factos, que são o grande valor da série. O acontecido não é romantizado, mas contado sob o ponto de vista dos cientistas e técnicos responsáveis, com alguns camaradas do partido pelo meio, dando ênfase aos sacrifícios humanos, ao mexilhão, e às aldrabices políticas que estiveram por trás. Houve alguma síntese na personagem fictícia de Emily Watson, que conjuga uma série de cientistas que assistiram o protagonista, na personagem recriada por Skarsgaard, a tentar resolver o problema gigante que tinham em mãos.

Portanto, tal como se desconfiava na época, houve imensa sonegação de informação, as medidas de segurança eram insuficientes e certas medidas só foram tomadas por pressão dos outros países. Não deixa de ser impressionante vermos pormenores dos efeitos da radioactividade, como enterraram os mortos, o que aconteceu às gravidezes e partos, como a população foi tratada como carne para canhão, como a radioactividade transforma completamente o ecossistema, mesmo que não o extermine. Como numa citação de Mikhail Gorbatchev no fim da série, foi o início da queda da União Soviética e do Bloco de Leste.

Chernobyl


09 abril 2020

Pretos Estilosos

Pam Grier em Foxy Brown

Adoro filmes de blaxploitation, têm a melhor música, os melhores figurinos, sobretudo dos homens, e as melhores perseguições de carros. Infelizmente não é o género mais popular nos canais de TV, por isso só tinha visto o Shaft, o original com Richard Roundtree, mas também vi o remake com Samuel L. Jackson, e excertos de muitos outros ou filmes inspirados, como Jackie Brown, de Quentin Tarantino, ou Black Dynamite. Eis que a FOX Movies resolveu passar 3 filmes com a Pam Grier (que Tarantino foi buscar para Jackie Brown), Coffy, Sheba, Baby e Foxy Brown e ainda pesquei outro com Isaac Hayes, Truck Turner.

Começando pelos filmes com banda sonora de Isaac Hayes, que também protagoniza Truck Turner, editada pela famosa Stax, que são do melhor funk que há! Depois, QUERO aqueles casacos assertoados, com golas gigantes e camisas coloridas! Há sempre um amigo de infância ou primo, ou irmão, normalmente é primo, que é um patife de quinta, que costuma ter o melhor guarda-roupa: fatos assertoados com golonas em padrões ou cores espampanantes, trilby à banda e afros com risco ao lado. Às vezes acessorizam com cachuchos, pulseiras douradas, alfinetes de gravata e uma bengala a condizer. E não esquecer os brogues em duas cores! A quem desconhece este vocabulário: Google is a friend.

Os protagonistas masculinos podem ser ex-polícias, mas agora são detectives ou caçadores de prémios, com um amigo na polícia e também algum ódio de estimação a quem pisaram os calos, muitas vezes corrupto. São duros, implacáveis, com poucos escrúpulos e apenas duas regras de honra: justiça e vingança. Há sempre, no passado ou no início da história, uma namorada ou melhor amigo patife, que foi assassinado ou desonrado por um cabecilha de um bando ligado a voos mais altos, como tráfico de drogas ou lavagem de dinheiro (que inclui muitas subcategorias igualmente mafiosas), que os leva a sair da rotina. Também é o maior mulherengo da cidade, trocando de mulher como troca de figurino, mas sempre fiel à memória do seu grande amor.

Com Pam Grier não é muito diferente, em geral é a filha, irmã ou namorada de alguém injustiçado ou assassinado por ser honesto e estóico ou querer redimir-se, onde Pam inicia uma busca pela justiça à margem da lei, em geral seduzindo os associados do mafioso mor, em geral um homem branco, até chegar a ele.

Os figurinos masculinos, como já disse, incluem muitos fatos assertoados e camisas coloridas, mas também muita ganga e algum cabedal e fatos de motoqueiro. Os femininos incluem lingerie de sex shop, vestidos sem costas e com decotes até à cintura, muito inspirados em Halston, nas cores mais berrantes do arco-íris (uma das meninas do mafioso de Coffy, no seu funeral, usa um macacão de luto fabulosamente sexy!). Obviamente há muitas maminhas à mostra, ou não tivesse o género a palavra "exploitation" no nome. Os brancos só são estilosos quando estão no topo da cadeia alimentar, mesmo assim, nunca tanto como os pretos. Os capangas usam fatos cinzentos azulados, como se fosse um uniforme, os patrões vestem-se à Bee Gees.

Nem sempre quem manda naquilo tudo são homens brancos, em Truck Turner é Nichelle Williams, a Uhura de Star Trek, viúva do mafioso, que quer acabar com Isaac Hayes. Os carros são quase sempre low riders que nunca mais acabam, há motas, iates, barcos de corrida, motas de água, helicópteros às vezes, aviões, poucos. Há cenas que se repetem: o tiroteio a partir dos carros, o partir a loiça toda num apartamento ou quarto de hotel todo estiloso, a perseguição de carros que inclui uma capotagem, a protagonista a cortar cordas com uma lima de unhas ou semelhante que guardava dentro da afro. Tanta coisa pode ser guardada dentro de afros: armas brancas, armas de fogo, acessórios de beleza, acessórios de cabelo que claramente não estão lá a fazer nada. Isaac Hayes é careca, mas Pam Grier muda quase tantas vezes o cabelo como muda de roupa, o que vai desde a afro ao cabelo "varrido", tipo Farrah Fawcett, anos 70, ou o clássico rabo de cavalo muito repuxado. E depois há o calão colorido do Harlem, que dá uma riqueza a estes filmes, que a maioria do cinema norte-americano não tem.

Nisto tenho de falar em Samuel L. Jackson, o mais digno herdeiro deste cinema e que o honrou razoavelmente bem em Shaft, mas melhor ainda nos filmes de Tarantino. A blaxploitation é um género de uma época especifíca, os anos 70, onde a cultura negra primeiro conseguiu sair dos estigmas da escravatura e racismo e impor-se por si própria, sem se levar demasiado a sério. Isso gerou uma série de filmes muito divertidos mesmo hoje, muito kitsch, e que inspiraram muito mais que o Tarantino o ou Samuel L. Jackson.

04 abril 2020

Apaixonei-me por um Cowboy do Espaço


Se era preciso provar que para ter uma boa série ou filme, basta uma ideia simples mas bem executada, existe The Mandalorian.

The Mandalorian não é muito original, as inspirações são óbvias: os westerns, principalmente os western spaghetti, Lone Wolf and Cub, os filmes de samurais e, obviamente, o universo de Star Wars, onde se integra. Mas o modo como todas estas inspirações/citações foram mastigadas e cuspidas é o que torna The Mandalorian uma série divertida, interessante e muito viciante.

A realização é impecável e muito fluída, os argumentos são simples e resolvem um problema de cada vez, adicionando algo e mantendo a coerência com o arco principal, a fotografia está algures entre os sépias dos westerns e os azuis escuros das space operas. Somos levados a conhecer o universo dos Mandalorians, uma tribo de guerreiros que aparece pontualmente sem grande glória nos filmes de Star Wars, e, para isso, a armadura deste Mandalorian leva vários upgrades, a começar na ausência de pintura, dando-lhe o aço polido um ar mais sofisticado que a armadura gasta e batida de Boba Fett: temos aqui um Mandalorian mais competente. O guerreiro sorumbático e de poucas palavras gera empatia, com uma história de paternalidade inesperada, uma criança sossegada que não faz birras e ainda por cima tem superpoderes, tornam este Mandalorian num potagonista fácil e que queremos conhecer. A relação dele com A Criança (vulgo Baby Yoda) é fotocopiada de Lone Wolf and Cub, mas não faz mal, funciona lindamente neste contexto que, fora a tecnologia, não é muito diferente do dos ronins ou dos cowboys. Desde que não mintam sobre a inspiração e Kosuke Fujishima não se importe (quem sabe se não terá vendido mais um livrinho ou dois à pala de The Mandalorian?), estamos bem. A Criança é completamente adorável, sobretudo porque não chateia e intervém quando é necessário.

Adoro como o TIE Fighter de Moff Gideon aterra, e aquele lightsaber negro... ooooooh! Apesar de o achar mais um vilão de western, o clássico cowboy negro a aguardar o duelo ao pôr-do-sol, que um vilão digno do Império, não deixa de ser convincente, nem que seja na sua resiliência. Opá, os Stormtroopers a fazerem tiro ao alvo e a não acertarem nem um! Pew, pew, pew, pew, pew!

Por fim... ai a banda sonora! Há muitos anos que uma banda sonora original não me enchia tanto as medidas! É herdeira directa de Ennio Morricone, mas Ludwig Göransson dá-lhe uma modernidade que faz com que por um lado suporte lindamente a narrativa e seja épica e, por outro, possa perfeitamente ser ouvida separada da série.

Gostei do final em aberto, com o vilão vivo e espaço para aventuras muito diferentes das desta primeira temporada, mas, para o tipo de série que é, que tem tudo para poder ser muito longa, 8 episódiozinhos é muito pouco! T_T

Já percebi o hype todo à volta dos nomes Jon Favreau e Taika Waikiki, eles são BONS no que fazem!

Infelizmente em  tempos de Corona, a estreia da segunda temporada pode demorar, vamos ter de comer doses duplas de paciência ao pequeno-almoço. Até lá, espero que a Disney lance mais merchandising decente e de preferência baratuxo do The Child X'D

The Mandalorian

27 março 2020

Anjos & Demónios



Cruzes canhoto que não é do pastiche do Dan Brown que vou falar! Vá de retro!

Em tempos de quarentena colocam-se as série e filmes em dia. A eleita dos últimos dias foi Good Omens, baseada no livro de Neil Gaiman e Terry Pratchett.
Dos dois, o que li primeiro, e o meu preferido, é Terry Pratchett, com o seu universo mitológico um bocado herege, onde a Morte tira férias. De Neil Gaiman só li um livro, Stardust, e pedaços das suas colaborações em BD. Gosto das histórias, mas o estilo de escrita não me aquece nem me arrefece. Não foi o suficiente para querer ler mais.

Mas vamos à série: Good Omens começa por ter um elenco cinco estrelas, encabeçado por Michael Sheen, o meu querido David Tennant, a fantástica Miranda Richardson (Queenie!) e participações de muitas caras conhecidas, entre eles Mark Gatiss e Frances McDormand a fazer de Deus.
A história é uma divertida tentativa de um anjo e um demónio de manterem o seu status quo na Terra, que mantém há 6 mil anos. Em 6 mil anos é impossivel não se terem tornado amigos e cúmplices, já que não querem muito mais que o comum mortal, ter uma vidinha agradável a fazer as coisas que gostam. Para abrilhantar a história, os diálogos são bestiais, mordazes e cheios de sarcasmo. Bons para tirar citações. "Milk Bottle, deceased."

Esteticamente a série vai atrás de uma espécie de novo barroco, onde os neutros de Aziraphael (brancos e castanhos) e Crowley (pretos com um pouco de vermelho) se destacam numa Terra de cores quase primárias e com formas cheias de detalhe campestre inglês. O genérico lembra muito o de Desperate Housewives, nas cores, na animação, na música e, obviamente, na maçã vermelha do pecado.

Good Omens é uma série muito divertida, que se vê num instantinho (é curta) e que me fez dar umas boas e sonantes gargalhadas com as suas heresias um pouco pueris. O recontar de cenas bíblicas é do melhor!

Good Omens

17 março 2020

Jack e os Cybermen!

Perdão pelo semi-spoiler no título, mas, nesta altura do campeonato, é muito provável que os Whovians que andam por aí saibam que há Captain Jack e Cybermen na temporada 12.

Em plena pandemia, estou a prever um aumento de posts nos meus blogs, mas já estava a ver a última temporada de Doctor Who antes de ficar em casa, em #autoisolamento. Só espero que a/o Doctor ande por aí a tratar do assunto.

A meu ver, Chris Chibnall teve uma abordagem sensata a Doctor Who, pós o complicadinho Steven Moffat. Já me pronunciei acerca do que penso das temporadas de Moffat, acho as reviravoltas timey-wimey super cansativas e faziam-me perder a concentração algures a meio de cada episódio. Na temporada 11, Chibnall fez uma espécie de reset e manteve as histórias muito simples, preparou o terreno. Na 12, a conversa já é outra e o terreno deu frutos. Os primeiros episódios são uma espécie de versão mais complexa da temporada 11, ainda com um pouco de politicamente correcto, mas mais bem integrado no universo de Doctor Who, por não dominar os episódios. No episódio 5 aparece o Captain Jack para agitar as águas! A série finalmente arranca e passa a fluir melhor, oferecendo-nos bons momentos de terror e de ficção científica. A história dá uma bela guinada, a Doctor e a fam engatam a 4ª e o que se segue é um deleite. Ah, e não há seres humanos "especiais", só fazem o que os heróis humanos fazem: lutar para sobreviver.

Sem spoilers, de todas as reviravoltas para nos surpreender ao longo de New Who, talvez esta, uma espécie de origin story, tenha sido uma das minhas preferidas. Continuo a adorar o arco Bad Wolf, mas este foi claramente bem pensado e estruturado e é muito empolgante. Por fim, o final genial em cliffhanger e o título do próximo episódio, que inclui a palavra Dalek, prometem uma próxima temporada mais agitada que estas duas.

Aplaudo Chris Chibnall por ter pegado num molho de lã enleada e ter conseguido refazer o novelo, respeitando os cânones, mantendo Doctor Who solidamente na ficção científica! Ao 57º aniversário e à nova temporada!

Doctor Who

08 março 2020

Múltiplas Personalidades


Não é facil escrever sobre Legion e vou já avisando que este post é capaz de não ser dos mais coesos. Mas é capaz de ficar a fazer "pandan" com a série. Ou não.

Legion é capaz de ser a melhor coisa cuspida pela Marvel, fora do formato banda desenhada, desde sempre! Nem sei como uma série como esta conseguiu ser produzida e ainda por cima ter 3 temporadas!
Legion não é fácil de digerir, Legion não é banal, Legion tem uma estética diferente, Legion é uma série confusa, sem o ser. Para uma série, cujos episódios têm de ser vistos com 200% de atenção, tem um arco principal da narrativa estranhamente fácil de seguir. Cada episódio dá imensas voltinhas e acaba sempre de forma chocante e inesperada, mas mesmo assim, talvez por ser um caos organizado, por se manter fiel e coerente no seu universo surreal, acaba por tornar-se simples.
Uma das coisas que mais gostei da narrativa de Legion, é que faz o mesmo que David Cronenberg faz em Spider, posiciona-se dentro da cabeça de um esquizofrénico. Em Spider, Cronenberg não tinha o peso de uma empresa como a Marvel em cima, pôde fazer mais ou menos o que bem lhe apeteeceu. Portanto, a narrativa é desconstrutiva e não almeja a nenhum tipo de linearidade. Torna-se um objecto cinematográfico quase abstracto, mas fascinante. Em Legion, a narrativa fugiu mais para o surrealismo, o que a ancora em referências que nos são familiares e torna o processo de assimiliação mais cerebral e menos emocional. O que quero dizer é, em Spider deixamo-nos levar pela envolvência, pelo desempenho do actor protagonista, pela banda sonora, pela imagem, pela mise-en-scène, e não nos preocupamos em montar o puzzle da narrativa. Em Legion, a história é contada de forma linear, em episodios não-lineares, com uma perspectiva distorcida, mas não fragmentada. É como se vissemos a historia através de um caleidoscópio. Aliás, a imagética do caleidoscópio repete-se ao longo das três temporadas.

Cada temporada de Legion foi construída como se de um acto se tratasse. A primeira apresenta-nos as várias personagens, introduz as suas características psicológicas e, nalguns casos, as físicas e apresenta-nos o dilema do protagonista: tratar a doença mental e lidar com os super poderes de mutante. A segunda temporada leva-nos em busca do antagonista e revela-o. A terceira inclui a origin story e como o protagonista resolve o seu dilema. Portanto, bastante simples e linear. Mas a estrutura de cada temporada e de cada episódio, fazem-nos sentir como se estivéssemos a fazer um puzzle, e se não olharmos para cada peça ao pormenor, podemos não conseguir completar o puzzle.

Para reforçar a sensação do surreal e insólito, Legion apostou numa estética retro modernista, com uma arquitectura que vai da inspiração em Corbusier, ao brutalismo (que eu adoro!) e a cenários assumidamente cenários. É quase 100% filmada em estúdio ou interiores naturais, mas de arquitectura insólita. Tem uma paleta de cores limitada, as figuras geométricas, como os hexágonos, os círculos, os ovos, os triângulos e os X, repetem-se, usa imagens e grafismos fortes e marcantes. Também distingue visualmente cada temporada, começando com uma estética um tanto pueril do final dos aos 60, quase toda em interiores, na primeira, passando a uns anos 60 mais psicadélicos e com mais paisagens exteriores exóticas, na segunda, culminando num psicadelismo esotérico anos 70 na terceira, onde o colorblocking foi substituído pelos padrões flower power. Também segue uma certa tendência vanguardista na TV, de ter escrita no ecrã, como complemento, muito videoclip MTV, anos 90. E depois há o gajo do cesto na cabeça, o sarcófago-ovo e as androides de bigode. Nem que seja por estas e outras tais, já vale a pena ver a série!
Tal como é visualmente forte, a banda sonora usa dramaticamente musicas indie ou alternativas, como, num dos últimos episódios, o Games Without Frontiers, de Peter Gabriel.

Voltando à historia: adorei a história da origem e adorei como é contada. Na terceira temporada há um ziguezaguear no tempo dos protagonistas, que nos conta a história da origem de Legion/David e vai juntando todas as pecinhas do grande puzzle das três temporadas, e com pouco recurso ao flashback, o que é um alívio. Cada personagem, a começar pelo David, passando pela Lenny e terminando em Farouk, não é nem preto nem branco, não há heróis nem vilões, mesmo que na primeira temporada as personagens nos sejam apresentadas assim. No fundo, nada é o que parece e o caleidoscópio acaba por mostrar-nos uma realidade nua e crua, imprevisível e enigmática, como a própria vida é, com óculos coloridos.

E não posso esquecer-me dos actores! Dan Stevens (David) já tinha agradado muito, como Cousin Matthew, em Downton Abbey, e conseguiu surpreender neste registo completamente oposto ao que o tornou famoso. David Haller não é um papel fácil e ele faz a personagem parecer natural. Aubrey Plaza (Lenny), insinuou-se ao mesmo tempo em várias séries no meu universo televisivo, também entra nas últimas temporadas de Criminal Minds, e é a minha louca psicopata preferida do momento. Ao contrário de Dan Stevens, Aubrey Plaza tem feito mais ou menos o mesmo tipo de papéis, de psicopata perigosa e instável, fico curiosa em vê-la num papel com outro registo, se bem que parece-me que é ela mesma que tem inclinação por este tipo de papéis. Os outros actores também são fundamentais para o conjunto, foram escolhidos meticulosamente, mas estes dois encheram-me as medidas.

Acho que, pela primeira vez, senti ao ver uma série ou filme de ficção científica, a mesma sensação de realidade hiperbólica que tenho ao ler livros de ficção científica. Daqui a algum tempo quero rever esta série, talvez em modo de semi maratona, e com muita atenção. Ainda há com certeza muito para ver e muitas camadas da cebola para tirar. Esta entrou facilmene para o meu panteão e é daquelas que gostava d ter um dia em DVD. A minha DVDteca é limitada e muito escolhida.

E afinal acho que acabei por ser mais coerente do que pensava!

Legion

01 março 2020

Sereia Russa


Há uns 5 ou 6 anos, vi um GIF animado com uma sereia que me chamou a atenção. Uma busca por imagem no google disse-me que se tratava do filme checoslovaco Malá morská víla, de 1976. Como adoro uma outra adaptação checa de um conto de fadas dos anos 70, Tri orísky pro Popelku (Três Nozes Para Cinderela), que vi na RTP noutra vida, lá procurei o filme e vi-o. Rapidamente percebi que não se tratava do mesmo filme da foto, voltei a fazer uma busca pelas internetes, e nada.

Fast-forward para há uns meses. Comecei a seguir recentemente no instagram o Lorde Velho, um blog sobre cinema fantástico, de terror e coisas exóticas, onde aparece um cartaz parecido com o GIF que tinha visto. Imediatamente perguntei o título do filme, trocámos uns comentários acerca do filme, que é Rusalochka, também de 1976, mas desta vez russo.

Entretanto vi o filme. Apesar daquela imagem que vi há uns anos não me parecer à partida familiar, tenho quase a certeza que vi este filme quando era miúda. A estética e os desvios da narrativa de Anderson, são-me muito familiares. Talvez a imagem da sereia não me tenha despertado memórias, pois com certeza vi o filme a preto e branco, e se foi na minha TV de infância, num ecrã muito pequenino, portanto, nunca poderia saber que o cabelo da sereia é um branco azulado, que se torna loiro quando ela passa a ter pernas. Aliás, apesar das caudas de sereia muito manhosas, mesmo para a época e para um país de Leste, as perucas são de uma qualidade rara, parecem cabelo genuíno. Não ficaria muito admirada se constatasse que são de cabelo verdadeiro.

Quanto mais vejo imagens do filme, mais tenho a certeza de o ter visto. É curioso como a memória funciona, a memória do acto de ver o filme varreu-se completamente, no entanto foi determinante a definir na minha cabeça a minha "estética perfeita" da Pequena Sereia. Tudo parece encaixar na perfeição. Analisando pelas datas, faz sentido. Depois do 25 de Abril, houve um boom de produtos televisivos de Leste, provavelmente por influência de Vasco Granja, comunista e sempre atento às cinematografias de Leste.

O filme é giro, menos fantasista ou teatral que o checo, mas com uma produção curiosa, uma escolha de figurinos deveras interessante e uma realização curiosa. A maquilhagem é o que denuncia o período em que o filme foi produzido, e se não o fizesse, a música trata do assunto. O filme é obviamente datado, mas eu gosto desse estilo um bocado kitsch de leste, talvez por que cresci com ele? Chamemos-lhe retro, já que se passaram mais de 40 anos. Também gosto das liberdades criativas, que o tornam único. Será que alguém mais velho que eu pode confirmar se o filme realmente passou cá na TV, ou se não é a minha memória armada em parva.

10 fevereiro 2020

Oscars Coreanos

Apetece-me escrever acerca dos Oscars? Não. Mas vou fazê-lo na mesma.

Este ano não pude prestar muita atenção à cerimónia, pois, em vez de estar a costurar um fato de cosplay, como de costume, estava a terminar um trabalho, que tinha de ser entregue esta manhã. O trabalho exigia-me mais atenção que a costura, adoro costurar durante cerimónias de prémios, são o acompanhamento perfeito, rende bem. O trabalho já não. Mas também não houve muito que me chamasse a atenção no ecrã da televisão, foi mais ruído de fundo que outra coisa. Longe vão os tempos em que os Oscars me obigavam a ficar colada ao ecrã, não fosse perder alguma coisa interessante.

Como só vi o Once upon a Time in Hollywood dos nomeados, espera, também vi o The Rise of the Skywalker, (já estou melhor que o ano passado, que não tinha visto nenhum), não fiz apostas, mas estava a torcer pelo OUTiH nas categorias de Design de Produção (GANHOU!) e Guarda Roupa. No guarda roupa não percebo porque Downton Abbey (esse também vi, mas não sei se teve alguma nomeação) não foi nomeado e menos ainda o prémio para as crinolinas. Francamente, mesmo dentro dos filmes com crinolinas, já vi BEM melhor, incluindo a adapação anterior de Little Women, de Gillian Anderson. Foi mais: "vamos dar lá um Oscar à gaja." Por outro lado, o guarda roupa de Once Upon a Time in Hollywood, cumpre todos os requisitos de um bom guarda roupa: passa despercebido, é visualmente interessante e serve maravilhosamente bem a narrativa e as personagens. Para além disso, como guarda roupa de época, muitíssimo bem feito, tanto nas escolhas, como no assentar aos actores. Nota: é muito mais difícil fazer um bom guarda roupa mais ou menos contemporâneo, onde muitas pessoas têm a memória de como as coisas que se usavam, que um guarda roupa de épocas passadas, onde muitas vezes se usa o exagero para disfarçar as falhas.
Outro que gostava que tivesse vencido foi John Williams, por TRotS. É verdade, já ganhou uma série de vezes, mas a banda sonora deste último Star Wars é brutal, uma das melhores que ele fez para a série e, sem dúvida, a melhor desta trilogia.

O final, quando já tinha terminado o trabalho e podia concentrar-me na TV, foi a parte surpreendente, no sentido que os americanos deram mais que um Oscar, nas categorias mais importantes, a um filme que os obriga a ler... legendas! Parabéns Parasite!

Gostei da simplicidade do cenário, parecia uma bolha, mais uma vez esqueceram-se de alguém no obituário: Luke Perry :'( ,Rap nos Oscars? Tão anos 90!! E a cerimónia foi basicamente aborrecida... zzzZZZZ...

As farpelas, estou neste preciso momento a ver o Red Carpet do E! (com muito pouca atenção, diga-se) e só se destacaram uns dois ou três vestidos: o exótico, mas elegante, de Janelle Monae, o pink da miúda do Once Upon a Time in Hollywood (Julia qualquer-coisa), a deusa grega Salma Hayek e o lindíssimo Chanel de Penelope Cruz! O resto ou era beige (ugh!), WTF ou vestidos para o prom.

É isto.

Oscar.com

14 janeiro 2020

Arquelogias Nacionais

Cruzei-me com Cláudio Torres no passado e, graças a esse cruzamento, conheci Mértola e fiquei a saber o tesouro que ali andava escondido. Por esses motivos quis ver a série documental acerca da vida dele, Cláudio Torres - Arqueologia de uma Vida, sobretudo sobre o período pré-25 de Abril da sua vida, e tive uma excelente surpresa.

Já tinha ouvido algumas daquelas histórias, mas nem foram as mais fortes ou rocambolescas, sabia dos tempos na Roménia, do exílio forçado, mas não do que os levou até lá. Resumindo, levava algum avanço em relação à maioria dos espectadores, mas não muito.

Cláudio Torres - Arqueologia de uma Vida, trata-se de um documentário parcialmente encenado, contado na primeira pessoa. Cláudio e a sua mulher, Manuela Torres, são contadores de histórias, como tal, conduzem-nos de modo fluído através das suas aventuras, que mais parecem tiradas de um filme de Indiana Jones - sem o chicote. Isso subiu logo a fasquia deste programa. Nesse relato vemos como a PIDE actuava, como o Português era pouco Suave e como o casal e os seus companheiros foram de uma resiliência inacreditável. O humor e a leveza como os episódios nos são contados, ajudam a narrativa a fluir de um modo pouco usual na ficção portuguesa. Oh, a importância de um bom argumento! Aliás, tenho de agradecer a Manuela Torres, pois a dada altura deu-me sugestões de como organizar um texto, sugestões que ainda uso hoje neste blog. Espero que bem.
Para além dos testemunhos de Cláudio, de Manuela, das filhas e outros notórios no seu percurso, ainda temos episódios encenados, com actores. Começo por elogiar os actores, desde a sua escolha, cuja semelhança física ajuda, ao seu desempenho impecável. Os episódios também são bem dirigidos e bem intercalados nos relatos. Aos autores e toda a equipa, os meus parabéns, pois, apesar de pequenina, esta série é um excelente exemplo que já chega de acharmos que o Nacional Não É Bom. Um bom tema, bons sujeitos, bem planeada, bem filmada, bem montada, bem produzida e uma banda-sonora interessante! Mais, gosto deste esforço da RTP, também no programa Vejam Bem, de não estar à espera que as pessoas morram para as homenagear. Há histórias que devem ser contadas na primeira pessoa, esta é uma delas.

Agora vão a Mértola, visitar uma vila lindíssima e que Cláudio Torres ajudou a colocar no mapa.

ADENDA:
Cláudio Torres acabou de receber a Medalha de Mérito Cultural, os meus parabéns!
Está na hora de publicar este post ;)

Cláudio Torres - Arqueologia de uma Vida

07 janeiro 2020

Filmes de Cordel

Há alturas em que não apetece pensar quando se vê filmes, nessas alturas os filmes de cordel, a que antes chamava telefilmes da meia-noite da TVI, caem mesmo bem. Em Novembro apetecia-me ver filmes de cordel e descobri que a FOX Life os passa quase em cadeia. E há muitos! MESMO muitos!

Os filmes de cordel obedecem a uma fórmula, independentemente de serem meros romances, policiais (sempre com uma componente romântica) ou filmes de Natal. A grande produtora/distribuidora destes filmes é a Hallmark, famosa pelos postais de festividades.

A fórmula é a seguinte: abrem com um plano aéreo de uma metrópole, em geral a norte dos Estados Unidos, Nova Iorque, Boston, Chicago, são as mais comuns, acompanhada por uma musiquinha genérica, com guizos obrigatórios se for de Natal. Uma protagonista, loira, na casa dos 30, workaholic, saída de algum tipo de relacionamento frustrado (abandono no altar, traição, término de namoro, às vezes viuvez), é arrancada do seu status quo, em geral para uma terreola pitoresca, com neve obrigatória nos filmes de cordel de Natal. Fora do seu meio, descobre o amor no novo membro da pequena comunidade, ou namorado de adolescência, ou rapaz com que implicava, tipo que lhe fez algum tipo de pequena desfeita no passado e que, em geral defende valores conservadores e puritanos de família. Enfim, o American dream. Com frequência tem uma melhor amiga ou irmã, com um casamento bem resolvido, filhos, basicamente com a vida resolvida. A nossa protagonista loira decide, no espaço de 2 a 4 semanas, dar uma volta de 180º à sua vida, aos seus sonhos, ao seu sucesso profissional, em nome do amor.
Os temas e as profissões vão variando e são sempre neutras, seguras. As profissões urbanas vão de contabilistas ou arquitectos a doceiros, padeiros ou decoradores de interiores. Profissões seguras mas que exigem "dedicação" aos protagonistas. As profissões rurais ou estão ligadas à agricultura ou aos trabalhos manuais/braçais, como carpintaria, ou agente da polícia local, ou funcionário da Câmara Municipal. Desde que mostre um galã musclado, serve, se tiver camisa de lenhador aos quadrados e calças de ganga justas, melhor.
Depois de superados os poucos obstáculos, de a relação ter passado da implicância à cumplicidade sem motivo aparente, excepto que são boas pessoas, problemas em geral sem ligação directa ao relacionamento amoroso, tudo termina selado com um beijo, muitas vezes o primeiro do casal. Sexo? No way! Nem sequer são vagamente eróticos, mesmo quando são policiais.

A percentagem de morenas é pequena, negros então, fora um único caso, são sempre os amigos, os sidekicks simpáticos. Asiáticos são figurantes especiais, por vezes promovidos a sidekicks, latinos? não me lembro. Por vezes há homens protagonistas, em geral viúvos e pais solteiros. Quando há pais/mães solteiros, a criança tem entre 5 a 12 anos é pespineta e fofinha e em geral é uma rapariga. Nada de adolescentes rebeldes. De vez e quando a nossa protagonista é mais nova ou mais velha, mas também é tão comum como as morenas. Os actores repetem-se e parece que só fazem estes filmes, às vezes voltamos a vê-los como vilões ou personagens secundárias noutras séries, como um que agora apareceu como vilão em Arrow. Por vezes os "mentores" mais velhos são actores mais ou menos conhecidos, a entrar em decadência, ou nomes para chamar público. Outras, a protagonista é uma estrela em ascenção, como a Jessica Lowdnes, ou uma saneada de Hollywood, como a Mira Sorvino (pobre Mira Sorvino, merecia melhor!). Quando há actores fora da fórmula, há uma leve tendência a melhorar a qualidade, mas na grande maioria dos casos, os actores, a começar pelos protagonistas, limitam-se a mastigar o cenário e a gama de emoções é muito pequena, sem rasgos de desgosto ou felicidade.

Ao fim de cerca de um mês, FARTEI-ME! Acho que as 50+ vezes que ouvi as cançonetas de Natal contribuíram para isso.
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