Ultimamente, quando morre alguém famoso, parece que não querem ir sózinhos...
Vasco Gonçalves foi uma pessoa que, tal foi o seu protagonismo na vida pública no pós-25 de Abril, marcou muito a criança que eu era. Tinha dele uma imagem de um homem alto, duro mas ao mesmo tempo simpático e acessível. Tive o privilégio de me cruzar com ele nessa época e de ter um desenho meu autografado por ele.
Álvaro Cunhal marcou muito mais gente ainda, foi uma grande figura da política nacional quando ainda havia distinções claras entre correntes políticas e tudo era muito preto no branco (tal como as suas sobrancelhas). Retirou-se quando as sobrancelhas já estavam grisalhas mas nunca deixou de ser um homem extremamente inteligente e amante das artes. É notável que tenha produzido tanto em condições tão precárias como as que teve quando esteve preso.
O poeta foi Eugénio de Andrade, também merece a minha homenagem apesar do pouco conhecimento que tenho da sua obra (sim, sou uma desnaturada, mesmo!). Mas, apesar de ser sempre triste a morte de um artista, dos artistas fica sempre o que eles têm de melhor: a sua obra e essa fica para sempre na memória de quem gosta dela. Deixo aqui um poema dele que me mandaram recentemente por mail:
O Sorriso
Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso
correr, navegar, morrer naquele sorriso.
Eugénio de Andrade
in O Outro Nome Da Terra
Felizmente que destes três ficaram muitas memórias tanto em registo (televisivo, livros, edições, etc.) como nas pessoas que de alguma forma foram tocadas por eles. A mim dá-me sempre imenso gozo em ver as imagens dos anos 70, em que todos eram amigos e de ver essas personalidades com um ar empenhado a seguir as suas convicções e os seus sonhos.
Há 9 anos
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