Ontem apercebi-me (infelizmente tarde demais) que a emblemática Loja das Meias do Rossio tem hoje o seu último dia de vida.
Há coisas que não se percebem, esta loja era a sede da marca, o seu logotipo é a praça do Rossio, tinha mais de 100 anos de actividade no mesmo local, é uma das lojas mais simbólicas da Baixa e de Lisboa, senão também Portugal, aparece no filme On Her Majesty's Secret Service (007 ao serviço de Sua Mejestade) e, aparentemente por razões económicas, os donos resolvem fechá-la para abrir novas lojas no estrangeiro. Por mais que seja defensora de exportar o que é nosso, nunca em detrimento do pouco e muito bom que ainda há cá.
Em notícias que li, os donos alegam que a vida na Baixa foi morrendo depois do incêndio do Chiado (verdade, mas que tem sido revertida) e que já não se justifica manter lá uma loja desta dimensão. Tretas, digo eu! A Loja das Meias do Rossio ainda se manteve mais de 10 anos sem alegar recessão, logo agora que finalmente temos uma Baixa que, a custo, se tenta reerguer é que a loja, símbolo máximo do comércio no local, fecha??? Realmente a Baixa nunca recuperou o bulício de antigamente, mas recuperou algum, nem a Loja das Meias dificilmente voltaria a ser o que me lembro de ser nos anos 70, cujos famosos saldos pareciam tirados de uma cena de banda desenhada, com o mulherio a lutar por uma peça de roupa que tinha de imprescindivelmente ter, mesmo que não lhe servisse. Mas a partir dos anos 90 com a diversificação do comércio e a abertura (finalmente) de marcas de prestígio internacionais justamente na zona, a justificação dos donos da Loja das Meias não faz sentido algum. O volume de vendas de uma loja como esta, naturalmente que decresce, mas também tem a ganhar com a concorrência saudável.
A primeira coisa que me veio à cabeça quando me apercebi foi: "se até a Loja das Meias fecha, é desta que a Baixa morre de vez!". Ao longo dos últimos 10 anos, tenho vindo a ver as grandes capelinhas da Baixa fechar, entre elas algumas lojas que davam vida e carisma às ruas e comércio local, sem elas outras lojas de ramos semelhantes tiveram e têm dificuldade em sobreviver, apenas lhes resta fechar as portas. A Baixa é o sítio onde ainda se encontram tesouros que tendem a entrar em extinção. E o que vai ser da loja? Uma megastore de chineses?
Visto isto tudo, a mim parece-me que o que falta à Baixa é uma estratégia de animação e comercio, pois à medida que lojas de qualidade e davam boa fama como o Celeiro (não o de dieta), a Loja das Meias, o Castelo Branco, etc. vêm a ser substituídos por comércio de qualidade inferior, a única coisa que sucede é o prestígio da Baixa, ter deixado de existir e dado lugar a um ambiente inseguro e chunga sem lojas diferentes com artigos que não se encontram em mais parte nenhuma. Fala-se muito na defesa do comércio tradicional mas, uma vez que num sábado à tarde até os cafés da baixa estão fechados, como esperam eles fazer negócio? Uma vez que, principalmente no verão, os cafés mais tradicionais e antigos da Baixa já estão fechados uns às 19h outros às 20h, como esperam manter uma dinâmica comercial e sacar dinheiro ao turista ou ao Lisboeta com necessidade de petiscar algo antes de um espectáculo?
Sem o apoio dos grandes antigos comerciantes da Baixa, é claro que os pequeninos não conseguem sobreviver.
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