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10 abril 2020

Nuclear Não, Obrigado!

Apesar de uma amiga em quem confio me ter dito que seriam 5h da minha vida perdidas, não podia deixar de ver Chernobyl, pois, ao contrário dessa minha amiga, eu já era bem crescidinha quando se deu o acidente/incidente, que foi provavelmente a catástrofe mais marcante e assustadora de toda a década de 80.
Lembro-me de ver as imagens do incêndio na TV, lembro-me de a informação ser pouca e confusa, lembro-me das chuvas ácidas na Alemanha, Bélgica, França, etc. de se falar que a radioactividade não passou abaixo dos Pirinéus e de Portugal respirar de alívio.
Nos anos 80, muito antes de Chernobyl, começaram a maioria dos movimentos ecologistas com engajamento político, o Greenpeace denunciava a caça às baleias, os Partidos Verdes surgiam em vários países, com enfoque na RFA, a PeTA começou a luta contra o uso e comércio de peles, havia manifestações ecologistas um pouco por todo o lado, cujo lema era o título deste post, sobretudo nos países da CEE (onde Portugal ainda não pertencia), de começar a aparecer papel reciclado e de se falar em separação do lixo e reciclagem em geral. Nós em Portugal vivíamos uma grande crise económica, com direito a uma visita do FMI, só podíamos viajar sem passaporte para Espanha e isso de carro, e ainda recebíamos uns trocos pelo vasilhame. Foi também nos anos 80, muito perto da época de Chernobyl, que li o livro Stalker (Piquenique à Beira da Estrada, rebaptizado assim pela Europa-América por causa do filme de Andrei Tarkovsky), de Arkadi e Boris Strugatsky. Só vi o filme uns anos depois, já nos anos 90.

Portanto Chernobyl ficou marcado na minha memória e ficou muito por esclarecer. Foi mais ou menos por essas razões que tinha de ver a série Chernobyl. Esta é uma série que vale sobretudo pelo contar com algum detalhe e, esperemos, veracidade, o que realmente aconteceu a 26 de Abril de 1986.
A série toma o formato das reencenações históricas, com a grande diferença de um bom orçamento e uma produção de luxo, que inclui actores conhecidos, como o Skarsgaard pai e a Emily Watson. A produção é mesmo muito boa, num tom cinzento sépia realista, com excelentes efeitos especiais e de caracterização. É de tal forma bem feita, que tudo isso se torna invisível, mesmo que o ritmo seja um pouco monocórdico, e concentramo-nos no factos, que são o grande valor da série. O acontecido não é romantizado, mas contado sob o ponto de vista dos cientistas e técnicos responsáveis, com alguns camaradas do partido pelo meio, dando ênfase aos sacrifícios humanos, ao mexilhão, e às aldrabices políticas que estiveram por trás. Houve alguma síntese na personagem fictícia de Emily Watson, que conjuga uma série de cientistas que assistiram o protagonista, na personagem recriada por Skarsgaard, a tentar resolver o problema gigante que tinham em mãos.

Portanto, tal como se desconfiava na época, houve imensa sonegação de informação, as medidas de segurança eram insuficientes e certas medidas só foram tomadas por pressão dos outros países. Não deixa de ser impressionante vermos pormenores dos efeitos da radioactividade, como enterraram os mortos, o que aconteceu às gravidezes e partos, como a população foi tratada como carne para canhão, como a radioactividade transforma completamente o ecossistema, mesmo que não o extermine. Como numa citação de Mikhail Gorbatchev no fim da série, foi o início da queda da União Soviética e do Bloco de Leste.

Chernobyl


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