TV-CHILD É UMA DESIGNAÇÃO QUE SE PODE DAR À MINHA GERAÇÃO, QUE CRESCEU
A VER TV. ESTE BLOG É 90% SOBRE TV, 10% SOBRE OUTRAS COISAS.

03 julho 2023

15 Minutos de Fama

Isaac com Andy Warhol e parte da sua entourage

Got picked up at 8:15 to go to The Love Boat. Flubbed my lines on the morning, felt bad about it. Worked all day.

entrada de Segunda-feira, 1 de Abril de 1985, Los Angeles. The Andy Warhol Diaries (1989)

Uma das razões porque quis ver a série completa The Love Boat foi porque, nos anos 90, ao ler The Andy Warhol Diaries, li os comentários dele acerca de ter sido convidado a participar num episódio da série. Calhou ser a 9ª e última temporada, quase parece de propósito para obrigar-me a ver, pelo menos, cada genérico com atenção, para ver quem são os convidados do dia.

O tempo de antena de Andy Warhol no episódio é capaz de nem fazer os 15 minutos da sua frase célebre, que no futuro todos iriam ter pelo menos 15 minutos de fama. No episódio, Warhol pavoneia-se pelo navio, mal dizendo duas palavras de cada vez, tirando polaroids aos passageiros, para escolher uma feliz pessoa contemplada com um retrato seu. À semelhança da sua persona real, Warhol nunca está sozinho, sempre rodeado da sua entourage, consistida pelo seu assistente pessoal e mais umas três ou quatro personagens a emular os seus amigos famosos, como Bianca Jagger ou Halston. Para lhe dar dimensão, acrescentaram uma ligação a uma das passageiras, agora de meia-idade, num casamento conservador, que teria entrado num dos seus art films e não quer que o marido saiba. *spoiler* Apesar de ela achar, para seu alívio, que Warhol não se lembra dela, no fim do episódio ele reconhece-a e é a escolhida para o retrato. *fim de spoiler* Foi divertido, mas no contexto da série estas participações especiais parecem sempre forçadas. Conhecendo os comentários de Warhol acerca da sua participação e a persona que assumia em público, principalmente fora do seu habitat The Factory, a participação parecer forçada fica mais adequada à personagem que o costume.

The Love Boat teve 9 temporadas, o que para a época, é um caso de longevidade. Mas, na temporada 7, com a saída de Julie, o envelhecimento e cansaço geral do elenco e integração de duas personagens novas, Judy, irmã de Julie, também directora do cruzeiro, e Ace, o fotógrafo do navio, foi notória alguma estagnação. Salvou-a os cruzeiros a partes exóticas, sempre pitorescos, que se multiplicaram nas últimas temporadas, e as participações especiais de Betty White e Carol Channing, sempre hilariantes, com os fabulosos figurinos de Carol Channing, por Nolan Miller.

Na nona temporada também resolveram mudar o genérico, com uma nova versão da canção, novos gráficos e novo logótipo. De todas estas alterações a única de que gostei mais do que da versão anterior foi o logótipo. As restantes seguiram as tendências da época, como os chumaços nos ombros, mangas de balão gigantes e fatos de banho cavados nos figurinos femininos. A introdução das Mermaids, um grupo de dançarinas oficiais do navio, trouxe-nos uma Terri Hatcher muito miúda, na sua primeira participação numa série televisiva, mas em ascendência meteórica. Logo a seguir iria participar em MacGyver e o resto é história. 

Nota ao tradutor: esta temporada passa-se em 1985-86, se uma personagem está, num telefone fixo, a negociar a venda de aparelhos de telefone à China, não serão com toda a certeza telemóveis. Se não sabem, PESQUISEM, POR FAVOR!

ADENDA:

No antepenúltimo episódio de The Love Boat, a equipa, noutro navio que não o Pacific Princess, atraca em Lisboa. Apesar de anunciarem Lisboa como uma cidade histórica, um dos dois ou três destaques é o "lago dos cisnes no Campo Grande". Onde foram buscar isto? Nos anos 80, sobretudo em 1986, ano do episódio, o Campo Grande era um local perigoso e não havia cisnes no lago, só patos e gansos. Também só mostram pouco mais de Lisboa que a Torre de Belém ou o Rossio. Não, não mostram o lago do Campo Grande. 

A narrativa que faz a ligação a Lisboa é igualmente despropositada: César Romero e Lorenzo Lamas,  em toda a sua glória latino-americana, fazem de avô e neto, de uma família tradicional de toureiros, os Belmonte. Vá lá que o nome é plausível. E, com isso, basicamente o restante que vemos de Lisboa é a Praça de Touros. O bom é que vê-se a Praça sem a cúpula, que estragou o recinto, sobretudo na acústica. Já a história está pejada de clichés e o apresentador da tourada fala em português do Brasil! Mais valia terem ficado longe da costa portuguesa! 

The Love Boat (Wikipedia)

0 zappings:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

false

false