Carolina e os homens é o título de um telefilme português pertencente a uma série (Amores Desamores) de contos de Mário de Carvalho adaptados para a RTP1.
Por razões que não interessam aqui, tive acesso ao argumento desta história e, quando vi que ia dar, tive a reacção de sempre quando tenho algum conhecimento de "dentro" de uma obra a passar ao público: um misto de curiosidade em ver o resultado final e de orgulho por ter tido a possibilidade de acompanhar parte do processo criativo.
Os argumentos para cinema e televisão são objectos pragmáticos, com uma escrita objectiva, são ferramentas de trabalho acima de tudo. Portanto o espaço deixado à imaginação do leitor é o espaço deixado à criatividade de quem produz e realiza o dito argumento.
Ao ler o argumento original, sempre pensei que a história tinha um bom potencial televisivo pois sempre a encarei como uma espécie de comédia negra em que a Carolina do título é uma psicopata no que diz respeito às suas relações amorosas e o Vicente, seu amante/namorado é um tipo numa crise de meia-idade com uma grande falta de iniciativa. Pena foi a realização mais-ou-menos com um forte aroma àquele cinema português de que toda a gente diz mal...
Houve algumas alterações ao argumento que li, infelizmente uma estrutura narrativa menos linear não foi mantida e confesso que aqui sou parcial: se me derem a escolher eu vou sempre para o não-linear, que faz com que o espectador faça uma ginástica mental maior, mas que também enriquece a narrativa. Também não vi a necessidade de mostrar a parte onde Vicente conhece Carolina. Basta ler um manual de escrita de argumento ou realização para ler que se deve começar a acção sempre o mais tarde possível. Mas estas alterações não são graves, eu é que preferia a história como a li.
Os actores foram muito bem escolhidos: Virgílio Castelo é um óptimo actor e tem uma excelente ginástica e presença televisiva. A rapariga, Anabela Moreira, surpreendeu-me pela positiva, tem boa presença e não foi excessiva, como muitas vezes acontece com jovens actrizes, muito bonitinhas e a iniciar carreira.
O que gostei menos foi mesmo a realização e a banda sonora muito pouco interessante. A realização é sem graça, com algumas, tímidas, tentativas para ser mais moderna mas que não funcionaram. Há demasiadas pausas silênciosas, daquelas mesmo à "cinema português", e as cenas de ligação são demasiado extensas e pouco dinâmicas. Não houve aposta no lado de comédia (negra), o que poderia ter enriquecido imensamente o filme.
A banda sonora se, em vez das pianadas melancólicas à "cinema português", tivesse apostado em Jazz e músicas mais mexidas tinha ajudado, e bastante, a enriquecer o filme e a dar o tal tom de comédia negra, foi pena.
Mais uma nota em relação ao guarda-roupa: foi também pena que uma rapariga tão bonita como é a Anabela Moreira ter sido vestida com uma roupa tão sem graça, só a lingerie escapou, essa sim era sexy-sweet1, o que ficava a matar à personagem! Nas roupas de exteriores deviam ter apostado num visual mais moderno e não numas roupinhas que pareciam saidinhas directamente do mais triste que se fez nos anos 80... ficariam fantásticas umas saias rodadas, tipo Prada, como se usam agora, e umas blusinhas diáfanas. Serviam a personagem que ficava sexy e moderna mas muito feminina e doce. Em relação à personagem de Virgílio Castelo: não percebi o shopping spree2 que ele fez, a única justificação é a de um product placement3. Afinal no "antes" e no "depois" a diferença era pouca ou quase nenhuma.
PS - afinal não foi desta, Júlio Carp.
http://195.245.179.232/EPG/tv/epg-janela.php?p_id=18936&e_id=3&c_id=1
Amores Desamores
RTP1
5ª, 23:30
1. sexy e doce
2. ida às compras
3. colocação de produtos em écran com fins de publicidade
Há 9 anos
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