Vi hoje no Odisseia um excelente documentário àcerca das novas séries de televisão que, durante os últimos anos, também têm estreado por cá. Foi muito interessante perceber as razões que levaram a surgir produtos tão extremos e diferentes como Os Sopranos, Sete Palmos de Terra, O Sexo e a Cidade, 24, Lost, etc., etc.
Nos Estados Unidos, um pouco como por cá, a televisão divide-se em 3 estratos: a televisão pública, dependente da publicidade, a televisão por cabo, como menos publicidade e dependente de um pagamento e a televisão premium, sem publicidade e mais cara que a tv por cabo. Um dos canais que maior popularidade e volume de negócio tem e tinha é a HBO que, de há uns anos para cá, mudou a sua estratégia. Uma vez que não dependem dos índices de audiência (os seus lucros vêm dos pagamentos e do nº de aderentes) resolveram pesquisar, nas televisões do mundo inteiro, o que fez, ao longo da história, televisão de qualidade: as séries da BBC, a expriência do Canal+, as colaborações dos canais de televisão alemães com realizadores independentes como Wim Wenders, etc.
Com isto chegaram à conclusão de que podiam arriscar muito mais, num patamar bem mais alto sem apelar a um público "burro" ou desinteressado, não produzindo popularucho, mas diferente. Por isso, com Os Sopranos, série pioneira nesta filosofia, puderam desenvolver histórias e personagens mais complexas e ricas, mas que se tornaram extremamente populares pois o público identificou-se e não se sentiu mais a ser tratado como um imbecil sem cérebro. Com as séries subsequentes puderam abordar outros temas mais arriscados como a homosexualidade, o sexo, puderam adoptar outras técnicas de filmar, como câmara à mão, imagem descentrada, imagens desfocadas, mudar o uso da banda-sonora e dos sons.
Um pouco para acompanhar, a televisão pública, que perdeu muita popularidade e audiências (das quais depende a publicidade que financia estes canais), mudou também os seus conteúdos passando a ser mais arriscada do que anteriormente.
Por outro lado, o cinema de Hollywood, cada vez mais aposta num público adolescente da pipoca, que vai ao cinema em grupos para se divertir e não pensar. O que exige de uma ida ao cinema é, pelas palavras de uma adolescente ("totally" Beverly Hills), "a grande sala luxuosa, as pipocas, ir com os amigos e gritar excitadamente ao ver um filme num grande écran". Resumindo: não pensar. Infelizmente, como este tipo de objectivo é mais fácil um blockbuster de Hollywood ser concebido a pensar nos patrocínios publicitários que na história ou na densidade de conteúdos.
Para além de isto ter servido de lição às cadeias de televisão americanas, também deveria servir para as nossas (principalmente as de cabo) e servir de incentivo a começar a produzir televisão de qualidade para público que raciocina e sabe escolher. Independentemente das modas, acho que uma série como Os Sopranos não fideliza audiências porque o colega-de-trabalho ou o vizinho-do-lado as vêm, mas porque, no meio de tanta televisão imbecilizante as pessoas anseiam por algo que dê de pensar. É claro que manter as séries num horário constante e não cortar, trocar e/ou editar episódios também ajuda!
Hollywood Televisivo
Há 9 anos
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