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08 março 2025

97 Oscars... Musicais!

 

vestido Ruby Slippers, Schiaparelli,
para a performance de Ariana Grande

Aqui está o post costumeiro dos Oscars. Este ano, dos filmes nomeados, só vi o Dune 2 e o Flow. O Flow é maravilhoso e o Oscar para Melhor Longa de Animação foi MAIS QUE MERECIDO! É refrescante ver uma longa de animação independente, que não é nem Disney nem Ghibli, da Letónia, feita praticamente por uma só pessoa, num software de 3D gratuito (o Blender), com alguns defeitos, que o próprio realizador admite, ganhar um Oscar. PARABÉNS! Acho que o Oscar para Melhores Efeitos Sonoros é merecido pelo Dune 2, do qual gostei mais dos efeitos sonoros que da parte 1, onde os achei empastelados, embora a concorrência este ano fosse quase inexistente.

Quanto à emissão portuguesa, na RTP1, este ano nem se deram ao trabalho de pagar pelo Red Carpet, do qual nunca víamos quase nada, pois o Mário Augusto falava por cima o tempo todo com os seus "selectos" convidados. Falando em Mário Augusto, lá voltou a apresentar a cena, com um convidado de quem nunca ouvi falar (mas também ando muito afastada dessas lides) e sim, houve calinadas, mas nada memorável. Este ano ele esteve estranhamente contido e quase não falou sobre a cerimónia, mas mesmo assim nunca é demais: #CalaTeMárioAugusto!

Sobre a cerimónia, Conan O'Brien, não esteve em si e a apresentação foi extremamente comedida e nem fez muitas piadas inocentes, menos ainda picantes e apenas uma política. O que é de lamentar, pois ele costuma ser genial. Houve o sketch de Adam Sandler, mas a ligação à Ucrânia não foi muito óbvia e Daryl Hannah foi a única a realmente falar da Ucrânia (aliás está com suuuper bom aspecto!). Adrien Brody e Zoë Saldaña falaram de guerras e migração e da situação actual do mundo, o Oscar para a Longa Documentário, foi para o filme israelo-palestiniano, obviamente sobre a situação em Gaza, mas nada de provocador foi dito, depois de o Mário Augusto se calar... Os elementos da equipa de Anora também agradeceram às trabalhadoras do sexo, pelo apoio ao filme.

Adorei, adorei, adorei terem voltado a incluir números musicais à séria. Uma das coisas que me chateou imenso nos anos 90, quando já era emitida a cerimónia dos Oscars completa nas TVs portuguesas e ainda no tempo do Billy Crystal, foi quando houve cortes, digamos orçamentais, e a cerimónia passou de 4 a 5 horas a 3, e os números musicais foram reduzidos ao número de abertura e às canções nomeadas, sem o aparato de então. Tenho reparado que tem havido algum reinvestimento nos números musicais nos Oscars, principalmente depois da pandemia, mas este ano foram verdadeiramente interessantes. Infelizmente isso foi, provavelmente para não aumentar a duração da cerimónia, em demérito das canções nomeadas, que este ano não foram apresentadas em palco. Dos números musicais, adorei o do James Bond e o do Quincy Jones. Também houve o obrigatório número do Wicked, caía o Carmo e a Trindade de Hollywood se não houvesse um número do Wicked, gostei do vestido Ruby Slippers, por Schiaparelli, de Ariana Grande (imagem acima - sem Ariana), mas o Wicked não me diz nada, não fui nem quero ver, pois não gosto de musicais modernos e estou farta de origin stories.

Também gostei de, nos bastidores, Adrien Brody e Halle Berry repetirem o beijo de quando ele ganhou o seu Oscar anterior. Fofinho.

Agora ao que realmente interessa, os trapos. Começando com os homens, foi bom ver muito mais cor neles, mas a maioria usou um tom de diarreia (ou xixi - Chalamet, estou a apontar para ti!), que os favorece muito pouco. Voltem a usar veludo em tons de pedras preciosas, que é sempre um regalo para os olhos. Nem sequer houve um Billy Porter ou assim, com uma fatiota OTTP, para podermos comentar.

Isabella Rosselini

As meninas foram muito old Hollywood, mas pelo meio houve algumas peças interessantes. Halle Berry foi vestida de bola de espelhos, mas eu gosto de bolas de espelhos. Felicity Jones e Whoopy Goldberg levaram ambas vestidos "água líquida", o de Goldberg, fabuloso, desenhado por Christian Siriano. Depois uma série de meninas levaram uns vestidos diferentes, de destacar os method dressing de Ariana Grande e Cynthia Erivo, o de Ariana Grande, quentinho, acabado de sair das passarelas de Schiaparelli. Mas o meu maior destaque foi para Isabella Rossellini em Veludo Azul (e estava sentada ao lado de Laura Dern). Pena destacar-se a morte de Gene Hackman, mas nada sobre o Lynch, fora o slide, e esqueceram-se da coitadinha da Michelle Trachtenberg, que morreu um dia antes do Hackman (Lex Luthor para sempre!), no in memoriam.

Cynthia Erivo, Ariana Grande, Whoopy Goldberg, Raffey Cassidy e Storm Reid

Os exemplos acima são alguns dos quais gostei, mas havia mais uns quantos, não queria uma imagem demasiado grande para por aqui.

Gostava de partilhar aqui os dois números musicais, mas são só para olhos norte americanos e não estou com paciência para ir procurá-los na candonga.

Oscar.com

18 janeiro 2025


Se não me falha a memória, o primeiro filme que vi de David Lynch foi o maravilhoso The Elephant Man, na televisão. Já conhecia a história de John Merrick, tendo sido criada por uma anglófila, mas na altura todo o conjunto do filme impressionou-me do mesmo modo que a história original já impressionava. Entretanto já o vi num cinema, o único sítio onde determinados filmes devem ser vistos, e só posso dizer que é um filme sublime.

Em 1984 eu vivia fora de Portugal, num local com difícil acesso a determinados filmes, andava sedenta de ficção científica, e a primeira coisa que fiz, quando regressei a Portugal, no Verão de 1985, foi enfiar-me numa sala de cinema e ver o Dune, o meu primeiro Lynch num cinema. Adoro o Dune até hoje, adoro tudo o que introduziu na ficção científica, a ficar estagnada num universo quase ascético, criado pela minha amada série Space: 1999, e perpetuada pelo universo de Star Wars. Já o revi várias vezes, seja no cinema ou na TV, e continuo a encontrar-lhe coisas novas.

Avançando uns anos, no final dos anos 80, andava desejosa de ver o Eraserhead, do qual apenas conhecia a famosa foto do cartaz e que tinha sido o primeiro filme de David Lynch, aquele tipo do Dune. Só o vi, bastantes anos depois, acho que numa sessão no Cinema King.

No meu primeiro ano da Escola de Cinema, começaram a surgir notícias acerca do episódio piloto de Twin Peaks, uma série criada por Lynch, em desenvolvimento. Um colega tinha esse episódio numa VHS oficial, que tentámos ver na Escola (tínhamos leitores de VHS em quase todas as salas), mas não conseguimos um leitor disponível durante o tempo de duração do episódio e basicamente só vi a primeira cena, da Laura Palmer a ser encontrada na praia, embrulhada em plástico translúcido, ao som de Badalamenti. Felizmente não demorou até que a série estreasse em Portugal, que vi o mais assiduamente que me foi possível, numa época de gravadores VHS que não eram programáveis e nada de boxes de TV ou serviços de streaming. Nunca vi o final da série, fui perdendo vários episódios seguidos e, com a intriga a ficar cada vez mais embrulhada, perdi o fio à meada e o interesse. Cansei-me. Mas vi o Fire Walk With Me, que nos deu um bocadinho mais de Laura Palmer que a série, mas não cheguei a ver a nova série.

Blue Velvet teve mais ou menos o impacto inicial em mim que teve Twin Peaks, aquela middle America suburbana, que esconde um lado muito sombrio e sórdido. Ah, o Dennis Hopper...

Vi Wild at Heart no Cinema Londres e saí da sala furiosa. Detestei. Passado algum tempo, umas semanas, pensei para mim própria que para ter tido uma reacção tão violenta, é porque o filme não pode ser mau e merece ser revisto. Revi-o depois do último dia de aulas da Escola de Cinema, numas sessões de cinema drive-in das Festas de Lisboa, na Bica do Sapato, e obviamente adorei revê-lo. Acho que o Wild at Heart é, a par com o Dune, sorry Mr. Lynch, o meu preferido de David Lynch.

Fui continuando a ver os filmes dele, Lost Highway uma trip, Mulholland Drive uma alegoria muito Lynchiana de Hollywood (que vi mais ou menos na mesma altura em que li Coldheart Canyon, de Clive Barker, que à sua maneira, trata da mesma zona de LA e da mesma temática), mas, continuando a adorar os filmes, nunca mais tiveram o mesmo impacto.

Por circunstâncias da vida, nunca cheguei a ver a maioria dos últimos filmes dele, A Simple Story e Inland Empire entre eles, mas é uma falha a ser colmatada. Uma das razões porque não vi Inland Empire, foi porque andava com muito pouca disponibilidade quando o filme estreou e, quando dei por ela, tinha saído de cartaz.

Sigo o Lynch pelas redes sociais desde que comecei a usá-las, tive um momento WTF quando o que ele publicava eram basicamente os vídeos da meditação transcendental (absolutamente nada contra e aprendi umas coisas com isso), ou as suas pinturas, e Lynch continuava ali, a viver naquele cantinho das coisas que gosto, mas sem lhe prestar muita atenção. Foi agora, com a morte de David Lynch, a ver a gigantesca quantidade de fotos dele online, de posts de apreciação e homenagem, que percebi que Lynch teve um impacto muitíssimo maior na minha vida do que eu pensava.

A última coisa que vi dele/com ele, foi a sua interpretação de John Ford em The Fabelmans, de Spielberg, que vi há menos de um ano, na TV. Participação da qual não fazia ideia e me surpreendeu imenso, principalmente porque ali, ao ver essa cena, parecia que o real Lynch terá sido um desdobramento do Ford, no modo como falava com as pessoas, de modo provocatório e directo. Foi muito bem apanhado, Sr. Spielberg!

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