Infelizmente, tanto a RTP, como exibidora, ou a Castello Lopes, como editora dos DVDs, nunca deram o tratamento merecido a uma série tão popular e querida do público. Restou-nos a RTP Memória, cuja programação é de louvar, que voltou a exibir a série, do primeiro ao último episódio, no início deste ano. Mesmo assim, o que custa às televisões respeitarem o formato original, 3:4, e emitirem os episódios assim? Felizmente podemos mudar o formato na maioria das televisões modernas, mas não deixa de ser uma seca. A RTP Memória não é a única, a Globo, que também transmite muitos programas ainda no formato 3:4, também raramente os emite correctamente.
Que gozo me deu rever a série! Provavelmente foi a primeira vez que a vi inteira, aliás, lembrava-me melhor da primeira série que da segunda, que já devo ter visto com muito pouca regularidade. A quantidade de ideias brilhantes por episódio é extraordinária, a começar com os bandidos/mafiosos a fazer terapia, anos valentes antes dos Sopranos! Mas há mais, o 2CV a andar sozinho, as mulheres violentas, os bandidos adoráveis, o cientista louco...
Também foi tão bom rever excelentes actores que já nos deixaram, a começar pelo excelente António Assunção, o Tó, o Canto e Castro, o Carlos Daniel, numa participação já no final da série, o Tino Guimarães, que conheci uns anos depois e com quem trabalhei. E outros que felizmente ainda estão connosco, como a Ana Nave, ou a Helena Isabel, ainda umas bebés, ou o Carlos Alberto Moniz, que foi uma espécie de ídolo musical na minha infância.
É de lamentar a fraca qualidade técnica, sobretudo no som e imagem, mas que acrescentam ao carisma anos 80 de Duarte & C.ª e tornam a série única. Se tivesse um som e imagem impecáveis, já não era a mesma coisa e talvez não tivesse tanta piada. Aliás, a dada altura resolveram assumir o baixo orçamento e qualidade técnica, passando a fazer parte da narrativa cómica.
Também foi giro rever Telheiras e Alvalade, os bairros de Lisboa mais reconhecíveis na série, como eram nos anos 80. Telheiras, para onde fui viver mais ou menos nessa época, mas que vi nascer, ainda novinho em folha, os prédios com a pintura original, as árvores novas, as ruas sem trânsito e sem ninguém; Alvalade é o meu bairro do coração e que conheço como a palma da minha mão, e que foi filmado principalmente na minha zona preferida, na Avenida do Brasil e ao pé dos Bombeiros.
Como em qualquer outra obra que tenha algum tipo de crítica social, em Duarte & C.ª são os salários em atraso, a falta de dinheiro geral, a entrada de Portugal na CEE, é sempre desconcertante constatar como tão pouco mudou, sobretudo na mentalidade das pessoas... Portugal ainda está na mesma.
Duarte & C.ª (IMDB)
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