Mesmo quando as histórias são sérias, o facto de serem entrecortadas pelas outras duas narrativas, torna-as bastante superficiais e previsíveis. Não que as outras não sejam previsíveis, quase todas as histórias em The Love Boat são tão previsíveis como o facto de o paquete partir de Los Angeles, parar em Mazatlan e Acapulco, e regressar a Los Angeles.
Nada disto foi surpresa, pois vi, durante os anos 80, muitos episódios de The Love Boat, mas desde que começou a dar na RTP Memória, que quis ver todos, ou quase todos, com o olhar de hoje. Sabia que iria ser bastante superficial, um tratado televisivo em como misturar décors naturais com décors em estúdio a passar por naturais, de que a piscina em trevo é o exemplo mais flagrante, e a glamourização de um estilo de vida irrealista. Mas é facil entrarmos naquele universo, acreditarmos na suspensão da descrença e deixarmo-nos ir numa viagem marítima com toques tropicais por cerca de 50 minutos. É um escapismo como outro qualquer e podemos entreter-nos com o charme, agora retro, de uma América dos anos 70 e 80 idealizados, onde acaba sempre tudo bem.
Vale pelos cenários, pelos vestidinhos muito Halston de Julie, principalmente nas primeiras temporadas, pois quando a série entra nos anos 80, passam a ser um bocado salve-se quem puder, e a moda juvenil anos 70/80 de Vicky. Há lá peças que adorava ter nos anos 80 e que ainda hoje vestiria.
Dos elementos da tripulação o meu preferido, mesmo sendo o cliché dos clichés, é o barman Isaac Washington. Os problemas dele costumam ser simples, está sempre bem-disposto e resolve quase tudo com uma bebida colorida. A seguir, apesar de exageradamente pateta, acho piada ao Gopher na sua ingenuidade. O Dr. Bricker é terrivelmente misógino e assedia o mulherio todo, uma personagem impossível nos dias de hoje. Julie é simpática e tem um sentido de humor agradável, mas quando as histórias se focam nela, em geral são exageradamente dramáticas, o que não encaixa na personalidade dela no dia-a-dia. O Capitão Stubbing é o clássico autoritário bonzinho e Vicky oscila entre a criancinha irritante e a criancinha boazinha, mas ainda irritante, por ser tão boazinha. Por fim há um ou outro convidado regular, sendo a mais recorrente a mexicana April, que é puramente um fait divers, apoiado no exagero da actriz, que provavelmente está a interpretar-se a si mesma, para quando os argumentistas têm um buraco narrativo a preencher.
Os ocasionais episódios duplos, além de terem mais de 3 histórias, costumam variar a paisagem e levam-nos a temperaturas mais frias, como ao Alasca ou ao Oceano Atlântico, mostrando com orgulho, qual postal ilustrado, o Canal do Panamá. Nesses episódios as histórias são um pouco mais profundas e incluem sempre alguma vedeta musical.
Salva-se o tema maravilhoso de Charles Fox, um dos compositores da banda sonora de um dos meus filmes preferidos, Barbarella.
The Love Boat não ambiciona ser muito mais que entretenimento leve e fica-nos, no séc.XXI, o prazer nostálgico de rever vedetas de hoje a dar os seus primeiros passos, ou vedetas do antigamente já desaparecidas.
The Love Boat (Wikipedia)
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