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12 julho 2022

"Compañero"

Ao contrário da maioria dos meus amigos no final dos anos 80, quando estreou Himmel Über Berlin (As Asas do Desejo), eu nunca tinha visto o Columbo e não percebi a referência. Quase 40 anos depois, graças à RTP Memória, finalmente vi a série. Naquela época, eu só sabia que era uma série policial e que o actor Peter Falk interpretava o protagonista, o detective Tenente Columbo.

Já aqui disse várias vezes que gosto de whodunnits, o Columbo é uma espécie de subversão do género, já que, ao contrário do Tenente, nós sabemos sempre o que se passou e o jogo está em ir vendo os métodos aparentemente trapalhões de Columbo a destrinçar o que se passou. Nas primeiras duas ou três séries, ainda é tudo novidade e a coisa funciona, mas à medida que a série se vai prolongando, começamos a tentar ver as costuras e começa a parecer que Columbo também sabe o que sabemos e apenas brinca com os criminosos como um gato brinca com a comida. Não deixa de ser um jogo interessante, mas o seu fascínio dura pouco.

Apesar da premissa repetitiva, Columbo não deixa de ser uma série muito bem feita. O orçamento era com certeza alto, pois tecnicamente a série não envelheceu. Os filmes introdutórios, onde vemos o crime a ser cometido, têm uma qualidade cinematográfica, rara na televisão de cordel americana do final dos anos 70 e anos 80. Boa fotografia, boa realização, o primeiro episódio foi realizado por nem mais que um Steven Spielberg iniciante, montagem sólida. Os actores convidados são muitas vezes estrelas de primeira e não são exclusivos da televisão. Falar em separação da televisão e do cinema hoje em dia até é estranho, dado que agora actores e técnicos oscilam entre ambos, mas antes de Twin Peaks, era rara essa partilha e dificilmente actores de TV faziam o upgrade para cinema e o contrário seria um demérito.

De resto, Peter Falk criou ali um "boneco" muito bem feito, um detective raposa matreira, com uma estratégia de enganos intrincada, de modo a apanhar os criminosos. Os criminosos também não são o Zé ninguém ao virar da esquina, são pessoas de classe alta, às vezes celebridades de várias espécies, e os crimes normalmente derivados a questões de poder, dinheiro e por vezes passionais.

O que se tira disto tudo é que a justiça prevalece, aqui pelas mãos do Tenente Columbo. 

E também é giro ver o desfilar da estética do final dos anos 70, do surgimento dos telefones sem fios e dos car phones, dos avanços da tecnologia, enquanto o carrinho do Tenente continua a ser o Peugeot 403 espatifado, tal como a icónica gabardina.

Columbo é uma série divertida de se ver, embora por vezes os episódios de mais de uma hora e as narrativas repetitivas se tornem cansativas. Tavez se só tivesse visto um episódio por semana, em vez de um por dia, não sentisse tanto essa repetição. 

Columbo (IMDb)

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