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02 setembro 2008

Japonesa falsificada


achei que a rapariga merecia uma foto neste post dedicado a ela
Serve este post para apontar as razões porque a personagem Hoshi Kyoko, de Rebelde Way, poderia ser tudo menos japonesa.

1. O nome
Kyoko é um nome próprio de rapariga em japonês, portanto não pode ser apelido como na novela.
Hoshi até pode ser o seu nome próprio, mas como quer dizer estrela, é apelar um bocadinho.
2. A actriz
É chinesa e para isso já bastou o péssimo Memórias de uma Gueixa.
3. A viagem
A rapariga vinha no mesmo comboio que o sem posses Manuel. Uma japonesa, ainda para mais com dinheiro, NUNCA que viajaria de Paris para Lisboa (ou arredores) de comboio. E se porventura viajasse de comboio, nunca seria uma carruagem como aquela, mas sim em primeira classe ou num compartimento, de preferência particular.
4. A canção
A canção que puseram com a chegada da rapariga ao colégio é tudo menos japonesa! Francamente, com tanto fã de J-Pop ao virar da esquina na internet, não teria sido difícil encontrar umas músicas engraçadas para ela (por exemplo: Tommy february6 ou o outro projecto dela, The Brilliant Green) ou alguém que aconselhasse decentemente. EDIT: vim a saber entretanto que a canção é realmente em chinês (se mandarim ou cantonense, não sei), mas é cantada por um português.
5. O dicionário [10.09.08]
Por enquanto ainda não apanhei nenhum erro, mas as traduções estão longe de ser as mais adequadas (em japonês, claro). O que mais acontece no dicionário electrónico de Hoshi é a tradução aparecer em katakana (alfabeto fonético silábico, utilizado para palavras estrangeiras) no seu equivalente em inglês, o que nem sempre é o seu significado mais usado, existindo um equivalente em japonês de uso comum. Mas esta razão não é das piores desta lista, uma vez que apesar de tudo o dicionário dá traduções em japonês verdadeiro e os significados são mais ou menos correspondentes. É daquelas coisas em que poderiam ter optado por inventar e não o fizeram, e isso é de louvar!
[actualização: 16.09.08] Entretanto encontrei uma ou duas palavras que não estavam muito correctas, mas como pouca gente percebe e se vê mal, continua a não ser grave.
6. O aparelho [16.09.08]
OK, é plausível, pode ser realista e eu estar a ser picuinhas (mas este post É picuinhas!), mas se há coisa que infelizmente caracteriza as japonesas são os maus dentes. Isto tem algumas explicações culturais: aparentemente os japoneses têm tendência a ter os dentes tortos mas esteticamente (e completamente incompreensível aos olhos de um ocidental), vá se lá saber porquê, as raparigas com os dentes tortos, em especial com os caninos proeminentes, são consideradas bonitas. Também, na Era de Edo (séc.XVII) e para trás, era comum as mulheres pintarem os dentes de preto e ainda é considerado inestético mostrar os dentes, tanto que quando as mulheres japonesas se riem, colocam a mão à frente da boca. Ao contrário do Brasil (nos antípodas do Japão) os japoneses têm uma má assistência médica dentária o que faz com que seja menos comum encontrar pessoas de aparelho, e ainda com a alteração dos hábitos alimentares, os japoneses deixaram de consumir tanto cálcio do peixe e legumes e como também não consomem lacticínios com frequência, têm muita tendência a ter cáries.
7. O uniforme (e adereços) [26.09.08]
Ela ainda apareceu pouco à civil, pelo que, até agora, da roupa tenho pouco a dizer, não houve nada a apontar fora alguma ausência de cor-de-rosa que, vá se lá saber porquê, é uma constante no guarda-roupa de qualquer japonesa e de alguns japoneses também. Mas quando ela está de uniforme existem algumas tentativas mais ou menos forçadas de lhe dar um toque diferente. Uma coisa temos sempre que ter em conta: os japoneses usam obrigatoriamente uniforme na escola secundária, seja ela pública ou privada. Como eles têm regras bastante rígidas em relação a "prevaricações" do uniforme, as raparigas extravazam em pequenos detalhes: nos cabelos com penteados que incluem com frequência totós e tranças (coisa que ainda não vi Hoshi usar), nas meias e nos acessórios. As meias são as já clássicas meias extra-longas brancas enrugadas, que não fariam sentido no uniforme do Prestige. Os acessórios costumam ser acessórios de cabelo (com algum peso e medida, como a Mia usa estaria bem), um ou outro adereço, tipo pregador ou colar e, aí sim, excesso de penduricalhos seja no telemóvel (o tradutor de Hoshi não tem rigorosamente nada) na mala da escola ou outro tipo de gadgets não incluídos directamente no uniforme. As luvas (sem dedos) é que me parecem estranhas no meio daquilo tudo.
Portanto, gostava de ver Hoshi a variar mais o cabelo, usar ganchos coloridos, etc. e com phone straps, outras pequenas peças de merchandise e algum material escolar mais nipónico. Em lojas de chineses encontra-se algum bem convincente! Ah! As unhas coloridas estão fixes!
8. A pronúncia e o vocabulário japonês [26.09.08]
Desta já estava à espera e até demorou, o que não é nada mau. A pronúncia e entoação dela e até mesmo os erros de português não estão muito bem ensaiados, mas calculo que a consultoria de língua japonesa não seja das melhores (vai na volta é só um site de internet...). No vocabulário às vezes ela acerta, outras vezes não. Uma vez ela quis chamar "mau" a um dos colegas e traduziram para a palavra "aku". "Aku" realmente quer dizer mau, mas neste caso usar-se-ia a palavra "warui", que também quer dizer "mau". Mas, se formos mais adiante, ela nem sequer a palavra "warui" utilizaria, o mais provável seria a palavra "hidoi" (=cruel), pois não é comum usar "aku" ou "warui" nas circunstâncias em que ela a usou. Este é apenas um pequeno exemplo. Faltam lá também uns "suteki"s (=bestial), uns "sugoi"s (=fantástico) e uns "kawaii"s (=querido, giro, amoroso) para dar o ar nipónico que é suposto.
9. O Fim de Ano/Ano Novo (Shougatsu) [31.12.08]
Não sei porquê os argumentistas da novela resolveram cair na asneira de mostrar Hoshi numa festa de Fim de Ano com os pais sem saberem rigorosamente nada acerca do Ano Novo japonês.
O Ano Novo é simplesmente a época festiva mais importante no Japão e tem uma série de rituais que a grande maioria dos japoneses seguem à risca. Tudo começa na véspera com a oo-souji (a grande limpeza) onde as famílias limpam a casa para acolher o novo ano. Depois existem uma série de rituais tais como comida específica, que em geral é fria, tal como o sushi ou mochi (pasta de arroz em bolas), para poder ser cozinhada antecipadamente e não dar trabalho na altura em que as pessoas estão mais ocupadas com outros afazeres. No Japão a noite passa-se em família para depois se ir ao templo (em geral em kimono) fazer votos de bom ano e rezar. As casas são decoradas com altares com kadomatsu e ou kagami-mochi, símbolos de longevidade e prosperidade. No dia um é suposto dar sorte enviar os nengajou (postais de Ano Novo) e cada pessoa envia e recebe bastantes. Para saber mais sugiro uma vista de olhos pela Wikipedia.
Ora para além dos pais de Hoshi parecerem ainda mais chineses do que ela (e que roupas mais pirosas tinha a mãe dela!) não se vislumbrou uma migalha de comida japonesa e muito menos da decoração! Para além disso os pais dela foram demasiado carinhosos e despediram-se dela com beijinhos à portuguesa. Os japoneses são mais distantes no que se refere a manifestações de carinho e é muito raro assistir a esse tipo de comportamentos em público. Também é algo estranho a Hoshi achar o Fim de Ano aborrecido, quendo se trata de uma festividade bem rica e exótica para mostrar à amiga, que segue as tradições espanholas (mas tão internacionais que nós estamos!).
Mais valia terem ficado quietos, pois a introdução do ambiente familiar de Hoshi era totalmente desnecessária, criou contradições no perfil da personagem e não adiantou rigorosamente nada à história. Se era para fazerem uma coisa do género era melhor que tivessem um bom motivo e fizessem a pesquisa como deve ser, pois de todos os povos que poderiam ser escolhidos para mostrar no Ano Novo, os japoneses são dos que mais particularidades têm!
10. O Evento Japonês [01.04.09]
Esta semana o grupinho da Hoshi organizou uma apresentação/evento acerca do Japão como trabalho de história. Era o que eu mais temia!!!! Já o Ano Novo foi o que foi, depois disso não pensei que se fossem aventurar (e tão mal) pelos terrenos-perigosos-que-implicam-pesquisa da cultura nipónica.
Vamos por partes (como diz o homem do talho):
Os kimonos eram tão maus, tão maus, tão maus que até os das lojas de carnaval parecem originais ao pé deles.
A maquilhagem das meninas (e nem vou mencionar os trajes dos rapazes, senão nunca mais daqui saio) era exagerada, um cliché mal feito e preconceituosa, dos cabelos nem se fala!
Na comida apresentada não reconheci nada de japonês excepto um sushi, logo de lula e polvo, que são as variantes menos comuns e não são verdadeiramente cruas. Sei que não sou especialista na matéria, mas gosto de pensar que conheço um pouco mais que a maioria, e, que eu saiba, cartilagem de galinha frita NÃO É uma iguaria japonesa! Pelo menos nunca de tal ouvi falar... aliás os japoneses comem praticamente as mesmas coisas que nós, fora os lacticínios e alguns animais como coelho ou patos brancos, não existem ingredientes esquisitos como cão, insectos e afins na dieta japonesa.
A demonstração de sumo foi uma fantochada...
Ah! Havia uma bandeira japonesa!
Em conclusão, mais valia terem perdido algumas semanas e pedido um apoio à Embaixada do Japão. Eles têm montes de material para situações semelhantes e com certeza não desperdiçariam a oportunidade de divulgar a cultura japonesa num novela juvenil com alguma popularidade. Aliás, acredito que muito fã de anime com menos de 18 anos saiba mais que quem "montou" aquele estaminé!

Para já são estas as razões, se aparecerem mais, vou simplesmente actualizar este post, porque não me apetece estar a fazer mais que um post sobre isto e com quase toda a certeza que vão aparecer mais...

Rebelde Way

2 zappings:

ナヂア disse...

Concordo perfeitamente consigo eu sou uma grande fã de anime e mal vi a hoshi percebi ke ela de japonesa não tem nada mas sim chinesa alem ke a cor de pele dos japoneses é mais escura e a pele de hoshi é branca. Alem que a cultura japonesa é muito rica em festivais e alem disso todos os japoneses vêm anime até idosos e na novela nem seker falaram nisso e a hoshi se fosse japonesa tenho a certeza que a veriamos a ler uma manga ou a ver anime na internet os japoneses até no comboio leem manga, nem seker se vê ela a ouvir J music como a rainha do Jpop Hamasaki Ayumi ou Namie amuro ke são realmente muito famosas no japão. Até eu ke não percebo muito da cultura japonesa intrepretava melhor que ela bastava no principio dizer:わたしわほしでそ ou seja eu sou a hoshi!

Misato disse...

obrigada ナヂア!

só um pequeno reparo: nem todos os japoneses vêm anime ou lêem manga. a grande diferença do Japão em relação a Portugal é que eles como têm muito maior quantidade de anime na televisão e a manga se vende por toda a parte, como jornais, são coisas que fazem parte do dia-a-dia e talvez haja menos preconceito do que por cá.

mas ナヂア, acredita em mim, também existe preconceito com a manga e anime no Japão e não é assim tão fácil encontrar um fã hardcore que leia manga todos os dias ou siga uma que seja série de anime regularmente ou até mesmo que reconheça personagens para além do Doraemon ou do Detective Conan.

no Japão como cá, as pessoas têm todo o tipo de gostos e hábitos, sendo o anime apenas um dos aspectos da cultura pop japonesa.

e sim é realmente uma pena não terem pegado nisso (anime, manga, J-Pop) para caracterizar a japonesa, fizeram da Hoshi um cliché do japonês dos anos 80, que só pensa em tecnologia e em ser um "overachiever"... quem caracterizou a Hoshi é uma pessoa preguiçosa, mal informada e, pior de tudo, antiquada e muito pouco actualizada... mais valia terem ficado quietos!

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